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ELIO GASPARI
O procurador avançou o sinal contra o PT
Inquérito não é fogueira, acusação não é prova, insinuação não é argumento e entrevista não é petição
O PROCURADOR Mário Lúcio Avelar é quem cuida da investigação
dos delinqüentes do consórcio
PT/Vedoin. Em pelo menos uma ocasião o doutor trocou a alçada de investigador pela de polemista. Referindo-se
com ironia à nascente das maracutaias
disse o seguinte: "Veja bem, estamos
falando de um partido político que tem
o comando do país. Só tem o comando
do país. Não tem mais nada. Só o país.
Pode sair de onde o dinheiro?" Milhões
de pessoas podem dizer o que ele disse.
É até possível que estejam certas. O
procurador que investiga (repetindo,
investiga) não pode. O PT representou
contra o doutor Avelar. Foi buscar seu
direito. Investigação não é fogueira,
acusação não é prova, insinuação não é
argumento e entrevista não é petição.
Em junho do ano passado, Mário Lúcio Avelar desencadeou, com a ajuda da
Polícia Federal, uma operação batizada
como Curupira. Destinava-se a emparedar uma quadrilha de desmatadores
e burocratas que os protegiam. Foram
presas 93 pessoas, entre elas o diretor
de florestas do Ibama, Antonio Carlos
Hummel, um engenheiro de 50 anos
(23 de serviço público), dois filhos e um
apartamento de três quartos.
Avelar informou que "ele autorizou
operações ilegais que levaram à comercialização de 10 milhões de metros públicos de madeira". Hummel apresentou-se à Polícia Federal e viajou algemado para Cuiabá. Dormiu quatro noites na cadeia, depôs e foi liberado. O delegado que trabalhou no caso disse o seguinte: "O procurador acompanhou o
interrogatório. A Polícia Federal nada
tinha contra ele. No final, o procurador
concluiu que não deveria nem sequer
ter indiciado ele".
As malfeitorias ocorriam fora de sua
alçada. Ademais, é um homem de bem.
Tanto assim que foi mantido na diretoria de florestas do Ibama sem que uma
única sobrancelha esteja franzida.
Quando o cidadão tem a sua reputação abatida num processo que tramita
sob os holofotes da imprensa, com entrevistas substituindo peças processuais, quem perde é a Justiça.
O procurador Avelar pode suspeitar
de quem quiser e é bom que o faça. Pode acusar quem bem entender e é ainda
melhor que assim proceda. Só se pede
que faça tudo isso no rigor e na discrição dos autos do processo.
YES, TEMOS POLO
Lula e Alckmin têm uma coisa em comum: vestem jaquetas
Polo. Se um candidato a presidente dos Estados Unidos sair
por aí com marcas estrangeiras,
pode fechar o escritório da
campanha.
TIRO NO PÉ
Uma comitiva de empresários brasileiros foi a Washington negociar a permanência de
Pindorama no Sistema Geral
de Preferências, mecanismo
que torna competitivas 15% das
exportações para o mercado
americano. Coisa de US$ 3,6 bilhões. O presidente da Fiesp,
Paulo Skaf, argumenta que "o
sistema transformou-se em
parte da estratégia corporativa
das multinacionais dos EUA estabelecidas no Brasil". Ou seja:
as filiais brasileiras de multinacionais americanas beneficiam-se vendendo produtos
que os refrescos do SGP torna
competitivos.
Para os congressistas americanos, que defendem o interesse de seus eleitores, esse argumento significa que um benefício tributário dado à indústria
brasileira é usado para ajudar
multinacionais a destruir empregos nos Estados Unidos.
LEMBRAI-VOS DE 64
FFHH e um bom pedaço do
tucanato estão fora de conversas que envolvam a desqualificação da legitimidade do mandato de Lula caso ele vença a
eleição. Ganhou, levou, governou. São pessoas que perderam
a juventude numa ditadura legitimada por liberais dos anos
40 (Milton Campos, Mem de Sá
ou Daniel Krieger) que, no ocaso da vida, carregaram a cicatriz do arrependimento. Podem subir o tom das críticas,
mas não elaboram construções
golpistas.
OLHO VIVO
Ficou esquecido um episódio
ocorrido na primeira metade
do governo. Um belo dia, o general Jorge Armando Félix, ministro da Segurança Institucional, soube que havia curiosos
fuçando os arquivos da Abin.
Mandou dispersá-los. Nessa
época, já funcionava o serviço
de inteligência dos companheiros. É o caso de perguntar se, ao
lado da investigação de compra
e venda de dossiês, não seria o
caso de saber melhor o que fazia essa turma. Ninguém pode
ser um tabajara todo o tempo.
TROCO
Tem gente querendo escalpelar o senador Aloizio Mercadante. O cabo das facas dessa
turma tem uma estrelinha vermelha e carrega velhos rancores, do tempo em que negaceou
solidariedade à Quadrilha dos
Quarenta.
ENGENHARIA POLÍTICA
O deputado Fernando Gabeira está trabalhando na "reconstrução das pontes" para evitar
que o país pare. Depois de ter tido a coragem de desprezar a
pinguela petista do comissariado de José Dirceu, Gabeira tentará refazer aquilo que a prepotência desfez.
FAORO VEM AÍ
Alguns caciques da OAB retomaram a ladainha do impedimento de Lula. Pena que até
hoje não sido bem explicado o
lance da Ordem ser embrulhada na manobra pueril da convocação de uma Constituinte extraordinária. Um dia esses doutores entram no plenário do
Conselho e encontram lá Raymundo Faoro, dizendo-lhe
poucas e boas com aquele vozeirão que colocou a Ordem no
caminho da redemocratização.
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