São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO NO ESCURO

Assessor econômico de Lula diz que cabe ao presidente convocar a oposição; Ciro afirma que se dispõe a conversar

PT admite discutir com FHC acordo com FMI

ANDRÉ SOLIANI
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

GABRIELA ATHIAS
ENVIADA ESPECIAL A BAURU

Os candidatos à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS) aceitam discutir com o presidente Fernando Henrique Cardoso soluções para a crise econômica do país.
Guido Mantega, um dos principais assessores econômicos do PT, disse em Londres que Lula pode até mesmo acertar com o presidente seu apoio a um possível acordo entre o Brasil e o FMI, mas seria preciso antes saber quais seriam os termos exatos das negociações com o Fundo. "Se o governo achar necessário fazer um acordo com o FMI que envolva os candidatos cabe a ele, a partir do presidente da República, convocar oficialmente os partidos e dizer do que se trata", afirmou.
Ele disse ainda que o partido poderá negociar com o atual governo um programa conjunto para tentar aplacar a crise caso FHC convide Lula para um encontro.
"As portas estão abertas, cabe ao governo, se ele achar necessário, convidar o meu candidato [Lula"", disse Mantega, durante uma coletiva de imprensa organizada pelo Deutsche Bank de Londres, depois de reunião com investidores estrangeiros.
Embora esteja disposto a sentar à mesa para negociar com o atual governo um programa de socorro do Fundo, Mantega voltou a insistir que acha prematura a decisão de pedir dinheiro à instituição.
Para Mantega, o preço que um país paga ao assinar um acordo com o FMI é muito elevado. No entanto, não descartou a possibilidade do PT precisar ir a Washington pedir dinheiro ao Fundo caso ganhe as eleições. Admitiu que o próximo governo vai assumir num momento delicado.
"Nós primeiro faremos um esforço para não precisarmos do FMI, porque eles costumam ter um preço elevado. Mas em caso de extrema necessidade não está excluída a possibilidade de pedirmos nossos direitos de saques e empréstimos junto ao Fundo."
Questionado se atual disparada do dólar não criava uma situação de extrema fragilidade que justificava a ida ao FMI, Mantega afirmou que sua principal preocupação são os níveis das reservas internacionais, que para ele ainda estão em patamares sustentáveis. Para ele, a alta do dólar pode até ajudar a proteger as reservas internacionais do país, pois torna mais caro a decisão de tirar recursos do Brasil.
Otimista, ele disse que a disparada da moeda americana pode ser apenas um evento passageiro provocado por um mercado extremamente nervoso com a situação da economia norte-americana e da crise argentina. "A situação não é resultado de um ataque especulativo. Há uma crise mundial de confiança."
Mantega viajou ontem para Frankfurt, onde continuará a se encontrar com investidores estrangeiros hoje. Mantega embarca para o Brasil hoje à noite.

"Catapora"
"A única coisa que pega é catapora. Conversar não faz mal nenhum", disse Ciro em Bauru (SP), ao afirmar que se dispõe a discutir com FHC soluções para a crise: "Estou disposto a colaborar no que estiver ao meu alcance. Minha função, como candidato de oposição não é só criticar e sim propor alternativas".
No entanto, Ciro ressaltou que não assinará nenhum acordo prévio com o FMI. Fazer isso, diz ele, é contrariar a expectativa dos seus eleitores, que esperam mudanças no atual modelo econômico.
Além disso, para ele, assinar esse tipo de documento na atual circunstância equivale a ter sido "domado" pelo governo e pelo mercado e pelo FMI.
"Domesticar a mim, não. Uma carta daquelas que meu amigo Lula foi obrigado a assinar ["Carta ao Povo Brasileiro"", eu serro o braço e não entrego. Serro, digo, no bom sentido", disse fazendo um trocadilho com o nome de José Serra (PSDB). Na carta, Lula promete cumprir os contratos firmados pelo país.


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