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Militares vêem "revanchismo" de esquerda
Nos bastidores, oficiais contestam discussão sobre tortura e dizem que Exército leva sozinho a culpa pelos erros da ditadura
Defesa e Forças Armadas não foram convidadas para audiência promovida pelo governo e apenas souberam do debate por meio da mídia
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Oficiais manifestaram
apreensão e fizeram uma espécie de "prontidão informal", até
o início da noite de ontem, no
Quartel General do Exército,
para esperar o desfecho da audiência pública patrocinada pelo Ministério da Justiça para
eliminar os efeitos da Lei de
Anistia sobre os acusados de
tortura no regime militar.
A Defesa e as Forças Armadas não foram convidadas e,
conforme a Folha apurou, souberam pela imprensa da audiência pública.
O Exército vê a iniciativa
com desconfiança, mas a decisão é não aparentar defesa de
torturador, colher o máximo de
informações e não reagir, nem
institucional nem individualmente. Havia a expectativa de
que a reunião da Justiça produzisse uma "Carta de Brasília", o
que não se confirmou.
Nas discussões internas dos
militares, os comentários são
mais ácidos contra o que oficiais chamam de "revanchismo" da esquerda oriunda da luta armada e que hoje tem importantes representantes no
governo de Luiz Inácio Lula da
Silva, principalmente do PT.
Nos comentários externos, porém, o tom é mais diplomático.
A orientação do Comando do
Exército é a de "lembrar" que o
objetivo da Lei de Anistia foi o
de "conciliar e pacificar a sociedade brasileira" e que, quando
o próprio governo fala em revisão, compromete esse objetivo.
O recado é que, se há "radicais" do lado esquerdista do governo, também há no lado militar. Na ativa, ninguém irá se
manifestar publicamente contra a reunião, nem contra a tentativa de mudar a lei. O pessoal
da reserva, porém, age com desenvoltura e tem tido intensa
participação via internet, com
blogs e e-mails.
A comparação mais comum
no Exército é que os "esquerdistas" do governo discutem
acabar com a anistia para torturadores, mas pagam indenizações milionárias para os militantes de partidos clandestinos responsáveis por sequestros, assaltos a bancos e bombas. Esse contraste pode gerar
"ódio" dos dois lados.
"Para que cutucar?", perguntou um oficial de quatro estrelas (posto máximo da carreira),
reclamando, também, que não
se fala em Marinha e Aeronáutica, jogando todo o peso dos
erros do regime militar para as
costas do Exército.
Oficial
Procurado ontem por meio
de sua assessoria, o Ministério
da Defesa não quis comentar as
declarações dos ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vanucchi (Direitos Humanos) durante a audiência de ontem. A
pasta atua como uma espécie
de coordenadora política das
Forças Armadas (Marinha,
Exército e Aeronáutica).
Nos últimos dias, a posição
oficial dos militares sobre a realização da audiência tem sido
de cautela. Procurado pela Folha anteontem, o Exército também preferiu não comentar o
fato de não ter sido convidado
para a audiência.
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