São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

À PF, empresário confirma também relação com Waldomiro em negociação com a CEF

Com 5 advogados, Cachoeira reafirma ter sofrido extorsão

Bruno Stuckert/Folha Imagem
O empresário Carlinhos Cachoeira chega à sede da PF em Brasília para depor sobre caso Waldomiro


IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Acompanhado de cinco advogados, o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, reiterou, em depoimento à Polícia Federal, o mesmo que já dissera ao Ministério Público Federal. Ou seja, Cachoeira diz ter sido "extorquido" por Waldomiro Diniz, ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência. Confirmou também a relação dos dois na renegociação de contrato entre a Caixa Econômica Federal e a empresa GTech do Brasil, já no governo Lula.
Ao ser questionado sobre a gravação de um vídeo no qual Waldomiro lhe pede propina de 1% sobre doações eleitorais, Cachoeira disse que só se manifestaria a respeito do assunto à Justiça.
Waldomiro deve depor hoje, em local e horário não divulgados pela PF até a conclusão desta edição. Será a primeira aparição pública do ex-assessor do ministro José Dirceu (Casa Civil) desde o dia 13 de fevereiro, data em que o vídeo foi divulgado.
O ex-subchefe vai depor em dois inquéritos diferentes. O primeiro investiga sua gestão à frente da Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro). O segundo versa sobre corrupção enquanto Waldomiro atuava no Planalto.
O clima do depoimento do empresário foi tenso, e Cachoeira não falou com jornalistas nem ao entrar nem ao sair do prédio da PF em Brasília. Segundo a Folha apurou, um dos advogados que o acompanhavam chegou a ser advertido pelo delegado Antônio César Nunes, que cuida do caso, por falar mais do que devia.
O depoimento de Cachoeira foi o primeiro colhido pela PF no inquérito aberto a pedido direto do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, em 13 de fevereiro. O empresário goiano Carlos Roberto Martins também foi ouvido.

Extorsão
O depoimento de Cachoeira ao Ministério Público Federal ocorreu na madrugada do dia 18 para o dia 19 de fevereiro, quando ele falou da "extorsão" que sofreu de Waldomiro e do relacionamento com o ex-subchefe na renegociação de um contrato de R$ 650 milhões entre a Caixa e a GTech.
Tanto o banco estatal quanto a empresa, responsável pelo controle do sistema lotérico do país por meio de um contrato com a Caixa, negam irregularidades. A PF, porém, suspeita que Waldomiro tenha exercido tráfico de influência nos primeiros meses de 2003 para que o contrato fosse renovado, em abril, por 25 meses.
O delegado César Nunes espera ouvir, ainda nesta semana, o ex-presidente da GTech do Brasil Antonio Carlos Lino Rocha e o ex-diretor de marketing da empresa Marcelo Rovai. O Ministério Público Federal possui indícios de um encontro entre Waldomiro, Rovai e Cachoeira no início de 2003, em Brasília.
Também foram intimados o ex-vice-presidente da Caixa Mário Haag e os três funcionários da Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) que estavam de plantão no aeroporto de Brasília quando o sistema de vigilância gravou outro encontro de Waldomiro e Cachoeira.
Até a conclusão desta edição, a Justiça Federal do Rio ainda não havia autorizado a quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico de Waldomiro, Cachoeira e outras quatro pessoas físicas e uma jurídica, pertencente a Cachoeira.
Em nota divulgada ontem, Cachoeira diz que é injustamente acusado "em uma evidente estratégia de abafar denúncias [que ele fez]". Ele deve entrar nos próximos dias com pedido de habeas data, que assegura conhecimento das informações a seu respeito em processo. Segundo seus advogados, ele quer saber quais são as provas antes de dar novas declarações. O advogado Ricardo Hasson Sayeg disse que Cachoeira trouxe cópia do depoimento prestado ao Ministério Público.


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