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TRANSIÇÃO NO ESCURO
Assessor econômico de Lula diz que cabe ao presidente convocar a oposição; Ciro afirma que se dispõe a conversar
PT admite discutir com FHC acordo com FMI
ANDRÉ SOLIANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BAURU
Os candidatos à Presidência
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e
Ciro Gomes (PPS) aceitam discutir com o presidente Fernando
Henrique Cardoso soluções para
a crise econômica do país.
Guido Mantega, um dos principais assessores econômicos do
PT, disse em Londres que Lula
pode até mesmo acertar com o
presidente seu apoio a um possível acordo entre o Brasil e o FMI,
mas seria preciso antes saber
quais seriam os termos exatos das
negociações com o Fundo. "Se o
governo achar necessário fazer
um acordo com o FMI que envolva os candidatos cabe a ele, a partir do presidente da República,
convocar oficialmente os partidos
e dizer do que se trata", afirmou.
Ele disse ainda que o partido
poderá negociar com o atual governo um programa conjunto para tentar aplacar a crise caso FHC
convide Lula para um encontro.
"As portas estão abertas, cabe
ao governo, se ele achar necessário, convidar o meu candidato
[Lula"", disse Mantega, durante
uma coletiva de imprensa organizada pelo Deutsche Bank de Londres, depois de reunião com investidores estrangeiros.
Embora esteja disposto a sentar
à mesa para negociar com o atual
governo um programa de socorro
do Fundo, Mantega voltou a insistir que acha prematura a decisão
de pedir dinheiro à instituição.
Para Mantega, o preço que um
país paga ao assinar um acordo
com o FMI é muito elevado. No
entanto, não descartou a possibilidade do PT precisar ir a Washington pedir dinheiro ao Fundo
caso ganhe as eleições. Admitiu
que o próximo governo vai assumir num momento delicado.
"Nós primeiro faremos um esforço para não precisarmos do
FMI, porque eles costumam ter
um preço elevado. Mas em caso
de extrema necessidade não está
excluída a possibilidade de pedirmos nossos direitos de saques e
empréstimos junto ao Fundo."
Questionado se atual disparada
do dólar não criava uma situação
de extrema fragilidade que justificava a ida ao FMI, Mantega afirmou que sua principal preocupação são os níveis das reservas internacionais, que para ele ainda
estão em patamares sustentáveis.
Para ele, a alta do dólar pode até
ajudar a proteger as reservas internacionais do país, pois torna
mais caro a decisão de tirar recursos do Brasil.
Otimista, ele disse que a disparada da moeda americana pode
ser apenas um evento passageiro
provocado por um mercado extremamente nervoso com a situação da economia norte-americana e da crise argentina. "A situação não é resultado de um ataque
especulativo. Há uma crise mundial de confiança."
Mantega viajou ontem para
Frankfurt, onde continuará a se
encontrar com investidores estrangeiros hoje. Mantega embarca para o Brasil hoje à noite.
"Catapora"
"A única coisa que pega é catapora. Conversar não faz mal nenhum", disse Ciro em Bauru (SP),
ao afirmar que se dispõe a discutir
com FHC soluções para a crise:
"Estou disposto a colaborar no
que estiver ao meu alcance. Minha função, como candidato de
oposição não é só criticar e sim
propor alternativas".
No entanto, Ciro ressaltou que
não assinará nenhum acordo prévio com o FMI. Fazer isso, diz ele,
é contrariar a expectativa dos seus
eleitores, que esperam mudanças
no atual modelo econômico.
Além disso, para ele, assinar esse tipo de documento na atual circunstância equivale a ter sido
"domado" pelo governo e pelo
mercado e pelo FMI.
"Domesticar a mim, não. Uma
carta daquelas que meu amigo
Lula foi obrigado a assinar ["Carta ao Povo Brasileiro"", eu serro o
braço e não entrego. Serro, digo,
no bom sentido", disse fazendo
um trocadilho com o nome de José Serra (PSDB). Na carta, Lula
promete cumprir os contratos firmados pelo país.
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