São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2007

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INGLATERRA

Referência no mundo, BBC mudou para manter sua independência

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

Depois de 85 anos, a BBC (British Broadcasting Corporation) -TV pública britânica que é referência em todo o mundo pela alta qualidade da programação- sofreu uma grande reestruturação há alguns meses na busca por manter sua independência em relação governo.
As alterações surgiram na esteira de uma das maiores crises da história da BBC, em 2004, quando um enfrentamento com o governo Tony Blair em torno de uma matéria levou à saída da cúpula da emissora, assim como do repórter que levou a história ao ar.
Um inquérito judicial contestado por boa parte da mídia britânica concluiu que a emissora falhou ao levar ao ar uma reportagem em que acusava o governo de "apimentar" um dossiê sobre armas de destruição em massa no Iraque. O cientista que passou anonimamente a história para o repórter suicidou-se depois que sua identidade foi revelada.
Dois anos depois da crise, a emissora criou um novo órgão para supervisionar suas atividades, o BBC Trust. "O Trust foi criado para assegurar uma maior independência, mais transparência e também uma seleção mais criteriosa dos temas da BBC", disse à Folha uma porta-voz do órgão, que começou a operar em janeiro.
Formado por 12 integrantes, o Trust decide as linhas gerais para o trabalho da emissora e presta grande atenção às opiniões dos telespectadores/ouvintes/leitores da BBC, mas não tem nenhuma conexão com o dia-a-dia das redações.
Os membros do Trust são escolhidos por um sistema público e independente de seleção, mas a última palavra cabe ao governo, que pode acolher ou vetar a indicação. "Se uma indicação é negada, o governo tem de explicar os motivos, então é muito raro que isso aconteça", argumentou a porta-voz.
Quem toca as operações da BBC é uma entidade totalmente separada, o conselho executivo, formado por 15 integrantes, escolhidos por um processo misto, com influências de dentro e de fora do governo.
A cada dez anos, a licença da BBC é renovada pela rainha -a última ocorreu em 2006, e a criação do Trust faz parte das mudanças arquitetadas para a próxima década.
A corporação é formada por quatro canais de TV aberta, alguns na TV a cabo, rádio e internet. O orçamento, em torno de 4 bilhões de libras (cerca de R$ 15 bilhões), é quase todo financiado por uma taxa de 135,5 libras que tem de ser paga por todos que tiverem TV em casa.

Imparcialidade
Com esse Orçamento independente e uma longa história de independência, a rede é sinônimo de imparcialidade e uma paixão dos britânicos, mas mesmo assim está sujeita a pressões.
O ex-diretor-geral que perdeu o cargo na crise de 2004, Greg Dyke, escreveu um livro acusando o governo de tentar interferir na cobertura que a emissora fez da Guerra do Iraque. "Todos os governos tentarão fazer isso. Os governantes são políticos. O trabalho das redes de televisão é ignorá-los nessas circunstâncias, como nós ignoramos Blair", disse Greg Dyke à Folha, em 2005.
A Guerra do Iraque, que ruiu com a credibilidade de quase a totalidade da mídia norte-americana, foi um dos maiores testes da BBC nos últimos anos. A rede foi acusada tanto pela direita quanto pela esquerda, o que é sinal de imparcialidade. Um membro do Parlamento chegou a defini-la como "Bush and Blair Corporation", mas a rede manteve uma linha crítica em relação ao governo.


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