|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Comerciante preso no Paraná afirma que programas sociais o levaram à falência
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAMBARACÁ (PR)
Preso em flagrante por apropriação indébita em maio do
ano passado, o comerciante
Edilson Parralego, 43, conhecido no município paranaense de
Itambaracá (a 462 km de Curitiba) como "Kojó", afirma que
os programas sociais do governo federal o levaram à falência.
Quando foi preso, Parralego
-que era proprietário de um
minimercado- foi flagrado
com 98 cartões de aposentadorias e programas como auxílio-educação, vale-gás e Bolsa Família de clientes.
"Eu nunca neguei que segurava os cartões. Era uma garantia para poder vender fiado. É
uma prática comum entre comerciantes. Os fregueses eram
bóias-frias e não tinham outra
garantia. Tanto é que, depois
que fui preso, deixaram de pagar e acabei falido", diz Kojó,
que hoje vende roupas.
Segundo o comerciante que
ficou 48 dias preso e responde a
processo, em liberdade, por crime de apropriação indébita, a
prática de segurar os cartões,
em muitos casos, é solicitação
dos próprios fregueses.
"A maioria dos beneficiários
era de mulheres, que nem sabiam sacar pelo cartão. Juro
que nunca fiquei com um tostão. O problema é que era ilegal,
eu sabia disso, mas achava que
prestava um favor e me ajudava, já que eu tinha a garantia de
receber pela mercadorias."
A Folha teve acesso a 74 depoimentos ao Ministério Público do Paraná de beneficiários dos programas que tinham os cartões retidos pelo comerciante. Em todos eles, os depoentes confirmam a retenção dos cartões, mas afirmaram
que esta era consensual entre
freguês e o acusado. Mas isso
não livra o comerciante do crime de apropriação indébita.
O coordenador de programas
do Centro de Referência de Assistência Social de Itambaracá,
Fernando da Silva, diz que o
uso, por terceiros, de cartões
dos programas sociais é uma
das maiores preocupações no
atendimento aos beneficiários.
"É complicado porque temos
uma clientela muito pobre, a
maioria analfabeta, com muita
dificuldade para entender que
o cartão é um documento pessoal, intransferível", afirma.
Em Itambaracá, de 7.000 habitantes, a única opção de emprego é trabalhar no corte da
cana-de-açúcar. No período de
entressafra do corte -janeiro a
maio-, o Bolsa Família fica
sendo a única opção para uma
parcela da população.
Em agosto deste ano, o município recebeu R$ 46.610 para
636 cadastrados no programa
Bolsa Família.
"Esse dinheiro é importante
para movimentar o comércio
de um município sem indústrias, mas é muito pouco para a
população que necessita do auxílio", afirma Silva.
Segundo Silva, existem 300
famílias à espera do benefício
há dois anos. "O universo dos
bóias-frias não é atendido."
Texto Anterior: Bolsa Família vira "moeda" em comércio Próximo Texto: Ministério alertou beneficiários, mas diz que cabe à polícia repreender crimes Índice
|