São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

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Polícia investiga empresa-chave no esquema de lavagem do Opportunity

Recursos aplicados ilegalmente no exterior voltaram ao país via Forpart, diz PF

ALAN GRIPP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na teia de empresas criada com a chancela do banqueiro Daniel Dantas, uma delas desempenhava papel essencial no esquema de lavagem de dinheiro montado pelo grupo Opportunity, investiga a Polícia Federal. Por meio da Forpart S/A, dizem os investigadores, retornaram ao país parte dos recursos aplicados ilegalmente por brasileiros no Opportunity Fund, nas ilhas Cayman.
Até 2005, a empresa tinha como um dos sócios o Opportunity Fund, então dono de 66% das ações. E foi no período em que era capitalizada pelo fundo sediado no paraíso fiscal que a Forpart investiu pesado em ações de empresas de telefonia e energia recém-privatizadas, segundo levantamento da Folha na Bovespa. No fim dos anos 90, a Forpart ganhou fatias do sistema Telebrás.
À época, fazia parte dos consórcios que arremataram Telet e Americel, que hoje representam a Claro no Rio Grande do Sul e no Norte e no Centro-Oeste, respectivamente.
A empresa também abocanhou a CEM (Centrais Elétricas da Mantiqueira), com sede em Belo Horizonte, e assumiu o controle do Esporte Clube Bahia -que, em 2003, foi rebaixado à segunda divisão do futebol brasileiro. Teve ações de gigantes como Telemig, Embratel e Brasil Telecom.
De 1998 a 2000, Daniel Dantas estava entre os administradores da Forpart, numa de suas raras aparições nos documentos de empresas do grupo. Desde aquele período, a empresa é comandada por sua irmã, Verônica. Ao lado dela, outros cinco investigados na Operação Satiagraha se revezaram no conselho de administração.
Desde que foi deflagrada a Satiagraha, o Opportunity nega acusações da PF de lavagem. Diz que brasileiros nunca aplicaram no fundo e que a lista do inquérito da operação é de investidores domésticos.
O mesmo vale para a Forpart, diz o banco. Segundo a assessoria do Opportunity, a empresa "cumpriu todas as demais obrigações perante o Banco Central e a CVM [Comissão de Valores Mobiliários, órgão que regula o mercado de capitais]" e atua legalmente.
No inquérito, a PF afirma que o esquema de lavagem de Dantas começou em 1997, quando o Opportunity passou a oferecer cotas do Opportunity Fund no Brasil. O fundo era isento de Imposto de Renda e, por isso, proibido de ter aplicações de residentes no Brasil.
À época, a CVM colheu provas materiais e testemunhais de que as cotas foram oferecidas no país e de que as aplicações eram movimentadas por funcionários do banco. Segundo a PF, ao se associar a empresas no Brasil, como a Forpart, o fundo repatriou recursos como se fossem investimentos estrangeiros. Aí ficaria configurado o crime de lavagem de dinheiro, diz a investigação.
Além da Forpart, a PF diz que outras "empresas prateleiras" cumpriam a função -sempre sob a batuta de pessoas ligadas a Dantas ou laranjas. Cita como exemplo a Argolis (vinculada à Telemar) e a Telepart (ligada à Amazônia Celular).
Segundo os registros na Bovespa, a Forpart é uma empresa sem quadro de funcionários e funciona no endereço da sede do banco, no Rio. Até 2005, o Opportunity Fund teve como sócio na Forpart o Opp I Fundo de Investimento em Ações, também do grupo Opportunity. Dantas, portanto, sempre teve o controle da empresa.
A partir de 2005, o Opportunity Fund foi substituído pela International Markets Investments CV, com sede na Holanda, e pertencente ao grupo.


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