São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2006

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Jornalistas criticam truculência de Requião

Abert também diz "repudiar veementemente" a forma como o governador eleito tratou profissionais de mídia em coletiva

Em entrevista após a vitória, peemedebista acusou mídia de ""fazer campanha" para eleger seu adversário Osmar Dias e hostilizou jornalistas

MARI TORTATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CURITIBA

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná divulgou nota classificando de ""desrespeitosa, truculenta e deselegante" a atitude como o governador reeleito do Paraná, Roberto Requião (PMDB), atendeu aos jornalistas na sua primeira coletiva de imprensa depois da vitória de domingo.
Também em nota, a Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) disse ""repudiar veementemente", a forma com que Requião tratou os jornalistas e os veículos de comunicação do Paraná e do Brasil durante a coletiva.
Para a entidade, o comportamento do chefe do Poder Executivo do Paraná foi ""inaceitável e representa uma afronta direta à liberdade de imprensa e dos pilares do Estado Democrático e de Direito". A Abert considerou que Requião ""foi ""agressivo e desrespeitoso".
Anteontem, em entrevista coletiva no Palácio Iguaçu, Requião acusou a imprensa de ""fazer campanha" para eleger seu adversário, o senador Osmar Dias (PDT). Acompanhado de militantes do PMDB e do PT e de parte de sua equipe, o peemedebista hostilizou e constrangeu jornalistas que lhe faziam perguntas com comentários sobre o que considerou ter sido o comportamento dos veículos para os quais trabalham.
A RPC (Rede Paranaense de Comunicação), o jornal ""Gazeta do Povo", do mesmo grupo, e a rádio CBN local foram os veículos mais atacados. A Folha e a TV Globo, por intermédio de três profissionais, também foram alvo das acusações de ""facciosismo" na cobertura. Os jornalistas eram submetidos a constrangimento quando se identificavam e ao veículo que representavam, quando lhe faziam perguntas: ""Tivemos na "Gazeta do Povo" uma espécie de diário oficial da oposição", disse Requião antes de responder à repórter do jornal.
""Eu não fui a uma entrevista na "Gazeta do Povo" e a "Gazeta do Povo" publicou as perguntas, sórdidas. Foi a utilização sem escrúpulos da "Gazeta do Povo" e da RPC na campanha que, em determinado momento, nos derrubou uma liderança de mais de 20 pontos", disse o governador noutro momento.
Segundo Requião, apesar de seu governo ser aprovado em pesquisas por 75% da população, ""o que houve [na campanha] foi um bombardeio contra a imagem pessoal do governador, com a colaboração da RPC, dos jornalões, da "Gazeta do Povo", da CBN, que quase nos derrotou". O peemedebista emendou depois: "As teses valeram, resistimos a essa mídia toda e tivemos uma monumental vitória política no Paraná".
Requião atribuiu à repórter da Folha a notícia de um suposto apartamento de sua família em Paris -que o jornal não publicou-, após uma resposta sobre a relação com a segunda gestão do governo Lula. Em 28 de outubro, a Folha publicou reportagem sobre o debate entre Requião e Osmar Dias, no qual Dias mencionou uma suposta mansão da família do peemedebista em Miami, e a contestação do governador.
""Eu faria uma observação também sobre a Folha de S.Paulo, que reproduziu, na sua coluna, jornalista, a história de um apartamento meu em Paris sem sequer ter me consultado", disse. E prosseguiu: ""Os jornalões do Brasil reproduziram as canalhices locais com a pior ética possível, mostrando um facciosismo absolutamente insuportável para um regime democrático".
""Eu queria cumprimentar a CBN pela excelente boca-de-urna que fez pelo meu adversário desde as 8h da manhã", disse à repórter da rádio antes de responder a uma pergunta.
Requião usou de ironia ao dizer que convidaria o proprietário da RPC para seu secretário da Comunicação e que também destinaria o cargo a outro repórter presente. Enquanto ele dava entrevista, cerca de 40 militantes do PMDB comandados por seu irmão e ex-secretário da Educação Maurício Requião faziam um protesto em frente à ""Gazeta do Povo". Um carro de som tocava a música ""Apesar de Você", de Chico Buarque.
Nota da assessoria de imprensa do governo atacou a posição do Sindicato dos Jornalistas, ao qual acusou de ""reação equivocada" e de defender ""não a liberdade de imprensa", mas ""a liberdade das empresas de manifestarem suas opiniões", e diz que ""nunca se viu cobertura de eleição no Paraná tão tendenciosa" como a deste ano nem ""tanta parcialidade em uma cobertura de entrevista coletiva com o governador quanto a que a mídia divulgou nesta terça-feira [anteontem]".


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