São Paulo, segunda-feira, 01 de outubro de 2007

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Esfandiari descreve como era viver presa

DE WASHINGTON

"Ao ser levada a Evin, percebi que sair ou não de lá não estava sob meu controle, pois nem acusação havia.
Então, decidi sobreviver. Estava numa ala especial para prisioneiros políticos, na seção feminina. Meu cômodo era de um tamanho razoável, com duas janelas grandes dando para o telhado.
Organizei uma rotina. Eu me levantava às 7h30, exercitava-me por uma hora, tomava banho e café da manhã.
Comecei um programa de exercício que ia até as 6 da tarde. Interrompia, é claro, para os interrogatórios.
Tinha acesso a um pátio uma vez por dia, por uma hora, sem outros presos.
Perto das seis, tomava banho, trocava uma roupa por outra igual e era minha preparação para o jantar. Então, lia, quando passaram a me deixar a ler. Perto das 23h, eu me exercitava por uma hora. Aí, dormia.
Não havia notícias sobre mim nos jornais. Só uma vez, numa entrevista coletiva, alguém perguntou "O que vai acontecer com ela", e responderam "Nós não vamos mantê-la presa, ela vai ser solta, mas o processo judicial ainda não foi concluído em relação ao caso dela".
Nunca pensei que fossem me torturar ou me bater. Mas havia sempre a possibilidade de que eu passasse vários anos na prisão. E eu estava perdendo peso muito rapidamente, nove quilos em três meses, o que preocupou as autoridades.
Achava que tinha sido abandonada. Não sabia que meu marido, minha filha, minha irmã estavam fazendo uma campanha tão grande a meu favor, não sabia havia uma campanha tão grande na mídia internacional.
Decidi que pensar no meu marido, na minha filha, nos meus netos me levaria ao desespero e que o melhor a fazer seria bloqueá-los totalmente. Ao voltar a Washington, entrei literalmente em todos os cômodos da casa.
Na segunda seguinte, voltei ao trabalho. Ainda tento recuperar o tempo perdido."

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