São Paulo, terça-feira, 02 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Chefe da Casa Civil tenta reforçar imagem de que é contraponto à ortodoxia da Fazenda

Para recuperar poder, Dirceu procura enfraquecer Palocci

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Para tentar recuperar parte do poder que perdeu com o caso Waldomiro Diniz, o ministro José Dirceu (Casa Civil) tem feito articulações para enfraquecer o colega Antonio Palocci Filho (Fazenda), reforçando as naturais cobranças do PT pela suavização do rigor fiscal e monetário.
Divulgada na semana passada, a notícia de retração de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto) foi o gancho para Dirceu voltar a atacar Palocci nos bastidores. Em conversas com petistas e aliados, Dirceu deu à péssima notícia ares de crise iminente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a equipe econômica. Na quinta passada, em jantar de desagravo na casa do ministro Eunício Oliveira (Comunicações), Dirceu reforçou a imagem de que os conservadores de Palocci tomariam conta de Lula se ele deixar o governo.
No dia seguinte, muitos dos presentes entoaram o discurso de que a saída de Dirceu seria ruim para os defensores do crescimento econômico. Alguns chegaram a dizer que, se Dirceu havia perdido poder com o caso Waldomiro, Palocci sofrera desgaste semelhante com o "PIB negativo".
A Folha apurou que o governo esperava um número ruim para o PIB, mas não tão ruim. Lula, porém, avalia que o estrago causado pelo caso Waldomiro é bem superior ao da queda do PIB.
Dirceu está ainda por trás da estratégia de acirrar os ânimos no PT desde o início da crise do caso Waldomiro, no dia 13 de fevereiro, quando a revista "Época" revelou que o homem da confiança do ministro pedira propina e contribuição de campanha a um empresário. A idéia de um ato de desagravo do PT e discursos duros contra tucanos tiveram o aval de Dirceu. Até a idéia de CPI ampla contou a princípio com a simpatia do ministro da Casa Civil.
A imagem de um Dirceu insubstituível interessa ao PT mais que ao governo, porque as negociações envolvendo cargos e emendas passam pelo chefe da Casa Civil e por dois petistas ligados a ele: Marcelo Sereno, assessor especial, e Silvio Pereira, secretário de Organização do PT.
A saída de Dirceu, ainda que temporária, poria em risco acertos de poder com o PT e com aliados. Exemplo: Dirceu firmou com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), compromisso de apoiá-lo para suceder o atual presidente da Casa, o também peemedebista José Sarney (AP). Mas o socorro que recebeu de Sarney leva Dirceu a apoiá-lo para a reeleição e a buscar compensação para Calheiros, o que faz subir o custo da crise.

Transportes
A agenda positiva criada pelo governo para abafar o caso Waldomiro deve ser estendida para a área de transportes. Ricardo Correia, diretor-geral em exercício do DNIT (Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes), disse que o governo deve anunciar investimentos para o setor. Ele se reuniu ontem com Lula e os ministros Dirceu, Palocci, Anderson Adauto (Transportes) e Guido Mantega (Planejamento). A reunião continuará hoje.


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