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Programa previa elevação do salário mínimo para US$ 100
Lula abandona propostas do Fome Zero da campanha
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O programa Fome Zero, anunciado na semana passada pelo
presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sofreu um choque de realidade. Foram extirpadas propostas
polêmicas e dispendiosas como
conceder aposentadorias para
trabalhadores urbanos que não
tenham contribuído para a Previdência, aumentar o salário mínimo para o equivalente a US$ 100 e
a defesa de um "processo massivo" de distribuição de terras.
Na campanha eleitoral, a proposta do Fome Zero era de que os
cupons ou cartões magnéticos a
que as famílias assistidas têm direito variassem de R$ 50 a R$ 250.
No programa divulgado semana
passada, o piso de R$ 50 virou o
teto dos benefícios.
Lançado pelo Instituto Cidadania, o Fome Zero apresentava Lula como um seu coordenador-geral e foi assumido como proposta
de programa de governo pelo então candidato do PT. "É um conjunto de proposições que nós
transformamos em um programa
de governo. E um programa de
governo exige ações concretas,
fonte de recursos, custos, início e
fim", afirmou José Graziano, ministro da Segurança Alimentar e
Combate à Fome, um dos coordenadores do projeto original.
As medidas anunciadas na semana passada são tímidas em relação às propostas apresentadas
em outubro de 2001, quando as
118 páginas do Fome Zero foram
divulgadas. As "Propostas para
uma Política Integrada de Segurança Alimentar e Combate à Fome" já estavam divididas entre
políticas estruturais, específicas e
locais, como defendeu Graziano
no lançamento na quinta-feira.
Mas, com o PT no governo, as
propostas estruturais são genéricas referências ao esforço para a
retomada do crescimento econômico e a geração de empregos.
No texto original do Fome Zero,
a primeira política de geração de
emprego e renda defendida é o
aumento do salário mínimo para
o equivalente a cerca de R$ 350. "É
fundamental retomar a política
de aumentos do salário mínimo
para o piso de US$ 100 e reduzir as
distâncias entre ele e os salários
mais altos", afirma o documento.
No Orçamento para 2003, a previsão é de que o mínimo, hoje de
R$ 200, seja elevado para R$ 215.
Parlamentares petistas pressionam por um aumento do mínimo
para R$ 240 a partir de 1º de maio,
R$ 110 a menos que o proposto
pelo Fome Zero.
O projeto defendia ainda uma
medida que hoje assusta o ministro da Previdência, Ricardo Berzoini, a universalização do direito
à aposentadoria. "Reconhecer para todos os trabalhadores por
"conta própria" urbanos e para as
inúmeras novas formas de auto-ocupação, a condição de trabalho
socialmente necessário e elegível
para obtenção dos direitos previdenciários de um salário mínimo,
independente de situar-se ou não
abaixo da linha da pobreza."
O texto chama essa medida de
"simples" e questiona a necessidade de contribuição individualizada à Previdência como condição para o seguro social: "Isso
acaba por excluir os pobres sem
capacidade, relegando-os a um
tardio amparo na assistência social, sob condição de comprovação de indigência. Isso precisa ser
corrigido, estendendo-se os mesmos direitos do regime de economia familiar rural ao urbano".
O custo dessa universalização
da Previdência é calculado em R$
20 bilhões, o que colocaria o déficit do setor acima dos R$ 90 bilhões, que o governo classifica como "urgente e necessário" combater, nas palavras do ministro da
Fazenda, Antonio Palocci Filho.
Havia ainda a proposta de estabelecer mecanismos fiscais de
compensação para pequenas e
médias empresas que concedessem benefícios de alimentação a
seus funcionários. O projeto calculava que de 42,1 milhões de trabalhadores, 17,3 milhões tinham
algum tipo de ajuda para alimentação. Defendia benefícios para
que esse número fosse ampliado.
O Fome Zero original defendia
"a massiva distribuição de terras
como política estrutural de desenvolvimento", capaz de redistribuir renda, ampliar as fontes de
recursos familiares, aumentar o
autoconsumo dos assentados e
dinamizar economias regionais.
O programa ainda refutava totalmente o uso de produtos transgênicos: "Coerentemente com o
diagnóstico de que o problema da
fome do Brasil, hoje, não é a falta
de disponibilidade de alimentos,
mas o acesso a eles, não concordamos com a justificativa de que a
produção de alimentos transgênicos ajude a combater a fome."
Sementes transgênicas, usadas
nos EUA e na Argentina, visam
maior produtividade e um menor
uso de pesticidas. Mas seus oponentes na Europa, dizem que elas
podem causar danos à saúde.
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