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Polícia investiga empresa-chave no esquema de lavagem do Opportunity
Recursos aplicados ilegalmente no exterior voltaram ao país via Forpart, diz PF
ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Na teia de empresas criada
com a chancela do banqueiro
Daniel Dantas, uma delas desempenhava papel essencial no
esquema de lavagem de dinheiro montado pelo grupo Opportunity, investiga a Polícia Federal. Por meio da Forpart S/A,
dizem os investigadores, retornaram ao país parte dos recursos aplicados ilegalmente por
brasileiros no Opportunity
Fund, nas ilhas Cayman.
Até 2005, a empresa tinha
como um dos sócios o Opportunity Fund, então dono de 66%
das ações. E foi no período em
que era capitalizada pelo fundo
sediado no paraíso fiscal que a
Forpart investiu pesado em
ações de empresas de telefonia
e energia recém-privatizadas,
segundo levantamento da Folha na Bovespa. No fim dos
anos 90, a Forpart ganhou fatias do sistema Telebrás.
À época, fazia parte dos consórcios que arremataram Telet
e Americel, que hoje representam a Claro no Rio Grande do
Sul e no Norte e no Centro-Oeste, respectivamente.
A empresa também abocanhou a CEM (Centrais Elétricas da Mantiqueira), com sede
em Belo Horizonte, e assumiu
o controle do Esporte Clube
Bahia -que, em 2003, foi rebaixado à segunda divisão do
futebol brasileiro. Teve ações
de gigantes como Telemig, Embratel e Brasil Telecom.
De 1998 a 2000, Daniel Dantas estava entre os administradores da Forpart, numa de suas
raras aparições nos documentos de empresas do grupo. Desde aquele período, a empresa é
comandada por sua irmã, Verônica. Ao lado dela, outros cinco
investigados na Operação Satiagraha se revezaram no conselho de administração.
Desde que foi deflagrada a
Satiagraha, o Opportunity nega
acusações da PF de lavagem.
Diz que brasileiros nunca aplicaram no fundo e que a lista do
inquérito da operação é de investidores domésticos.
O mesmo vale para a Forpart, diz o banco. Segundo a assessoria do Opportunity, a empresa "cumpriu todas as demais obrigações perante o Banco Central e a CVM [Comissão
de Valores Mobiliários, órgão
que regula o mercado de capitais]" e atua legalmente.
No inquérito, a PF afirma
que o esquema de lavagem de
Dantas começou em 1997,
quando o Opportunity passou a
oferecer cotas do Opportunity
Fund no Brasil. O fundo era
isento de Imposto de Renda e,
por isso, proibido de ter aplicações de residentes no Brasil.
À época, a CVM colheu provas materiais e testemunhais
de que as cotas foram oferecidas no país e de que as aplicações eram movimentadas por
funcionários do banco. Segundo a PF, ao se associar a empresas no Brasil, como a Forpart, o
fundo repatriou recursos como
se fossem investimentos estrangeiros. Aí ficaria configurado o crime de lavagem de dinheiro, diz a investigação.
Além da Forpart, a PF diz
que outras "empresas prateleiras" cumpriam a função -sempre sob a batuta de pessoas ligadas a Dantas ou laranjas. Cita
como exemplo a Argolis (vinculada à Telemar) e a Telepart
(ligada à Amazônia Celular).
Segundo os registros na Bovespa, a Forpart é uma empresa sem quadro de funcionários
e funciona no endereço da sede
do banco, no Rio. Até 2005, o
Opportunity Fund teve como
sócio na Forpart o Opp I Fundo
de Investimento em Ações,
também do grupo Opportunity. Dantas, portanto, sempre
teve o controle da empresa.
A partir de 2005, o Opportunity Fund foi substituído pela
International Markets Investments CV, com sede na Holanda, e pertencente ao grupo.
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