São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2006

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ELIO GASPARI

O procurador avançou o sinal contra o PT

Inquérito não é fogueira, acusação não é prova, insinuação não é argumento e entrevista não é petição

O PROCURADOR Mário Lúcio Avelar é quem cuida da investigação dos delinqüentes do consórcio PT/Vedoin. Em pelo menos uma ocasião o doutor trocou a alçada de investigador pela de polemista. Referindo-se com ironia à nascente das maracutaias disse o seguinte: "Veja bem, estamos falando de um partido político que tem o comando do país. Só tem o comando do país. Não tem mais nada. Só o país.
Pode sair de onde o dinheiro?" Milhões de pessoas podem dizer o que ele disse. É até possível que estejam certas. O procurador que investiga (repetindo, investiga) não pode. O PT representou contra o doutor Avelar. Foi buscar seu direito. Investigação não é fogueira, acusação não é prova, insinuação não é argumento e entrevista não é petição.
Em junho do ano passado, Mário Lúcio Avelar desencadeou, com a ajuda da Polícia Federal, uma operação batizada como Curupira. Destinava-se a emparedar uma quadrilha de desmatadores e burocratas que os protegiam. Foram presas 93 pessoas, entre elas o diretor de florestas do Ibama, Antonio Carlos Hummel, um engenheiro de 50 anos (23 de serviço público), dois filhos e um apartamento de três quartos.
Avelar informou que "ele autorizou operações ilegais que levaram à comercialização de 10 milhões de metros públicos de madeira". Hummel apresentou-se à Polícia Federal e viajou algemado para Cuiabá. Dormiu quatro noites na cadeia, depôs e foi liberado. O delegado que trabalhou no caso disse o seguinte: "O procurador acompanhou o interrogatório. A Polícia Federal nada tinha contra ele. No final, o procurador concluiu que não deveria nem sequer ter indiciado ele".
As malfeitorias ocorriam fora de sua alçada. Ademais, é um homem de bem. Tanto assim que foi mantido na diretoria de florestas do Ibama sem que uma única sobrancelha esteja franzida.
Quando o cidadão tem a sua reputação abatida num processo que tramita sob os holofotes da imprensa, com entrevistas substituindo peças processuais, quem perde é a Justiça.
O procurador Avelar pode suspeitar de quem quiser e é bom que o faça. Pode acusar quem bem entender e é ainda melhor que assim proceda. Só se pede que faça tudo isso no rigor e na discrição dos autos do processo.

YES, TEMOS POLO
Lula e Alckmin têm uma coisa em comum: vestem jaquetas Polo. Se um candidato a presidente dos Estados Unidos sair por aí com marcas estrangeiras, pode fechar o escritório da campanha.

TIRO NO PÉ
Uma comitiva de empresários brasileiros foi a Washington negociar a permanência de Pindorama no Sistema Geral de Preferências, mecanismo que torna competitivas 15% das exportações para o mercado americano. Coisa de US$ 3,6 bilhões. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, argumenta que "o sistema transformou-se em parte da estratégia corporativa das multinacionais dos EUA estabelecidas no Brasil". Ou seja: as filiais brasileiras de multinacionais americanas beneficiam-se vendendo produtos que os refrescos do SGP torna competitivos.
Para os congressistas americanos, que defendem o interesse de seus eleitores, esse argumento significa que um benefício tributário dado à indústria brasileira é usado para ajudar multinacionais a destruir empregos nos Estados Unidos.

LEMBRAI-VOS DE 64
FFHH e um bom pedaço do tucanato estão fora de conversas que envolvam a desqualificação da legitimidade do mandato de Lula caso ele vença a eleição. Ganhou, levou, governou. São pessoas que perderam a juventude numa ditadura legitimada por liberais dos anos 40 (Milton Campos, Mem de Sá ou Daniel Krieger) que, no ocaso da vida, carregaram a cicatriz do arrependimento. Podem subir o tom das críticas, mas não elaboram construções golpistas.

OLHO VIVO
Ficou esquecido um episódio ocorrido na primeira metade do governo. Um belo dia, o general Jorge Armando Félix, ministro da Segurança Institucional, soube que havia curiosos fuçando os arquivos da Abin. Mandou dispersá-los. Nessa época, já funcionava o serviço de inteligência dos companheiros. É o caso de perguntar se, ao lado da investigação de compra e venda de dossiês, não seria o caso de saber melhor o que fazia essa turma. Ninguém pode ser um tabajara todo o tempo.

TROCO
Tem gente querendo escalpelar o senador Aloizio Mercadante. O cabo das facas dessa turma tem uma estrelinha vermelha e carrega velhos rancores, do tempo em que negaceou solidariedade à Quadrilha dos Quarenta.

ENGENHARIA POLÍTICA
O deputado Fernando Gabeira está trabalhando na "reconstrução das pontes" para evitar que o país pare. Depois de ter tido a coragem de desprezar a pinguela petista do comissariado de José Dirceu, Gabeira tentará refazer aquilo que a prepotência desfez.

FAORO VEM AÍ
Alguns caciques da OAB retomaram a ladainha do impedimento de Lula. Pena que até hoje não sido bem explicado o lance da Ordem ser embrulhada na manobra pueril da convocação de uma Constituinte extraordinária. Um dia esses doutores entram no plenário do Conselho e encontram lá Raymundo Faoro, dizendo-lhe poucas e boas com aquele vozeirão que colocou a Ordem no caminho da redemocratização.


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