São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Militares vêem "revanchismo" de esquerda

Nos bastidores, oficiais contestam discussão sobre tortura e dizem que Exército leva sozinho a culpa pelos erros da ditadura

Defesa e Forças Armadas não foram convidadas para audiência promovida pelo governo e apenas souberam do debate por meio da mídia

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Oficiais manifestaram apreensão e fizeram uma espécie de "prontidão informal", até o início da noite de ontem, no Quartel General do Exército, para esperar o desfecho da audiência pública patrocinada pelo Ministério da Justiça para eliminar os efeitos da Lei de Anistia sobre os acusados de tortura no regime militar.
A Defesa e as Forças Armadas não foram convidadas e, conforme a Folha apurou, souberam pela imprensa da audiência pública.
O Exército vê a iniciativa com desconfiança, mas a decisão é não aparentar defesa de torturador, colher o máximo de informações e não reagir, nem institucional nem individualmente. Havia a expectativa de que a reunião da Justiça produzisse uma "Carta de Brasília", o que não se confirmou.
Nas discussões internas dos militares, os comentários são mais ácidos contra o que oficiais chamam de "revanchismo" da esquerda oriunda da luta armada e que hoje tem importantes representantes no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, principalmente do PT. Nos comentários externos, porém, o tom é mais diplomático.
A orientação do Comando do Exército é a de "lembrar" que o objetivo da Lei de Anistia foi o de "conciliar e pacificar a sociedade brasileira" e que, quando o próprio governo fala em revisão, compromete esse objetivo.
O recado é que, se há "radicais" do lado esquerdista do governo, também há no lado militar. Na ativa, ninguém irá se manifestar publicamente contra a reunião, nem contra a tentativa de mudar a lei. O pessoal da reserva, porém, age com desenvoltura e tem tido intensa participação via internet, com blogs e e-mails.
A comparação mais comum no Exército é que os "esquerdistas" do governo discutem acabar com a anistia para torturadores, mas pagam indenizações milionárias para os militantes de partidos clandestinos responsáveis por sequestros, assaltos a bancos e bombas. Esse contraste pode gerar "ódio" dos dois lados.
"Para que cutucar?", perguntou um oficial de quatro estrelas (posto máximo da carreira), reclamando, também, que não se fala em Marinha e Aeronáutica, jogando todo o peso dos erros do regime militar para as costas do Exército.

Oficial
Procurado ontem por meio de sua assessoria, o Ministério da Defesa não quis comentar as declarações dos ministros Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vanucchi (Direitos Humanos) durante a audiência de ontem. A pasta atua como uma espécie de coordenadora política das Forças Armadas (Marinha, Exército e Aeronáutica).
Nos últimos dias, a posição oficial dos militares sobre a realização da audiência tem sido de cautela. Procurado pela Folha anteontem, o Exército também preferiu não comentar o fato de não ter sido convidado para a audiência.


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