São Paulo, domingo, 01 de agosto de 2004

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ALTA ESPIONAGEM

Estratégia da empresa foi "queimar" o português para preservar o agente inglês, segundo a investigação da Polícia Federal

Kroll deixa espião ir "para o sacrifício", diz PF

IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dias após a divulgação de que a Kroll Associates espionava membros do governo federal, a empresa combinou com Tiago Verdial, seu representante no Rio de Janeiro, que ele deveria manter a discrição e não fugir, segundo as investigações feitas pela Polícia Federal.
Já seu chefe, William Goodall, precisava "sumir". A estratégia da Kroll era deixar Verdial ir para o "sacrifício". A Polícia Federal acabou por prendê-lo dias depois.
A Kroll traçou a estratégia por meio de um relatório por e-mail para Verdial. Nas instruções, o escritório da empresa em Londres diz que ele deveria se comportar normalmente, pois seu desaparecimento justificaria uma batida da PF "na calada da noite". Segundo a legislação brasileira, o lar é inviolável durante a noite, ou seja, a polícia não pode entrar em residências das 18h às 6h.
Foram dadas por telefone as orientações a Goodall, agente aposentado do serviço secreto britânico, por um superior hierárquico seu em Londres. Na conversa, os dois concordam em deixar Verdial para a PF. Os passos do representante da empresa no Rio continuaram sendo monitorados de perto pela Kroll.
As circunstâncias da prisão de Verdial no Rio dão mostras disso. Segundo a Folha apurou, antes mesmo de Verdial utilizar o direito de dar um telefonema -foi detido no Rio, levado para o hangar da PF e de lá transferido para Brasília-, já haviam sido mobilizados três advogados para representá-lo. O trio já esperava por Verdial na superintendência da PF no Distrito Federal quando ele chegou algemado ao prédio.
A Folha não conseguiu contato com a assessoria de imprensa da Kroll no início da noite de ontem para falar sobre o assunto. Em todos os comunicados divulgados até agora, a empresa diz que não pratica espionagem e que está à disposição das autoridades brasileiras para esclarecer o caso.
Advogado de Verdial, Roberto Soares Garcia também não foi localizado para comentar as orientações da empresa. Anteontem, Soares Garcia disse à Folha que não tinha acesso ao inquérito.
No dia 22, a Folha publicou reportagem mostrando que ao investigar a Telecom Italia a pedido da Brasil Telecom a Kroll Associates monitorou os passos de atuais membros do governo federal, como o ministro Luiz Gushiken (Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência), e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb.
A atuação da Kroll no mundo das teles chegou ao conhecimento da PF em março deste ano, em meio às investigações sobre possíveis ligações entre a Telecom Itália e a Parmalat. A fábrica de laticínios pedira concordata, e os policiais buscavam indícios de irregularidades praticadas pela empresa.
No entanto, somente em 16 de julho, quando a Telecom Italia enviou aos delegados federais Getúlio Bezerra e Emmanuel Balduíno de Oliveira cópias de relatórios reservados da Kroll, houve conhecimento de que a empresa também estaria atuando no âmbito da administração pública.
Em março deste ano, com autorização da 5ª Vara da Justiça Federal em São Paulo, na qual tramita o inquérito relacionado à Parmalat, a PF grampeou uma conversa entre um motorista da empresa e um investigador da Kroll. Surgiu daí a informação sobre a existência da investigação paralela no meio das teles, batizada de Projeto Tóquio.
A PF encontrou a chave de um cofre do Citibank na casa de Anne Marie Verdial, mãe de Tiago, onde realizou busca e apreensão anteontem. Ao verificarem o conteúdo, os policiais encontraram-no vazio. As buscas realizadas na residência da mãe e do pai de Tiago, que mora no Rio, nada adicionaram às investigações. A PF suspeita que os locais foram "limpos" previamente.


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