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NOVO CONGRESSO
Sarney, eleito presidente da Casa por 76 votos a 2, diz que é preciso "ceder espaço" para obter "paz social'; Heloísa Helena não comparece
Senadores defendem pressa nas reformas
RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Por 76 votos a 2 e uma abstenção, o senador José Sarney
(PMDB-AP) foi eleito ontem presidente do Senado Federal. Ao tomar posse, ele convocou o Congresso a ajudar o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva a aprovar rapidamente as reformas tributária
e previdenciária e advertiu as elites a "ceder espaço para ganhar o
principal, que é a paz social".
O clima de boa vontade em relação ao Planalto dominou a posse
dos 54 senadores eleitos em outubro de 2002 para um mandato de
oito anos. Os outros 27 ainda têm
mais quatro anos. Os senadores
do PFL e do PSDB assumiram dizendo-se na oposição, mas com
discurso de apoio às reformas que
defenderam no governo passado.
"O clima de lua-de-mel é passageiro", advertiu o senador tucano
Tasso Jereissati (CE). "Por enquanto, as reformas juntam todo
mundo. O meu receio é que, daqui a pouco, a oposição ao governo seja interna", disse, externando um sentimento comum a todas as bancadas: o de que o próprio PT resista às mudanças.
"Nós estamos prontos para votar as reformas, mas o governo
precisa assegurar o apoio dos radicais deles", disse o líder do
PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Dos 81 senadores, a única ausente era a petista Heloísa Helena
(AL), contrariando orientação do
PT para que toda a bancada de 14
senadores comparecesse e votasse
em Sarney, que presidirá a Casa
pela segunda vez.
A tendência de apoio às reformas, no entanto, não significa um
cheque em branco para o governo. "O PFL apóia as reformas tributária e previdenciária, que são
compromissos nossos. Mas precisa conhecer as propostas do governo, que serão o núcleo a partir
do qual se iniciará a discussão",
disse Marco Maciel (PE), ex-vice-presidente da República.
Sarney foi mais enfático ao
comprometer o Congresso com
as reformas, embora não tenha
entrado no mérito das propostas.
"Indaga-se muito se é possível fazê-las [as reformas tributária e
previdenciária" na velocidade que
o país necessita. Respondo que
sim. Basta-nos vontade política".
Em seu discurso de posse, Sarney considerou ""fascinante" o
atual momento político do país:
""A biografia do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva é uma referência do Brasil para o mundo democrático". Segundo ele, ""torna-se possível vislumbrar a construção de um pacto social com a diminuição das tensões e a compreensão das elites de que é hora
de ceder espaços para ganhar o
principal, que é a paz social".
Como exemplo de que a mais
dura oposição viria do próprio
PT, Virgílio citou a gravação do
discurso do ministro Antonio Palocci (Fazenda) na reunião com a
bancada petista anteontem. Um
deputado federal, suspeita a cúpula do PT, gravou a reunião reservada e entregou a fita a um jornal. Palocci se sentiu traído.
"Esse pessoal do PT tem de perder a mania de clandestinidade.
Essa gravação revela uma tremenda falta de caráter e é a constatação de que o lobo do PT será o
PT", afirmou Virgílio.
Na correlação de forças no Congresso, PSDB e PFL querem reivindicar a instituição de um líder
da minoria, expediente previsto
no regimento, mas nunca implementado. O ocupante faria um
contraponto ao líder do governo.
Oposição tucana
A vitória de Virgílio para líder
do PSDB prenuncia uma oposição mais agressiva dos tucanos.
Os pefelistas estão divididos em
duas alas. O senador Antonio
Carlos Magalhães (PFL-BA) lidera um apoio contido ao novo governo. Outros senadores, como
José Agripino Maia (PFL-RN),
preferem manter maior distância.
O PMDB, que elegeu Sarney
com o apoio decisivo do governo,
deverá se aliar quase que totalmente às propostas legislativas de
Lula. "Há um clima de boa vontade. Defendo apoio irrestrito. O
governo tem um projeto de reformas esperado a anos", disse o senador Hélio Costa (PMDB-MG).
Eleito 1º vice-presidente do Senado, o petista Paulo Paim (RS)
relativizou a eventual agressividade da oposição dos tucanos: "O
governo não vai enfrentar uma
oposição muito radical. Vai prevalecer o bom senso, os interesses
do país, e não do governo".
Sarney citou presidentes que foram senadores, entre os quais
Campos Sales, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e Tancredo
Neves. Mas não fez referência a
Fernando Henrique Cardoso,
com o qual rompeu politicamente
quando sua filha, Roseana (PFL-MA), teve de desistir de concorrer
ao Planalto após a Polícia Federal
ter apreendido R$ 1,3 milhão no
escritório de uma empresa dela.
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