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ANÁLISE
Serra virou refém de acordo com o FMI
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Indexada ao governo, a candidatura do tucano José Serra à Presidência da República virou refém
do acordo em negociação com o
FMI (Fundo Monetário Internacional): a crise do dólar ameaça o
paradigma da campanha, que é a
manutenção da estabilidade.
Não é à toa que Serra e outros
tucanos de alta plumagem saíram
em defesa aberta do acordo com o
FMI. Com o dólar rompendo a
barreira dos R$ 3, o núcleo do discurso do governo trincou. Em vez
de acusar a oposição de ser incapaz de gerenciar a crise, pode vir a
ser acusado de ser ele próprio responsável.
Provocados, os tucanos disfarçam. Dizem que não é a candidatura que está refém do acordo,
mas o país. A governo teria bala
na agulha para baixar o dólar.
Mas a mudança na estratégia de
Serra é visível.
É de justiça reconhecer que, entre o final de março e o início de
abril, Serra pressentiu o perigo.
Aos assessores mais íntimos ele
disse que o candidato da Frente
Trabalhista (PPS, PDT e PTB), Ciro Gomes, era o risco. Mas foi
convencido da deixar o candidato
do PPS fora da linha de fogo para
"não dar escada" para Ciro subir,
na linguagem dos marqueteiros.
"Colar"
Simultaneamente, Serra era
aconselhado a "colar" sua candidatura no presidente Fernando
Henrique Cardoso para se tornar
o beneficiário do índice de aprovação de FHC, que já esteve na faixa dos 30%, mas agora está em
25%, segundo apuração do Datafolha, anteontem.
No comando da campanha, havia quem pensasse de forma diferente, mas venceu a linha da indexação total da candidatura ao governo. O discurso da mudança virá a seguir, no horário eleitoral
gratuito de rádio e TV.
Até lá, muda também o inimigo
prioritário. Antes, Serra evitava
"dar escada" a Ciro e tentava polarizar com o candidato petista à
Presidência da República, Luiz
Inácio Lula da Silva. Agora, as baterias tucanas estão todas assestadas na direção de Ciro Gomes. O
governo, que antes era acusado de
"satanizar" o PT, agora acusa Ciro
de satanizá-lo.
Exagero
Isso ocorreria quando Ciro exageraria os erros do governo, diz
que a dívida é dez vezes maior ao
que ela é efetivamente e propõe
acabar com as CC-5. Com esse
discurso, Serra e os tucanos de um
modo geral tentarão convencer o
eleitor de que Ciro é o responsável
direto pela crise.
Espera contar com a cumplicidade do PT, que preferiria enfrentar Serra a Ciro Gomes no segundo turno da eleição. Pode ser. Mas
o dólar a R$ 3,6 deu novo fôlego à
linha dura da candidatura Serra,
que prefere maior distância do
governo e o ataque frontal às posições de Ciro no Ceará, onde o
candidato do PPS tem a proteção
tucana de Tasso Jereissati.
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