São Paulo, quinta-feira, 01 de agosto de 2002

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TRANSIÇÃO NO ESCURO

Presidente desconsidera ter seu final de mandato inviabilizado e diz que democracia brasileira resiste a crises

FHC rejeita hipótese de "alfonsinização"

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso rejeita qualquer possibilidade de "alfonsinização" -a antecipação da transmissão de posse ao sucessor que será eleito em outubro.
Perante interlocutores, FHC reagiu com contrariedade à reportagem da Folha de ontem na qual o vice-presidente nacional do PPS, o deputado federal João Herrmann (SP), afirmou ter dito ao presidente em encontro na segunda-feira que, devido à gravidade da crise econômica, havia risco de repetição do que aconteceu na Argentina em 1989.
Naquele ano, o então presidente Raúl Alfonsín, eleito em 1983, foi obrigado a antecipar a entrega da faixa presidencial a Carlos Menem porque o país tornara-se ingovernável por causa da crise econômica.
Segundo a Folha apurou, o presidente FHC julgou Herrmann deselegante por ter tornado pública uma conversa que ele, presidente, considerou de menor importância, por considerar absurda a hipótese de "alfonsinização".
"Há claramente essa hipótese no Brasil", disse Herrmann ontem à Folha, ao comentar sua conversa com FHC, à margem do almoço oferecido ao presidente de Timor Leste, Xanana Gusmão, no Palácio da Alvorada.
Na ocasião, Herrmann transmitiu uma espécie de recado da candidatura Ciro Gomes: o presidente tem de conduzir democraticamente a transição, sob pena de perder o respeito da oposição.
O presidente está ciente da gravidade da atual crise econômica. Gripado, tem demonstrado abatimento com a disparada do dólar e a dificuldade de fechar logo novo acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional).

Democracia
No entanto, FHC diz em conversas reservadas que a democracia brasileira já deu provas de que resiste a crises econômicas. Como exemplo, cita que nem José Sarney, presidente de 1985 a 1990, foi obrigado a antecipar a transmissão do cargo ao sucessor, apesar de o país ter sofrido à época uma processo de hiperinflação.
Para o presidente, aventar a possibilidade de "alfonsinização" é uma forma de alimentar especulações sobre um passado de quebra institucional que ele acredita superado. Além do controle da inflação, FHC costuma dizer que a normalidade institucional de seus oito anos de poder será um dos seus principais legados.
Os próprios adversários reconhecem em FHC um mérito: nunca alimentou crises institucionais, ainda que pagando o preço de ter sido tachado de tolerante demais em relação às críticas de adversários e até de alguns aliados.
Para o presidente, ao fechar o acordo com o FMI, o que deverá acontecer logo, a turbulência econômica atual se acalmará e o dólar voltará a um patamar inferior a R$ 3.
FHC não pretende tomar nenhuma atitude nova em relação à transição para o novo governo. Já deu orientação ao ministro da Casa Civil, Pedro Parente, para que crie 51 cargos de confiança na administração federal destinados a pessoas indicadas pelo sucessor.
Os ocupantes desses cargos poderão ser indicados após a eleição do novo presidente, em outubro. Assim, receberão informações de todos os ministérios e poderão, antes da transmissão de posse de 1º de janeiro de 2003, preparar as primeiras medidas do novo governo. (KENNEDY ALENCAR)



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