São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Comerciante preso no Paraná afirma que programas sociais o levaram à falência

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ITAMBARACÁ (PR)

Preso em flagrante por apropriação indébita em maio do ano passado, o comerciante Edilson Parralego, 43, conhecido no município paranaense de Itambaracá (a 462 km de Curitiba) como "Kojó", afirma que os programas sociais do governo federal o levaram à falência.
Quando foi preso, Parralego -que era proprietário de um minimercado- foi flagrado com 98 cartões de aposentadorias e programas como auxílio-educação, vale-gás e Bolsa Família de clientes.
"Eu nunca neguei que segurava os cartões. Era uma garantia para poder vender fiado. É uma prática comum entre comerciantes. Os fregueses eram bóias-frias e não tinham outra garantia. Tanto é que, depois que fui preso, deixaram de pagar e acabei falido", diz Kojó, que hoje vende roupas.
Segundo o comerciante que ficou 48 dias preso e responde a processo, em liberdade, por crime de apropriação indébita, a prática de segurar os cartões, em muitos casos, é solicitação dos próprios fregueses.
"A maioria dos beneficiários era de mulheres, que nem sabiam sacar pelo cartão. Juro que nunca fiquei com um tostão. O problema é que era ilegal, eu sabia disso, mas achava que prestava um favor e me ajudava, já que eu tinha a garantia de receber pela mercadorias."
A Folha teve acesso a 74 depoimentos ao Ministério Público do Paraná de beneficiários dos programas que tinham os cartões retidos pelo comerciante. Em todos eles, os depoentes confirmam a retenção dos cartões, mas afirmaram que esta era consensual entre freguês e o acusado. Mas isso não livra o comerciante do crime de apropriação indébita.
O coordenador de programas do Centro de Referência de Assistência Social de Itambaracá, Fernando da Silva, diz que o uso, por terceiros, de cartões dos programas sociais é uma das maiores preocupações no atendimento aos beneficiários.
"É complicado porque temos uma clientela muito pobre, a maioria analfabeta, com muita dificuldade para entender que o cartão é um documento pessoal, intransferível", afirma.
Em Itambaracá, de 7.000 habitantes, a única opção de emprego é trabalhar no corte da cana-de-açúcar. No período de entressafra do corte -janeiro a maio-, o Bolsa Família fica sendo a única opção para uma parcela da população.
Em agosto deste ano, o município recebeu R$ 46.610 para 636 cadastrados no programa Bolsa Família.
"Esse dinheiro é importante para movimentar o comércio de um município sem indústrias, mas é muito pouco para a população que necessita do auxílio", afirma Silva.
Segundo Silva, existem 300 famílias à espera do benefício há dois anos. "O universo dos bóias-frias não é atendido."


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