São Paulo, terça-feira, 01 de novembro de 2005

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Presidente cogita fazer pressão sobre tucanos

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a assessores e ministros que decidiu dar "um basta" nas acusações contra ele e seu governo e que vai enviar um intermediário nesta semana para conversar com o prefeito de São Paulo, José Serra, um dos principais presidenciáveis do PSDB.
Irritado, Lula assumiu o comando político e trocou o discurso de que "a campanha eleitoral é só no ano que vem" por outro: "Eles [a oposição] anteciparam a campanha. Então, a campanha é já", disse a ministros e assessores que tentavam contemporizar.
O emissário de Lula deverá dizer a Serra que, se é para lutar, ninguém será poupado -nem ele, evidentemente. Segundo ele, o governo está disposto a responder às denúncias da imprensa e às acusações da oposição na base da Lei de Talião (""olho por olho, dente por dente").
Deverá dizer ainda que, nessa guerra, nem PSDB nem PT se salvam e podem até acabar ressuscitando "fantasmas da direita". Ou seja: o objetivo é jogar duro, mas tentando como resultado amenizar o clima e reduzir os ataques mútuos, porque os dois lados têm "telhado de vidro" e podem acabar se autodestruindo.
Lula tem dito que concorda com essa tese, mas está mais preocupado em se defender dos ataques atacando. "Basta de apanhar calado", tem dito ele, dando o tom dos petistas nas conversas com tucanos e pefelistas. A orientação é deixar claro que o governo não está brincando, "guerra é guerra".
Essa disposição de Lula de endurecer contra a oposição cria um elo entre o presidente e o deputado e ex-ministro José Dirceu (Casa Civil), que tenta várias manobras protelatórias para dar sobrevida a seu mandato na Câmara.
Na opinião de Lula, Dirceu está virtualmente cassado, mas usa todo o seu processo para politizar a questão e deverá ter peso e importância quando for necessário radicalizar a campanha presidencial de 2006. Como disse um interlocutor de Lula à Folha, Dirceu deverá ser "o líder dos radicais" pró-Lula, dando discurso e um grito de guerra aos movimentos sociais identificados com o PT.
Lula também decidiu "meter a mão na caneta" para endurecer contra os setores da imprensa que têm divulgado informações contrárias ao governo e que julga em campanha contra ele.
Conforme a Folha apurou, Lula pensa em tirar anúncios da administração direta e indireta de veículos considerados "de oposição" para concentrar em outros, tidos como mais amistosos.
A intenção de Lula de discriminar os órgãos de imprensa, porém, esbarra na realidade brasileira. O TCU (Tribunal de Contas da União) exerce poder de fiscalização sobre os gastos de publicidade, que chegam a cerca de R$ 1,3 bilhão na administração direta e indireta neste ano. Um dos mecanismos de controle é exatamente na comparação do volume de recursos com a tiragem/audiência de cada órgão.


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