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Integrantes de CPI vão de graça a show pago pela TAM
Congressistas e autoridades ganham convites para ver Cirque du Soleil em Brasília
Juniti Saito e Gilberto Carvalho compareceram; TV Globo e Bradesco também distribuíram convites para sessões do espetáculo
RANIER BRAGON
SILVIO NAVARRO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma semana antes da votação do relatório final da CPI do
Apagão Aéreo no Senado, a
TAM, um dos objetos da investigação, distribuiu 400 ingressos do espetáculo "Alegría", do
Cirque du Soleil, a congressistas e autoridades em Brasília,
entre eles o comandante da Aeronáutica, Juniti Saito, o presidente da CPI, Tião Viana (PT-AC) -hoje presidente interino
do Senado-, e mais quatro integrantes da comissão.
Todos eles compareceram ao
espetáculo, fechado pela TAM
só para convidados -cerca de
1.600, entre eles clientes, jornalistas e beneficiários de entidades assistenciais. O evento
ocorreu na noite de quarta-feira da semana passada.
O relatório aprovado ontem
pela comissão sugere que as
empresas aéreas sejam auditadas por conta da crise aérea.
Anteontem, o Cirque du Soleil apresentou o "Alegría" em
sessão fechada, dessa vez bancada pela TV Globo, para funcionários, deputados, senadores e autoridades convidadas,
como o ministro do STF Marco
Aurélio Mello, que "bailou"
com um cantora do espetáculo,
e Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete de Lula.
"Recebi um convite de amigos, não levei em conta essa
questão. Nunca saio do Palácio,
não tomei ciência do preço do
ingresso. De fato, há um código
de ética, deveria ter tomado esse cuidado", disse Gilberto.
"Demos lá umas rodadas. Estranhei um pouco porque geralmente nós conduzimos a dama. E ela, talvez por ser uma
atriz, procurou conduzir. Depende da platéia avaliar, mas
acho que não fui tão mal", disse
Marco Aurélio, que não vê inconveniente no convite.
O Bradesco também realizou
três sessões fechadas para convidados, entre eles congressistas e autoridades.
Os políticos e as autoridades
que foram de graça ao espetáculo e as empresas que distribuíram os ingressos disseram
não ver conflito de interesse na
situação. Elas não forneceram
as listas dos convidados.
O grupo canadense Cirque
du Soleil está em turnê pelo
Brasil e estreou na capital federal em 19 de outubro. Os ingressos vão de R$ 150 a R$ 450, e as
autoridades foram colocadas,
geralmente, nos lugares cujos
ingressos são os mais caros.
"Não vejo qualquer relação
com a CPI. É vínculo zero, não
houve nenhum contato com diretor", argumentou Tião Viana.
"Ali dava quórum para votação
no plenário", brincou Ideli Salvatti (SC), líder do PT e também membro da CPI.
A Folha confirmou que os
outros três integrantes da comissão que assistiram ao espetáculo na quarta da semana
passada são Romero Jucá
(PMDB-RR), Sérgio Guerra
(PSDB-PE) e Inácio Arruda
(PC do B-CE).
Vários outros senadores
também foram ao evento, como José Nery (PSOL-PA),
Eduardo Suplicy (PT-SP) -que
disse ter sido convidado pela
"produção do evento"-, Augusto Botelho (PT-RR), Marco
Maciel (DEM-PE), Heráclito
Fortes (DEM-PI) e Pedro Simon (PMDB-RS). "O que a
gente comentou lá é que eles
poderiam melhorar um pouco
o atendimento do passageiro
em vez de gastar aquela montanha de dinheiro", disse Simon.
Alguns senadores convidados pela TAM disseram ter recusado. "Comprei ingresso e
fui com minha família outro
dia. Deu R$ 1.037. Não aceitei
os convites, até porque eu estou batendo muito nisso [crise
aérea]", disse Mário Couto
(PSDB-PA), da CPI. Outros lamentaram não terem sido convidados. "Me deixaram de fora
dessa. Queria ir, mas fui olhar o
preço dos ingressos e dava R$
1.000", disse Sibá Machado
(PT-AC), também da CPI.
"Comprei ingresso para 9 de
novembro. Não posso fazer
prejulgamento. Você tem os camarotes de empresa no Carnaval, na festa de Parintins [AM].
Soube que a TAM convidou,
que a Globo convidou, mas não
aceitei porque já havia comprado", disse o senador José Agripino (DEM-RN). "Eu não, que
convite o quê? Comprei ingresso e fui na sexta. Vocês da Folha me amam, hein?", reagiu
Wellington Salgado (PMDB-MG), membro da CPI.
Criado em comemoração ao
décimo ano do Cirque du Soleil,
em 1994, o "Alegría" é o segundo espetáculo do grupo -que já
havia vindo ao Brasil.
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