São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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TODA MÍDIA

Sem "equilíbrio"

Com a rapidez na apuração, a boca-de-urna da Globo hoje importa menos como notícia e mais como "spin" -como disseminação de sua avaliação sobre os fatos e efeitos.
A declaração oficiosa dos vitoriosos, na emissora, é cada vez mais atração dominical.
Ontem, veio integrada ao Domingão do Faustão, com o animador se permitindo conversar com os âncoras e opinar sobre política nacional. E bradar:
- Agora, boca-de-urna, sob o comando de Alexandre Garcia!
No "spin" global, a boca-de-urna abriu por Porto Alegre, com um "empate técnico", nada mal para o PT -e que foi acabar, como se sabe, em mais uma de muitas derrotas petistas.
Na seqüência, nos números, vieram vitórias e mais vitórias do PSDB, por mais que o comentarista Franklin Martins atenuasse o drama. Por exemplo, ao tratar a eleição de Íris Rezende, em Goiânia, como derrota tanto do prefeito petista como do governador tucano. Não, foi derrota petista, ponto.
São Paulo ficou para o final -e, após tantos resultados em favor do PSDB, nem Garcia nem Martins conseguiam esconder o impacto. Do segundo:
- Um resultado que mexe com o país. É uma vitória importantíssima para o PSDB, que passa a ter a cidade e o Estado de São Paulo. Tem uma fortaleza para tentar a eleição presidencial. É a eleição mais importante e o PSDB leva a vitória.
Para fechar, Garcia:
- E nós ficamos por aqui.
Eles voltaram, na verdade, até tarde da noite. No mesmo tom.
 
Na seqüência da Globo, entrou a Band com sua mesa-redonda eleitoral, ecoando o "spin" que Garcia e Martins haviam trazido -o de um "equilíbrio" entre PT e PSDB.
Não houve equilíbrio, como bem mostraram as mesmas Band e Globo pouco a pouco -até chegar no fim às lágrimas vitoriosas de José Serra.
 
Para se contrapor à derrota, o melhor "spin" que os petistas produziram, José Genoíno à frente, na Globo, foi sublinhar vitórias anteriores, ainda do primeiro turno. Não colou.

O PT VAI TER QUE NEGOCIAR

www.radiobras.gov.br
Encerrado o voto, a Radiobrás deu Serra em manchete


Nem havia começado a votação, ontem, e o governo Lula já lançava pontes em direção ao PSDB, como destacou a Folha. E ontem foi sair a boca-de-urna para José Serra virar a manchete do site da estatal Radiobrás.
De sua parte, FHC, em entrevista à agência Reuters, com repercussão no UOL e outros, analisou como ficam as coisas entre os tucanos e os petistas, agora:
- O PT vai ter que negociar... A preocupação era que estivesse ficando poderoso demais. Mas, ao contrário, a eleição vai nos permitir fugir do risco de ter um partido dominante. Eles não são mais a única força do Brasil.


ATÉ O FIM O horário gratuito terminou dias antes, os sites eleitorais saíram do ar, a propaganda de boca-de-urna foi reprimida, mas os comerciais dos governos Lula (à esq.) e Geraldo Alckmin (à dir.) prosseguiam em ritmo de campanha na Globo, durante todo o dia de votação, na Globo, tratando respectivamente do centro e de habitação popular

Derrota de Lula
As primeiras reações em sites no exterior se concentraram na derrota do PT em São Paulo. Eram títulos como "Opositor vence corrida para prefeito em São Paulo", na agência Associated Press, ou "Partido do governo sofre derrota em eleições", na Reuters. Na Bloomberg, "Serra vence em São Paulo".
Os argentinos "La Nación" e "Clarín" deram chamada igual nas páginas iniciais, "Partido de Lula perde São Paulo".

Poder econômico
De Luiza Erundina na Jovem Pan a ACM na Globo Online, derrotados diversos questionavam ontem o peso do dinheiro -com críticas em especial à maneira como agiu o PT.
Até a estatal Radiobrás ouviu o advogado Dalmo Dallari, que defendeu a introdução de financiamento público para "neutralizar o poder econômico".

Larry Rohter lá
Se Lula ouviu um "recado das urnas" no Brasil, no Uruguai a vitória -e o maior destaque da região em sites pelo mundo- foi de um "esquerdista" que não pára de elogiar o petista.
E que já estreou ontem sob ataque de uma reportagem de Larry Rohter no "NYT", destacando a presença dominante de ex-membros dos Tupamaros, de "passado violento", em sua coalizão. Para Rohter, ele se une a Lula e outros "num bloco de governantes que têm expressado oposição" aos EUA.

E cá
De quebra, o mesmo Rohter publicou longa reportagem no "NYT" para avaliar que, "Se o Brasil quer assustar o mundo, está conseguindo". Relacionou o programa nuclear e a resistência a inspeções à "sensação de inferioridade" dos brasileiros em geral.


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