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Lula quer confronto com Serra, diz tucano
Na semana do ultimato de Aécio, presidente do PSDB diz que "um em cada três" brasileiros já decidiu votar no paulista
Para Sérgio Guerra, trunfo
do mineiro é ter uma "maior
capacidade de aglutinação"
e a preferência de setores
que estão fora da aliança
SILVIO NAVARRO
DO PAINEL
Na semana em que o governador de Minas Gerais, Aécio
Neves, deu um ultimato para
que o PSDB defina até dezembro seu candidato à sucessão de
Lula, o presidente nacional do
partido, senador Sérgio Guerra,
diz que "um em cada três brasileiros já decidiu votar em [José]
Serra". "O próprio Lula quer estabelecer logo esse confronto."
O trunfo de Aécio seria, segundo Guerra, ter maior "capacidade de aglutinação" e a preferência de "setores que hoje
não estão na aliança" tucana.
Apesar de dizer que "os dois
vão se entender", Guerra admite que também tem pressa: "O
nosso tempo é urgente". Leia
trechos da entrevista à Folha.
FOLHA - Há duas semanas o PSDB
enfrenta desgaste, bombardeado
por aliados. É uma candidatura que
já começa em crise?
SÉRGIO GUERRA - Crise e racha
são muito utilizados para se falar sobre o PSDB. Enfrentamos
dificuldades, situações que se
repetem em diversos partidos.
Muitas vezes, nós mesmos damos consistência à tendência
de crise. Não estamos no governo, somos um partido sem dono. Mas esse partido que vive
em crise é fantasia.
FOLHA - O governador Aécio Neves
não deu ultimato ao partido?
GUERRA - O presidente do DEM
[Rodrigo Maia] disse que o
PSDB deveria abreviar a escolha. Todos os militantes de
PSDB, DEM, PPS e os que temos no PMDB assistem à exposição diária da candidatura do
governo com dinheiro público,
então é natural que a nossa
gente queira o time escalado logo. O que o Rodrigo falou deve
ser entendido como opinião.
FOLHA - Deixar a decisão para o
ano que vem, como quer o governador José Serra, não é tarde?
GUERRA - O Serra é considerado
pelo governo seu principal adversário. Isso é explicável pelos
índices da opinião pública e de
intenção de voto. Ele governa
um Estado como São Paulo, é
um líder. Um em cada três brasileiros já decidiu votar nele para presidente, deseja votar nele.
O próprio Lula provoca ele para
o debate porque quer estabelecer logo esse confronto.
FOLHA - Nesse cenário, qual é, então, o trunfo de Aécio?
GUERRA - É o Aécio ter 90% de
aprovação em Minas, capacidade de mobilização e de aglutinação. Na verdade, setores que
hoje não estão na nossa aliança
não escondem preferência por
ele. Onde vai é bem recebido.
FOLHA - Qual é o prazo real para resolver essa situação?
GUERRA - O PSDB está armando a equação nos Estados, avaliando a amplitude do apoio fora da coligação já formada com
DEM e PPS. O partido tem
pressa em ter clareza sobre isso. Eles [Serra e Aécio] têm de
se entender em cima de dados
objetivos e posições seguras. O
nosso tempo é urgente.
FOLHA - E a tese das prévias?
GUERRA - Eles vão se entender.
FOLHA - O PT vai comparar as gestões Lula e FHC. Como o PSDB responderá?
GUERRA - O candidato não é Lula nem será FHC. O drama deles é a distância entre quem é a
Dilma e quem é o Lula.
FOLHA - Mas não é vantagem o governo já ter uma pré-candidata?
GUERRA - Até agora essa candidata não se consolidou, dado o
grau de aparição que ela tem.
Ela vai ter que enfrentar o próprio anonimato, não tem experiência administrativa nem
eleitoral. O PAC não tem pernas firmes, logo ela não pode
ser apresentada como excelente administradora. É autoritária e, apesar de achá-la honesta,
ela e a democracia não combinam. O que sustentará o governo será o Bolsa Família.
FOLHA - Mas e o PAC e o Minha Casa, Minha Vida?
GUERRA - O que há são variações do Bolsa Família. O projeto era deixar a Dilma fora dos
programas sociais, como administradora capaz de resolver
problemas de infraestrutura e
gastos públicos. Só que a ministra fica batendo na mesa e as
obras têm problemas no TCU.
FOLHA - O PSDB tem um projeto
melhor para mostrar?
GUERRA - Nós sabemos governar. Quem duvida basta olhar
nossos governos. Vamos manter os programas sociais, mas
nos fixar num programa de desenvolvimento econômico e
geração de empregos. A saúde
está arrasada, apagão na educação, a Petrobras aparelhada, e
não podemos concordar que
empresas como a Vale virem
agências de aparelhamento.
FOLHA - E o pré-sal?
GUERRA - Queriam que fizéssemos oposição ao pré-sal e não
fizemos. Vamos é cuidar dele.
FOLHA - Preocupa o acordo entre o
PT e o PMDB?
GUERRA - Esse esforço com o
PMDB e outros abraços são para tentar confirmar a Dilma e
evitar a candidatura de Ciro
Gomes. Eles não têm como inventar outro candidato e não
querem o Ciro. Nessa política
de fazer aliança até com Judas,
depois vão ter de explicar que
continua o mensalão.
FOLHA - Mas o PMDB tem o maior
número de prefeituras e governos
estaduais e maioria no Congresso.
GUERRA - Alianças reais só se
dão quando são confirmadas
nos Estados. Se o objetivo era
capturar o tempo de TV do
PMDB, é possível que estejam
um passo à frente. Mas o
PMDB não vai com o PT em SP,
PE, BA, RS. Dos lugares com
peso eleitoral, só estarão juntos
no Rio, e com perturbação.
FOLHA - O senhor citou RJ e RS. O
que o PSDB pretende fazer?
GUERRA - Sobre o Rio, vamos
conversar na próxima semana.
No Sul, a Yeda [Crusius] está
em processo de recuperação,
venceu a questão jurídica e isso
começa a ser reconhecido. Mas
ela fará no RS a melhor política
para nossa vitória no Brasil.
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