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Congresso engaveta projetos importantes
Eventuais focos de resistência e ausência de lobby colaboram para que propostas andem a passos lentos
MARIA CLARA CABRAL
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Câmara dos Deputados e Senado Federal guardam em suas
gavetas dezenas de projetos
que, embora considerados importantes pelos próprios congressistas, há anos andam a
passos lentos.
Propostas como as da nova
lei das agências reguladoras, da
reforma tributária, do fim do
voto secreto no Legislativo e da
redução da jornada de trabalho
fazem parte do grupo de 945
que já cumpriram a tramitação
nas comissões e aguardam a vez
de entrar na pauta de votações
do plenário da Câmara.
A chamada "PEC (proposta
de emenda constitucional) do
trabalho escravo", por exemplo, está há cinco anos aguardando votação em segundo turno, o que, pelo regimento da
Casa, levaria só cinco sessões.
Ela prevê a expropriação,
sem direito à indenização, de
terras onde haja exploração de
mão de obra análoga à escravidão. Por diversas vezes, chegou
a entrar na pauta de votação,
por indicação de PSOL, PT e
PDT. Mas, além da falta de
lobby forte, o projeto sofre resistência da bancada ruralista.
Além de eventuais resistências, na maioria dos casos a paralisia acontece porque não há
pressão favorável nem da sociedade, nem do governo, nem de
grupos específicos. Outro
exemplo ocorreu com a PEC
que põe fim ao voto secreto no
Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
A emenda foi aprovada em
primeiro turno pela Câmara
em setembro de 2006, como
reação às sucessivas absolvições no plenário de parlamentares acusados de envolvimento nos esquemas do mensalão e
dos sanguessugas.
Desde então, a proposta está
parada na Câmara. Ela ainda
precisa ser votada em segundo
turno e passar por outras duas
votações no Senado para entrar
em vigor. Não há nenhuma mobilização política nessa direção.
Crise no Senado
Na lista de propostas engavetadas pelo Congresso, estão
ainda o projeto de lei de repatriamento de recursos do exterior -que dá a possibilidade a
quem tem dinheiro fora do país
de repatriar o recurso com o
aval do fisco-, a emenda constitucional da revitalização do
rio São Francisco -que institui
um fundo para o rio- e a proposta de criação de um cadastro de bons pagadores, de 2004,
parada no Senado desde maio,
quando passou na Câmara.
No Senado, grande parte do
ano foi consumido por uma crise política por suspeitas de irregularidades que quase provocou a saída do presidente José
Sarney (PMDB-AP).
Ao assumir o atual cargo, o
presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), prometeu
colocar em pauta várias propostas polêmicas. Por meio de
sua assessoria, ele disse que sua
promessa está sendo realizada,
dando como exemplo a votação
da PEC que criou mais de 7.000
novas vagas de vereadores, mas
cuja eficácia foi suspensa por
decisão do Supremo.
Temer ressalta, no entanto,
que a pauta é preciso ser feita
com costura política e não de
forma monocrática. "Uma
maioria não se dispõe a fazer
um cavalo de batalhas, é preferível evitar o embate para não
perder a produtividade", diz o
vice-líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR).
O próprio congressista admite, no entanto, que, se o governo tivesse vontade, mesmo as
propostas polêmicas poderiam
ser votadas. "Quando ele [governo] quer mesmo, ele vota,
mesmo com obstrução, demora-se mais tempo, mas vota-se."
E, por falta de vontade política, a lista de propostas paradas
no Congresso deve permanecer
assim por muito tempo. Já que,
na prática, a Câmara conta com
só mais uma semana de votação. Depois disso, Temer prometeu pautar os quatro projetos sobre o pré-sal, o que deve
concentrar os esforços do Congresso até o ano que vem.
Como 2010 é ano eleitoral,
em que todas as cadeiras da Câmara e dois terços das do Senado estarão em disputa, as Casas
devem andar em ritmo lento.
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