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Superoferta de informação é desafio para jornais, dizem diretores na ANJ
Folha e "Estado" reconhecem crise e debatem futuro do jornal de qualidade
DA REPORTAGEM LOCAL
O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, e o de
"O Estado de S. Paulo", Sandro
Vaia, reunidos ontem em São
Paulo no debate de encerramento do 6º Congresso Brasileiro de Jornais, disseram que o
jornalismo impresso vive um
momento de crise.
Frias Filho falou das ameaças
que o "jornalismo que se propõe de qualidade" sofre pela
"superoferta de informação barata", advinda principalmente
da internet. Sandro Vaia afirmou que a "crise de identidade"
é provocada pelas "transformações tecnológicas e pelas mudanças comportamentais da
sociedade".
Os dois discutiam "Para onde
vai o Brasil? Qual é o papel dos
jornais nessa trajetória?", tema
do debate de que participaram
ainda o antropólogo Roberto
DaMatta e os diretores de Redação Marcelo Rech, do "Zero
Hora", e Josemar Gimenez, dos
diários "Correio Braziliense" e
"O Estado de Minas".
Contradição social
DaMatta fez a exposição inicial, defendendo que a sociedade brasileira concilia a utopia
moderna da igualdade de todos
perante a lei com o desejo de
manutenção de relações pessoais, aristocratizantes, que valorizam a distinção social. O
trabalho de mediação entre esses desejos opostos, afirmou
DaMatta, cabe ao jornalismo
(tanto quanto ao Estado).
"O grande desafio do jornalismo e da sociedade brasileira
está em como transitar de uma
sociedade de viés pessoal e aristocrático para uma sociedade
igualitária", declarou.
Os dois jornalistas a falar em
seguida, Gimenez e Rech, defenderam a importância do jornalismo para o cumprimento
dessa missão, manutenção das
liberdades individuais, combate aos privilégios e à corrupção.
"Sobre o tema da corrupção,
o país está vivendo um momento diferente, as instituições se
posicionam de forma diferente,
mas alguns atores ainda não
entenderam isso muito bem",
disse Gimenez.
Rech declarou que "crescer a
circulação de jornais é fundamental para ajudar a mudar o
país", idéia de alguma maneira
retomada por Frias Filho ao dizer que a "principal contribuição" que os jornais podem dar
para tentar superar os principais problemas do país "seria,
antes de mais nada, sobreviverem, e sobreviverem bem".
Incerteza
O diretor de Redação da Folha afirmou que "há incerteza"
sobre como o jornalismo de
qualidade -aquele que tem
compromisso com a verdade
factual e preocupação com a dimensão pública das notícias-
pode sobreviver no meio eletrônico, já que é dispendioso e
não se sabe se haverá receita
publicitária suficiente na internet para bancá-lo.
Outro aspecto da crise vivida
pelos jornais, disse Frias Filho,
vem das "demandas contraditórias do próprio público". Segundo o diretor de Redação da
Folha, os leitores pedem ao
mesmo tempo um jornal mais
acessível e fácil de ler, por um
lado, e mais profundo, sério e
analítico, por outro.
Ele criticou a idéia de que os
jornais devem se resignar a um
público menor. Disse que devem sair da "torre de marfim" e
atender as novas demandas do
leitor, mas sem perder sua
"identidade pública". Citou a
Índia, onde a circulação de jornais cresceu 33% nesta década.
Ainda de acordo com Frias
Filho, os jornais têm vantagens
comparativas: uma credibilidade que não é alcançada por nenhum outro meio de comunicação, capacidade de investigação maior que a das outras mídias e seguem sendo a "referência informativa" para o que
aconteceu no dia anterior.
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