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ELEIÇÕES 2008
Cidade "ficha-suja" ignora corrupção
Tanto chapa da oposição como a da situação têm candidatos que já tiveram seus mandatos cassados
Polarização da campanha no município fica visível pelas bandeiras expostas nas casas; verdes são do PMDB e vermelhas, do PSB
EDUARDO SCOLESE
ENVIADO ESPECIAL A
GOVERNADOR DIX-SEPT ROSADO (RN)
No município potiguar de
Governador Dix-Sept Rosado, a
319 km de Natal, a campanha
eleitoral é pródiga em candidatos "fichas-sujas", políticos cassados recentemente por corrupção. Mesmo assim, ou talvez por isso mesmo, o tema
passa ao largo da campanha.
Uma vez que o telhado de vidro
é quase uma norma, ninguém
joga pedra em ninguém.
Nos últimos quatro anos, 24
políticos foram cassados sob a
acusação de compra de voto, incluindo a prefeita e seu vice, 5
dos 9 vereadores e 17 suplentes.
Destes, 9 são candidatos nesta
eleição, sendo 1 a prefeito, 2 a
vice e 6 a vereador.
Nesse intervalo, houve tempo ainda para a renúncia conjunta do prefeito e do vice-prefeito substitutos, o que abriu
espaço para que o presidente da
Câmara, filho do prefeito desistente, pudesse então assumir o
cargo do Executivo.
A chapa do PMDB, de oposição, é 100% "ficha-suja". Cassados no início de 2005, quando
eram prefeito e vice, respectivamente, Lanice Ferreira e Júnior Afonso tentam agora a volta ao poder.
Eles foram beneficiados pela
legislação eleitoral, já que, para
os casos de abuso de poder econômico, a lei complementar
64/1990 prevê que os políticos
cassados fiquem inelegíveis durante três anos -sendo que o
prazo é contado a partir da data
em que foram eleitos. No caso
deles, a eleição municipal de
2004.
"Diferente"
A chapa governista é encabeçada por Anax do Vale (PSB), filho de Adail Vale, segundo colocado na disputa de 2004, que
tomou posse depois da cassação de Lanice e, para ceder lugar ao filho, decidiu renunciar
ao mandato.
A "ficha-suja" desta chapa está no vice, Adonias de Melo
(PSB), vereador cassado na
atual legislatura.
Anax admite o crime eleitoral de seu vice, mas lança mão
de um "corruptômetro" para
dizer que o caso dos adversários é diferente.
"[Cassação de] vereador é diferente de [cassação de] prefeito. Ele [vice] teve sua parcela de
culpa. Diríamos que teve uma
corrupção passiva, mas não foge do crime eleitoral", afirma o
candidato à reeleição.
Eleitorado
Os eleitores tampouco parecem levar em conta a vida pregressa dos candidatos.
Jeú Diniz, 33, agricultor e desempregado há quatro anos, é
PMDB por "hereditariedade"
-diz que sempre vota no partido porque assim fazia sua mãe.
Indagado se a cassação de Lanice ameaçou sua fidelidade ao
PMDB, ele não ter conhecimento de que sua candidata foi
cassada do cargo de prefeita há
três anos.
A mulher de Diniz, Vilma da
Silva, 33, admite que faz propaganda de Anax por ser funcionária da prefeitura.
"Voto nele porque dependo
desse emprego", diz a varredora de rua, que recebe R$ 207
por mês. Ela trabalha três dias
por semana, tem dois filhos
adolescentes e recebe o Bolsa
Família. "Eu é que sustento esta casa", diz, orgulhosa.
No município de 10 mil eleitores, na divisa do Rio Grande
do Norte com o Ceará, a modesta casa do casal chama a atenção pela particularidade de ter
cartazes dos dois candidatos
em disputa.
Em "DiSé Rosado", como os
moradores pronunciam o nome afrancesado da cidade, a
forte polarização da campanha
é traduzida em bandeiras coloridas fincadas no alto das casas.
As verdes indicam voto em Lanice; as vermelhas, em Anax.
O calor da disputa preocupa
a polícia local.
"São dois policiais para cuidar de 12 mil habitantes", afirma o sargento da Polícia Militar Iranildo de Paiva.
É pouco? "Pouco demais. O
negócio é ficar na torcida para
que não aconteça nada", completa o policial, que, duas semanas atrás, teve de intervir em
um princípio de confronto entre os cabos eleitorais verdes e
vermelhos.
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