São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006

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Igreja faz crítica a juros altos e diz que Brasil é um "paraíso financeiro"

LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário-geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), dom Odilo Pedro Scherer, criticou ontem a política econômica do governo Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que é preciso rever "os juros altos" porque o Brasil tem sido um "paraíso financeiro", extremamente concentrador. Para ele, a população brasileira esperava mais em relação às ações sociais de Lula.
Bispo auxiliar de São Paulo, d. Odilo citou o fato de o crescimento do PIB brasileiro ter ficado em 2,3% no ano passado como um dos fatores que dificultam a redução da concentração de renda.
"É preciso rever isso. O paraíso financeiro é o Brasil. A política brasileira é extremamente concentradora", disse o secretário-geral da CNBB, logo após o lançamento oficial da Campanha da Fraternidade 2006.
Com o lema "Levanta-te, vem para o meio", a campanha trata da situação de pessoas portadoras de deficiência no país.
Ao ser questionado se o governo Lula frustrou a sociedade, d. Odilo completou: "A expectativa era maior de que houvesse políticas sociais mais eficazes".
Procurada ontem, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República informou que não se manifestaria sobre as críticas.
Para d. Odilo, as políticas assistenciais são importantes e precisam ser mantidas para não piorar a situação dos atendidos, mas são "insuficientes para realmente promover justiça social e econômica". "É preciso ir além. Investir em programas de geração de renda, rever a política de juros altos."
O secretário-geral da CNBB afirmou acreditar que os candidatos à Presidência serão cobrados pela população a apresentar propostas de programas de inclusão social e geração de emprego.
Dom Odilo evitou fazer comentários sobre as viagens do presidente Lula e a conotação eleitoral que a oposição vem dando a essas visitas. Disse que o presidente está em seu quarto ano de mandato "para governar". "Ninguém pode impedi-lo de governar", afirmou, lembrando que existem órgãos, como o Ministério Público, responsáveis por acompanhar eventual uso eleitoral da máquina administrativa.
Aliada histórica do PT em ações sociais, a Igreja Católica vem, por meio de representantes da CNBB, criticando a política econômica e cobrando avanço na área social desde o início do governo Lula.
Em São Paulo, a política econômica também foi alvo de críticas. O arcebispo metropolitano de São Paulo, cardeal dom Cláudio Hummes, disse que o acanhado crescimento do PIB foi, "para todo o Brasil, uma surpresa desagradável", aquém das "previsões que já não eram satisfatórias". E que "certamente deve fazer refletir a todos agora nessa campanha eleitoral". Dom Cláudio defendeu o crescimento econômico e a redução de juros, além de políticas sociais que não se limitem à transferência de renda.
Segundo dom Cláudio, a Igreja tem obrigação de pregar valores éticos -como honestidade, democracia e liberdade- nas eleições deste ano. "A questão da ética no sentido de uma luta contra corrupção é muito viva na Igreja. Aliás, está viva na sociedade. Espero que esteja viva também no Congresso."
Dom Cláudio conclama o povo a exigir que o Congresso investigue as denúncias de corrupção. "Não pode, por corporativismo interno, querer salvar as pessoas porque os partidos se unem naquilo que chamamos de acordões ou pizzas. Isso deve estar longe de um Congresso que se considera ético", disse.


Colaborou a Reportagem Local

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