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Presidente cogita fazer pressão sobre tucanos
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva disse a assessores e ministros que decidiu dar "um basta"
nas acusações contra ele e seu governo e que vai enviar um intermediário nesta semana para conversar com o prefeito de São Paulo, José Serra, um dos principais
presidenciáveis do PSDB.
Irritado, Lula assumiu o comando político e trocou o discurso de que "a campanha eleitoral é
só no ano que vem" por outro:
"Eles [a oposição] anteciparam a
campanha. Então, a campanha é
já", disse a ministros e assessores
que tentavam contemporizar.
O emissário de Lula deverá dizer a Serra que, se é para lutar,
ninguém será poupado -nem
ele, evidentemente. Segundo ele,
o governo está disposto a responder às denúncias da imprensa e às
acusações da oposição na base da
Lei de Talião (""olho por olho,
dente por dente").
Deverá dizer ainda que, nessa
guerra, nem PSDB nem PT se salvam e podem até acabar ressuscitando "fantasmas da direita". Ou
seja: o objetivo é jogar duro, mas
tentando como resultado amenizar o clima e reduzir os ataques
mútuos, porque os dois lados têm
"telhado de vidro" e podem acabar se autodestruindo.
Lula tem dito que concorda
com essa tese, mas está mais preocupado em se defender dos ataques atacando. "Basta de apanhar
calado", tem dito ele, dando o tom
dos petistas nas conversas com
tucanos e pefelistas. A orientação
é deixar claro que o governo não
está brincando, "guerra é guerra".
Essa disposição de Lula de endurecer contra a oposição cria um
elo entre o presidente e o deputado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), que tenta várias manobras protelatórias para dar sobrevida a seu mandato na Câmara.
Na opinião de Lula, Dirceu está
virtualmente cassado, mas usa todo o seu processo para politizar a
questão e deverá ter peso e importância quando for necessário radicalizar a campanha presidencial
de 2006. Como disse um interlocutor de Lula à Folha, Dirceu deverá ser "o líder dos radicais" pró-Lula, dando discurso e um grito
de guerra aos movimentos sociais
identificados com o PT.
Lula também decidiu "meter a
mão na caneta" para endurecer
contra os setores da imprensa que
têm divulgado informações contrárias ao governo e que julga em
campanha contra ele.
Conforme a Folha apurou, Lula
pensa em tirar anúncios da administração direta e indireta de veículos considerados "de oposição"
para concentrar em outros, tidos
como mais amistosos.
A intenção de Lula de discriminar os órgãos de imprensa, porém, esbarra na realidade brasileira. O TCU (Tribunal de Contas da
União) exerce poder de fiscalização sobre os gastos de publicidade, que chegam a cerca de R$ 1,3
bilhão na administração direta e
indireta neste ano. Um dos mecanismos de controle é exatamente
na comparação do volume de recursos com a tiragem/audiência
de cada órgão.
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