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SOMBRA NO PLANALTO
Chefe da Casa Civil tenta reforçar imagem de que é contraponto à ortodoxia da Fazenda
Para recuperar poder, Dirceu procura enfraquecer Palocci
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para tentar recuperar parte do
poder que perdeu com o caso
Waldomiro Diniz, o ministro José
Dirceu (Casa Civil) tem feito articulações para enfraquecer o colega Antonio Palocci Filho (Fazenda), reforçando as naturais cobranças do PT pela suavização do
rigor fiscal e monetário.
Divulgada na semana passada, a
notícia de retração de 0,2% do PIB
(Produto Interno Bruto) foi o
gancho para Dirceu voltar a atacar Palocci nos bastidores. Em
conversas com petistas e aliados,
Dirceu deu à péssima notícia ares
de crise iminente entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a
equipe econômica. Na quinta passada, em jantar de desagravo na
casa do ministro Eunício Oliveira
(Comunicações), Dirceu reforçou
a imagem de que os conservadores de Palocci tomariam conta de
Lula se ele deixar o governo.
No dia seguinte, muitos dos
presentes entoaram o discurso de
que a saída de Dirceu seria ruim
para os defensores do crescimento econômico. Alguns chegaram a
dizer que, se Dirceu havia perdido
poder com o caso Waldomiro,
Palocci sofrera desgaste semelhante com o "PIB negativo".
A Folha apurou que o governo
esperava um número ruim para o
PIB, mas não tão ruim. Lula, porém, avalia que o estrago causado
pelo caso Waldomiro é bem superior ao da queda do PIB.
Dirceu está ainda por trás da estratégia de acirrar os ânimos no
PT desde o início da crise do caso
Waldomiro, no dia 13 de fevereiro, quando a revista "Época" revelou que o homem da confiança
do ministro pedira propina e contribuição de campanha a um empresário. A idéia de um ato de desagravo do PT e discursos duros
contra tucanos tiveram o aval de
Dirceu. Até a idéia de CPI ampla
contou a princípio com a simpatia
do ministro da Casa Civil.
A imagem de um Dirceu insubstituível interessa ao PT mais
que ao governo, porque as negociações envolvendo cargos e
emendas passam pelo chefe da
Casa Civil e por dois petistas ligados a ele: Marcelo Sereno, assessor especial, e Silvio Pereira, secretário de Organização do PT.
A saída de Dirceu, ainda que
temporária, poria em risco acertos de poder com o PT e com aliados. Exemplo: Dirceu firmou com
o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), compromisso de apoiá-lo para suceder o
atual presidente da Casa, o também peemedebista José Sarney
(AP). Mas o socorro que recebeu
de Sarney leva Dirceu a apoiá-lo
para a reeleição e a buscar compensação para Calheiros, o que
faz subir o custo da crise.
Transportes
A agenda positiva criada pelo
governo para abafar o caso Waldomiro deve ser estendida para a
área de transportes. Ricardo Correia, diretor-geral em exercício do
DNIT (Departamento Nacional
de Infra-estrutura de Transportes), disse que o governo deve
anunciar investimentos para o setor. Ele se reuniu ontem com Lula
e os ministros Dirceu, Palocci,
Anderson Adauto (Transportes)
e Guido Mantega (Planejamento).
A reunião continuará hoje.
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