São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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ANÁLISE

Serra virou refém de acordo com o FMI

RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Indexada ao governo, a candidatura do tucano José Serra à Presidência da República virou refém do acordo em negociação com o FMI (Fundo Monetário Internacional): a crise do dólar ameaça o paradigma da campanha, que é a manutenção da estabilidade.
Não é à toa que Serra e outros tucanos de alta plumagem saíram em defesa aberta do acordo com o FMI. Com o dólar rompendo a barreira dos R$ 3, o núcleo do discurso do governo trincou. Em vez de acusar a oposição de ser incapaz de gerenciar a crise, pode vir a ser acusado de ser ele próprio responsável.
Provocados, os tucanos disfarçam. Dizem que não é a candidatura que está refém do acordo, mas o país. A governo teria bala na agulha para baixar o dólar. Mas a mudança na estratégia de Serra é visível.
É de justiça reconhecer que, entre o final de março e o início de abril, Serra pressentiu o perigo. Aos assessores mais íntimos ele disse que o candidato da Frente Trabalhista (PPS, PDT e PTB), Ciro Gomes, era o risco. Mas foi convencido da deixar o candidato do PPS fora da linha de fogo para "não dar escada" para Ciro subir, na linguagem dos marqueteiros.

"Colar"
Simultaneamente, Serra era aconselhado a "colar" sua candidatura no presidente Fernando Henrique Cardoso para se tornar o beneficiário do índice de aprovação de FHC, que já esteve na faixa dos 30%, mas agora está em 25%, segundo apuração do Datafolha, anteontem.
No comando da campanha, havia quem pensasse de forma diferente, mas venceu a linha da indexação total da candidatura ao governo. O discurso da mudança virá a seguir, no horário eleitoral gratuito de rádio e TV.
Até lá, muda também o inimigo prioritário. Antes, Serra evitava "dar escada" a Ciro e tentava polarizar com o candidato petista à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Agora, as baterias tucanas estão todas assestadas na direção de Ciro Gomes. O governo, que antes era acusado de "satanizar" o PT, agora acusa Ciro de satanizá-lo.

Exagero
Isso ocorreria quando Ciro exageraria os erros do governo, diz que a dívida é dez vezes maior ao que ela é efetivamente e propõe acabar com as CC-5. Com esse discurso, Serra e os tucanos de um modo geral tentarão convencer o eleitor de que Ciro é o responsável direto pela crise.
Espera contar com a cumplicidade do PT, que preferiria enfrentar Serra a Ciro Gomes no segundo turno da eleição. Pode ser. Mas o dólar a R$ 3,6 deu novo fôlego à linha dura da candidatura Serra, que prefere maior distância do governo e o ataque frontal às posições de Ciro no Ceará, onde o candidato do PPS tem a proteção tucana de Tasso Jereissati.


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