MÔNICA BERGAMO
da Reportagem Local

Irritado com uma reportagem sobre a votação de emenda constitucional que proibia o nepotismo (contratação de parentes) no Estado do Mato Grosso do Sul, o governador José Miranda dos Santos, o Zeca do PT, decidiu censurar a TV Educativa, que é do governo. Zeca do PT tem oito parentes empregados na administração -entre eles a mulher, Gilda.
O projeto foi rejeitado na terça-feira da semana passada com o voto de deputados da base política do governador. A TV Educativa flagrou o deputado Cícero de Souza (PTB) xingando as pessoas que vaiavam os parlamentares. Ele gritou um palavrão para os manifestantes.
A TV levou a cena ao ar. "Eu não falaria palavrão na TV", diz o deputado. "Houve falta de ética do cinegrafista." Na quinta-feira seguinte, Dantas telefonou para Zeca do PT, que estava em Minas Gerais.
"Reclamei e ele falou que ia tomar providências", conta o deputado. Zeca do PT telefonou para a TV Educativa e falou com a diretora financeira, Elza Aratani.
"Ele começou a me falar umas coisas e disse que queria falar com o pessoal do jornalismo. Eu não sabia de nada e saí correndo para a redação", diz Aratani.
A gerente de jornalismo, Ângela Kempfer, telefonou para o governador. Um assessor dele, Helio Lima, conversou com ela e pediu informações sobre a matéria.
Em seguida o coordenador de comunicação do governo, Eduardo Godoy, telefonou para Ângela e disse que a matéria não deveria mais ir ao ar. "Falei para ela não mexer mais nisso. A matéria estava sem ética", diz ele. "E achei que, politicamente, não era um negócio que se deveria colocar."
Godoy cuida da propaganda do governo e a TVE não está subordinada a ele, e sim à Secretaria da Educação. Ao ser questionado pela Folha se não havia censurado a matéria, Godoy disse que deu uma "sugestão" à jornalista. "Tenho todo o direito. A TV é nossa, faz parte do governo", diz.
No sábado passado, foram presos dois suspeitos pela morte da prefeita Dorcelina Folador (PT), de Mundo Novo, assassinada no início do mês.
A TVE noticiou o fato. Helio Lima, assessor do governador, telefonou para a diretora de programação, Cassia Cortês. Disse estar na casa de Zeca do PT e ordenou que nada mais fosse noticiado sobre o caso.
A conversa foi presenciada por José Ochiuso, diretor da TV Bandeirantes. Segundo o relato de Cassia, Lima disse ainda que o jornalismo estava obrigado a submeter as pautas ao governador.
Godoy nega a ordem. "De jeito nenhum", diz. Ele teria pedido apenas para que fosse seguida a orientação da polícia, que era a de não divulgar o nome dos presos para não atrapalhar a apuração.
A Folha questionou Zeca do PT sobre a censura. Zeca respondeu que "não tem nada disso".