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BRASIL PROFUNDO
Acusação é de irregularidades trabalhistas; Norberto Mânica, acusado de ser mandante da chacina de fiscais, é réu
Procuradoria processa fazendeiros de Unaí
THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE
O Ministério Público do Trabalho em Minas entrou com ação civil pública contra três irmãos Mânica - Norberto, Luiz Antônio e
Celso-, por descumprimento de
obrigações trabalhistas.
Os três e outro irmão (Antério)
são os maiores produtores rurais
de Unaí (MG). Norberto e Antério
estão presos sob a acusação de serem os mandantes do assassinato
de quatro servidores do Ministério do Trabalho, ocorrido na cidade em janeiro deste ano.
Também figuram como réus na
ação, ajuizada anteontem, o Condomínio de Empregadores Rurais
Norberto Mânica -formado por
Norberto, Luiz Antônio e Celso-
e José Iomar Pereira dos Santos, o
Zé Goiás, que atuaria como principal gato (agenciador de mão-de-obra) da associação.
Entre as irregularidades apontadas pelo Ministério Público nas
fazendas dos Mânica, cujo principal cultivo é o feijão, estão a ausência de registro de empregados,
condições precárias de alojamento e alimentação e descumprimento de normas de higiene, medicina e segurança do trabalho.
Infrações trabalhistas identificadas nas fazendas podem ser
consideradas práticas análogas à
escravidão, segundo a procuradora Adriana Augusta de Moura
Souza, uma das autoras da ação.
Além de outras obrigações, a
ação pede que os três irmãos sejam condenados a pagar indenização de R$ 3 milhões, a ser revertida ao Fundo de Amparo ao Trabalhador, pelos danos coletivos
causados aos trabalhadores. Pelo
mesmo motivo, pede o pagamento de R$ 300 mil por Santos.
Segundo o Ministério Público
do Trabalho, pelo menos 2.700
trabalhadores, recrutados em caráter temporário para colheita das
safras de 2003 e 2004, teriam sido
lesados pelo condomínio.
A representação que originou a
ação civil pública baseou-se em
relatórios de fiscalizações nas propriedades dos Mânica feitas em
janeiro e fevereiro de 2003 pelo
auditor Nelson José da Silva, um
dos mortos na chacina de Unaí.
Na ocasião, as fiscalizações não
foram concluídas, diante de supostas ameaças feitas ao auditor
por Norberto e Celso, que também teriam se recusado a apresentar documentos. Em relatório
de março de 2003, o auditor relata
ter sido ameaçado por Norberto,
que teria dito que "trataria à bala
fiscal do trabalho que conversasse
fiado em sua propriedade".
O Ministério Público do Trabalho em Minas afirmou ainda que
investiga possíveis irregularidades trabalhistas nas fazendas de
Antério. "Possivelmente ele também será acionado", disse Souza.
Outro lado
O advogado José Lindomar
Coelho, que representa a família
Mânica nas áreas cível e criminal,
disse que ainda não havia tomado
conhecimento da ação e que não
poderia comentá-la. Ele negou
que haja trabalho análogo à escravidão nas fazendas dos Mânica.
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