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Igreja faz crítica a juros altos e diz que Brasil é um "paraíso financeiro"
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário-geral da CNBB
(Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, criticou ontem a política econômica do governo Luiz Inácio
Lula da Silva, dizendo que é preciso rever "os juros altos" porque o
Brasil tem sido um "paraíso financeiro", extremamente concentrador. Para ele, a população
brasileira esperava mais em relação às ações sociais de Lula.
Bispo auxiliar de São Paulo, d.
Odilo citou o fato de o crescimento do PIB brasileiro ter ficado em
2,3% no ano passado como um
dos fatores que dificultam a redução da concentração de renda.
"É preciso rever isso. O paraíso
financeiro é o Brasil. A política
brasileira é extremamente concentradora", disse o secretário-geral da CNBB, logo após o lançamento oficial da Campanha da
Fraternidade 2006.
Com o lema "Levanta-te, vem
para o meio", a campanha trata
da situação de pessoas portadoras
de deficiência no país.
Ao ser questionado se o governo Lula frustrou a sociedade, d.
Odilo completou: "A expectativa
era maior de que houvesse políticas sociais mais eficazes".
Procurada ontem, a Secretaria
de Imprensa da Presidência da
República informou que não se
manifestaria sobre as críticas.
Para d. Odilo, as políticas assistenciais são importantes e precisam ser mantidas para não piorar
a situação dos atendidos, mas são
"insuficientes para realmente
promover justiça social e econômica". "É preciso ir além. Investir
em programas de geração de renda, rever a política de juros altos."
O secretário-geral da CNBB
afirmou acreditar que os candidatos à Presidência serão cobrados
pela população a apresentar propostas de programas de inclusão
social e geração de emprego.
Dom Odilo evitou fazer comentários sobre as viagens do presidente Lula e a conotação eleitoral
que a oposição vem dando a essas
visitas. Disse que o presidente está
em seu quarto ano de mandato
"para governar". "Ninguém pode
impedi-lo de governar", afirmou,
lembrando que existem órgãos,
como o Ministério Público, responsáveis por acompanhar eventual uso eleitoral da máquina administrativa.
Aliada histórica do PT em ações
sociais, a Igreja Católica vem, por
meio de representantes da CNBB,
criticando a política econômica e
cobrando avanço na área social
desde o início do governo Lula.
Em São Paulo, a política econômica também foi alvo de críticas.
O arcebispo metropolitano de São
Paulo, cardeal dom Cláudio
Hummes, disse que o acanhado
crescimento do PIB foi, "para todo o Brasil, uma surpresa desagradável", aquém das "previsões
que já não eram satisfatórias". E
que "certamente deve fazer refletir a todos agora nessa campanha
eleitoral". Dom Cláudio defendeu
o crescimento econômico e a redução de juros, além de políticas
sociais que não se limitem à transferência de renda.
Segundo dom Cláudio, a Igreja
tem obrigação de pregar valores
éticos -como honestidade, democracia e liberdade- nas eleições deste ano. "A questão da ética no sentido de uma luta contra
corrupção é muito viva na Igreja.
Aliás, está viva na sociedade. Espero que esteja viva também no
Congresso."
Dom Cláudio conclama o povo
a exigir que o Congresso investigue as denúncias de corrupção.
"Não pode, por corporativismo
interno, querer salvar as pessoas
porque os partidos se unem naquilo que chamamos de acordões
ou pizzas. Isso deve estar longe de
um Congresso que se considera
ético", disse.
Colaborou a Reportagem Local
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