São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/VALERIODUTO

Para evitar "fracasso", comissão quer apresentar relatório final com mais "mensaleiros"

CPI deve incluir dez novos nomes na lista de sacadores

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A parte principal do relatório final da CPI dos Correios deve ampliar a lista de congressistas "mensaleiros" em até cerca de mais dez nomes. É possível que um deles seja o de um senador. Só três pessoas até agora sabem com segurança quem pode ser incluído: o senador Delcídio Amaral (PT-MS), o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) e um técnico que trabalha para a comissão.
Até hoje, 19 nomes de deputados foram relacionados ao caso do "mensalão". Quatro renunciaram para escapar da cassação. Dois foram absolvidos pelo plenário da Câmara. Onze aguardam julgamento e só dois foram cassados -Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP).
Quando o escândalo tomou corpo, com as duas entrevistas de Jefferson à Folha, em junho passado, o então presidente nacional do PTB falava em aproximadamente 80 congressistas envolvidos no esquema.
Segundo a Folha apurou, os novos nomes que devem ser incorporados à lista dos "mensaleiros" devem sair de duas apurações distintas dentro da CPI.
A primeira é conduzida pelo deputado ACM Neto (PFL-BA), e investiga a relação entre fundos de pensão de empresas estatais federais e corretoras.
A outra investigação é com o nome de todos os assessores de deputados e de senadores no Congresso. A CPI verifica se essas pessoas receberam depósitos em conta corrente ou se fizeram saques na boca do caixa de contas relacionadas a empresas de Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser um dos principais operadores do "mensalão".
Esses cruzamentos com nomes de assessores de congressistas já produziu bem mais de uma dezena de possíveis novos parlamentares "mensaleiros". O problema é que Delcídio Amaral, presidente da comissão, e Osmar Serraglio, relator, não sabem quais são os casos de verdadeiros serviços prestados ou de conexões com o esquema do "mensalão".

Critério de corte
O maior obstáculo para a CPI dos Correios é elaborar um critério de corte nas informações que foram obtidas até agora. Essa decisão precisa ser tomada antes da entrega do texto preliminar do que será o relatório final -a data estabelecida é 21 de março.
Há casos de assessores de congressistas que sacaram ou receberam depósitos de valor inferior a R$ 1.000 ao longo do período investigado pela comissão. Esses, em tese, terão seus chefes excluídos da nova lista de "mensaleiros". O valor é considerado muito pequeno pela cúpula da CPI.
Ocorre que pode haver casos em que o deputado ou senador não recebe de fato nada em sua conta nem faz saque na boca do caixa. Mas por descuido permitiu a um assessor receber algum dinheiro diretamente do valerioduto, por ser uma cifra pequena.
A CPI dos Correios não conseguiu, até o momento, decifrar quais são as situações que se encaixam nessa hipótese.

Pressão e novidades
Há também outro aspecto adicional que move a decisão do comando da CPI dos Correios. Delcídio e Serraglio não querem chegar ao dia 21 sem novidades para apresentar. Sabem que a investigação pode ser classificada como um fracasso se não incluir mais nomes na lista de congressistas acusados de terem se beneficiado do esquema do "mensalão".
Ao mesmo tempo, Delcídio e Serraglio têm sofrido grande pressão de congressistas que sabem ou intuem que seus nomes estão entre os novos possíveis "mensaleiros".
Alguns oposicionistas querem conhecer em detalhes os critérios de corte que serão adotados para incluir novos nomes e excluir outros. Essa discussão deve monopolizar os debates internos da CPI até a revelação da lista.


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