UOL

São Paulo, domingo, 02 de fevereiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

NOVO CONGRESSO

Sarney, eleito presidente da Casa por 76 votos a 2, diz que é preciso "ceder espaço" para obter "paz social'; Heloísa Helena não comparece

Senadores defendem pressa nas reformas

RAQUEL ULHÔA
KENNEDY ALENCAR
RAYMUNDO COSTA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Por 76 votos a 2 e uma abstenção, o senador José Sarney (PMDB-AP) foi eleito ontem presidente do Senado Federal. Ao tomar posse, ele convocou o Congresso a ajudar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a aprovar rapidamente as reformas tributária e previdenciária e advertiu as elites a "ceder espaço para ganhar o principal, que é a paz social".
O clima de boa vontade em relação ao Planalto dominou a posse dos 54 senadores eleitos em outubro de 2002 para um mandato de oito anos. Os outros 27 ainda têm mais quatro anos. Os senadores do PFL e do PSDB assumiram dizendo-se na oposição, mas com discurso de apoio às reformas que defenderam no governo passado.
"O clima de lua-de-mel é passageiro", advertiu o senador tucano Tasso Jereissati (CE). "Por enquanto, as reformas juntam todo mundo. O meu receio é que, daqui a pouco, a oposição ao governo seja interna", disse, externando um sentimento comum a todas as bancadas: o de que o próprio PT resista às mudanças.
"Nós estamos prontos para votar as reformas, mas o governo precisa assegurar o apoio dos radicais deles", disse o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM).
Dos 81 senadores, a única ausente era a petista Heloísa Helena (AL), contrariando orientação do PT para que toda a bancada de 14 senadores comparecesse e votasse em Sarney, que presidirá a Casa pela segunda vez.
A tendência de apoio às reformas, no entanto, não significa um cheque em branco para o governo. "O PFL apóia as reformas tributária e previdenciária, que são compromissos nossos. Mas precisa conhecer as propostas do governo, que serão o núcleo a partir do qual se iniciará a discussão", disse Marco Maciel (PE), ex-vice-presidente da República.
Sarney foi mais enfático ao comprometer o Congresso com as reformas, embora não tenha entrado no mérito das propostas. "Indaga-se muito se é possível fazê-las [as reformas tributária e previdenciária" na velocidade que o país necessita. Respondo que sim. Basta-nos vontade política".
Em seu discurso de posse, Sarney considerou ""fascinante" o atual momento político do país: ""A biografia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma referência do Brasil para o mundo democrático". Segundo ele, ""torna-se possível vislumbrar a construção de um pacto social com a diminuição das tensões e a compreensão das elites de que é hora de ceder espaços para ganhar o principal, que é a paz social".
Como exemplo de que a mais dura oposição viria do próprio PT, Virgílio citou a gravação do discurso do ministro Antonio Palocci (Fazenda) na reunião com a bancada petista anteontem. Um deputado federal, suspeita a cúpula do PT, gravou a reunião reservada e entregou a fita a um jornal. Palocci se sentiu traído.
"Esse pessoal do PT tem de perder a mania de clandestinidade. Essa gravação revela uma tremenda falta de caráter e é a constatação de que o lobo do PT será o PT", afirmou Virgílio.
Na correlação de forças no Congresso, PSDB e PFL querem reivindicar a instituição de um líder da minoria, expediente previsto no regimento, mas nunca implementado. O ocupante faria um contraponto ao líder do governo.

Oposição tucana
A vitória de Virgílio para líder do PSDB prenuncia uma oposição mais agressiva dos tucanos. Os pefelistas estão divididos em duas alas. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) lidera um apoio contido ao novo governo. Outros senadores, como José Agripino Maia (PFL-RN), preferem manter maior distância.
O PMDB, que elegeu Sarney com o apoio decisivo do governo, deverá se aliar quase que totalmente às propostas legislativas de Lula. "Há um clima de boa vontade. Defendo apoio irrestrito. O governo tem um projeto de reformas esperado a anos", disse o senador Hélio Costa (PMDB-MG).
Eleito 1º vice-presidente do Senado, o petista Paulo Paim (RS) relativizou a eventual agressividade da oposição dos tucanos: "O governo não vai enfrentar uma oposição muito radical. Vai prevalecer o bom senso, os interesses do país, e não do governo".
Sarney citou presidentes que foram senadores, entre os quais Campos Sales, Juscelino Kubitschek, Getúlio Vargas e Tancredo Neves. Mas não fez referência a Fernando Henrique Cardoso, com o qual rompeu politicamente quando sua filha, Roseana (PFL-MA), teve de desistir de concorrer ao Planalto após a Polícia Federal ter apreendido R$ 1,3 milhão no escritório de uma empresa dela.



Texto Anterior: No planalto: O generoso Lula
Próximo Texto: Sarney promete 'vontade política' que faltou à era FHC
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.