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Ex-preso do MEP afirma que artigo de Benjamin é "um horror"
João Batista dos Santos diz não ter "nada a comentar" sobre texto em que colunista relata ter ouvido Lula dizer que tentou "subjugar" companheiro de cela
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA,
EM CARAGUATATUBA
O eletricista João Batista dos
Santos, ex-militante do MEP
(Movimento pela Emancipação do Proletariado) e um dos
homens que estiveram presos
com o então sindicalista Luiz
Inácio Lula da Silva em 1980,
durante a ditadura militar
(1964-1985), chamou de "um
horror" o artigo do colunista
César Benjamin, publicado pela Folha na semana passada.
Ao ser questionado se, conforme Benjamin relata ter ouvido de Lula, o então sindicalista tentou "subjugá-lo", num
contexto sexual, quando foram
companheiros de cela, Santos
declarou: "Não tenho nada para comentar sobre o assunto".
No artigo "Os filhos do Brasil", Benjamin relatou um comentário que diz ter ouvido do
próprio Lula, então candidato
nas eleições presidenciais de
1994. Segundo Benjamin, naquela época filiado ao PT, Lula
afirmou, numa reunião da
campanha, que, no período em
que esteve preso no Dops, em
1980, tentou "subjugar" um
companheiro chamado por ele
de "menino do MEP", cujo nome não foi citado.
Santos recebeu a reportagem
da Folha no final da noite de
domingo em sua casa, em Caraguatatuba, no litoral norte de
São Paulo, onde vive há cerca
de um ano e dez meses com a
mulher e dois de seus oito filhos. Ele não permitiu que a
entrevista fosse gravada nem
aceitou ser fotografado.
A reportagem chegou à cidade no sábado e tentava ouvi-lo
desde então. No início da madrugada de domingo, Santos
fez o primeiro contato, por e-mail. Na mensagem, disse que
havia outros "companheiros do
MEP" naquela cela do Dops e,
portanto, não entendia o motivo de o jornal procurá-lo.
Santos escreveu ainda no e-mail que não tinha nada a dizer
sobre o episódio narrado por
Benjamin e que estava "convertido em uma religião que
não me permite mentir". Finalizou o texto dizendo que ficou
"muito emocionado" com os
relatos de Benjamin sobre o
tempo em que ficou preso na
ditadura, "sendo que aqueles
mais ferozes da prisão foram
amigáveis para com ele".
No texto de sexta-feira, Benjamin relatou sua experiência
na prisão durante a ditadura e
contou que não foi molestado
pelos presos comuns.
Na entrevista à Folha, que
durou cerca de 40 minutos,
Santos, 60 anos, mudou a versão e afirmou que era o único
integrante do MEP entre os
homens presos na cela do Dops
em que também estava Lula.
Disse que continua filiado ao
PT, mas abandonou a militância após se mudar para o litoral.
Santos disse que soube do artigo de Benjamin no dia seguinte à sua publicação, quando passou a receber telefonemas de jornalistas e antigos
companheiros. Segundo ele, a
situação foi "constrangedora".
Em seguida, contou que nasceu na cidade de Cristina (411
km ao sul Belo Horizonte), onde trabalhou como agricultor
nas terras da família antes de se
mudar para a casa de parentes
em São José dos Campos (SP),
por volta dos 17 anos.
Santos disse que ficou pouco
tempo em São José e se mudou
para São Bernardo (ABC paulista), onde se tornou metalúrgico. Na década de 1970, teve
contato com o MEP, organização de esquerda que lutou contra a ditadura e, mais tarde, disse que ajudou a fundar o PT.
Segundo ele, sua função no
MEP era "fazer a conscientização política" de trabalhadores
em algumas fábricas da cidade.
Além dos 30 dias de prisão
em 1980, disse que já havia passado um período de dois dias
preso no Dops, em 1978. Quando deixou a prisão pela segunda vez, mudou-se novamente
para São José dos Campos e foi
"cuidar da vida." Militou ativamente pelo PT e, em 1983, ajudou a eleger um dos 14 irmãos,
Braz Cândido Santos, hoje com
62 anos, vereador na cidade.
Em 2003, obteve a anistia e,
há cerca de um ano e dez meses, mudou-se para o litoral.
Segundo o site do Ministério
da Justiça, ele teve deferido pedido em 30 de abril de 2003 para receber remuneração mensal de R$ 2.030,70.
O anistiado disse que não conhece Benjamin. E afirmou
acreditar que Lula "deve estar
chateado" com o relato feito
pelo colunista no artigo. Santos
se negou a fazer qualquer comentário sobre o presidente ou
o seu governo. O anistiado falou que voltou a encontrar o
ex-companheiro de cela apenas uma outra vez, antes da vitória nas eleições de 2002, mas
não soube precisar a data.
Para Santos, o jornal deveria
tê-lo procurado antes da publicação do artigo.
Santos pediu que fosse publicado que ele conheceu o publisher da Folha, Octavio Frias
de Oliveira, morto em 2007,
quando prestou serviços em
uma granja mantida pela família em São José dos Campos, na
década de 1990. Segundo ele,
nas conversas entre os dois, o
publisher elogiava Lula e se
mostrava simpático a um governo do petista.
Ele também pediu que fosse
publicada sua declaração de
que os herdeiros de Octavio
Frias de Oliveira na Folha "não
seguem o exemplo do pai." Segundo Santos, se o publisher
ainda estivesse no controle do
jornal "este artigo não teria sido publicado".
A mulher de Santos, Márcia
Cristina Muniz, disse que,
quando o marido falou de Lula,
"foi sempre de maneira positiva", e que nunca tinha ouvido
relatos sobre uma possível tentativa de abuso na prisão. Criticou ainda o artigo, que chamou
de "baixaria", e disse temer que
os filhos, em idade escolar, possam ser vítimas de chacotas
por parte dos colegas.
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