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Magistrados usam apartamentos do Senado
Ministro do STJ, dois desembargadores do TRF e uma juíza federal moram em unidades de uso exclusivo dos senadores
Diretor-geral da Casa diz que os imóveis são emprestados; primeiro-secretário da Mesa
afirmou que se trata de uma "cooperação" com o Judiciário.
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apartamentos funcionais de
uso privativo dos senadores estão ocupados por um ministro
do STJ (Superior Tribunal de
Justiça), dois desembargadores
do TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região e uma juíza
federal. Até o mês passado, um
ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) também ocupava um imóvel.
O Senado possui 72 apartamentos, de 240 m2e quatro
quartos, localizados em uma
região nobre da capital, destinados à moradia dos senadores
durante o exercício do mandato. Como são 81 senadores, a
Casa paga um auxílio-moradia
de R$ 3.800 por mês, a cada senador, quando não há apartamento funcional disponível.
No momento há 17 apartamentos funcionais vazios porque
estariam passando por obras
de manutenção.
Apesar de os apartamentos
serem reservados para uso
"privativo" dos senadores, como consta de ato da comissão
diretora do Senado, estão morando nos imóveis o ministro
do STJ Antonio Herman de
Vasconcellos e Benjamin, os
desembargadores Neuza Maria
Alves da Silva e Leomar Amorim, do TRF da 1ª Região, além
da juíza federal Gilda Seixas. O
ministro Joaquim Barbosa, do
STF, também morou em um
dos apartamentos por um ano
e dois meses. Deixou o imóvel
no mês passado.
"Minha família é grande e
aluguel de apartamento aqui
em Brasília é muito caro", disse
Gilda Seixas. Ela se mudou para um imóvel funcional do Senado no primeiro semestre do
ano passado e disse que, na
época, pediu autorização ao
primeiro-secretário, senador
Efraim Morais (PFL-RN). O
pefelista é responsável pela administração dos apartamentos.
"Mas os móveis são todos
meus", disse ela.
Gilda afirmou que paga uma
taxa, que seria depositada em
uma conta bancária do Senado,
e cujo valor ela não quis revelar. A desembargadora Neuza e
o gabinete do desembargador
Amorim também informaram
que é descontada uma taxa de
ocupação de imóvel funcional
de seus contracheques.
"Cooperação"
O diretor-geral do Senado,
Agaciel Maia, afirmou que os
quatro apartamentos estão
"emprestados em caráter excepcional e temporário". Já
Efraim, que é o primeiro-secretário, disse que é uma "cooperação" com o Judiciário.
Ao ser informado dos casos
pela reportagem, a primeira
reação de Agaciel foi perguntar:
"Quem são [os moradores]?". E
a de Efraim foi dizer que eles já
estavam lá antes de ele assumir
a primeira-secretaria, em
2005. Confrontado com as afirmações dos ocupantes dos imóveis, ele lembrou que concedeu
as autorizações.
"É a concessão de uma licença especial temporária. O apartamento não é cedido. A gente
nem pode ceder apartamento
funcional porque os prédios
são do Senado, e não da União.
Se fosse da União era normal",
disse Agaciel.
Sobre as taxas que seriam cobradas, o primeiro-secretário
do Senado e o diretor-geral da
Casa negaram que seja descontada alguma quantia por parte
do Senado. "Só se eles pagam
para o órgão de origem. Para o
Senado, não", disse Agaciel.
O Ato da Comissão Diretora
número 30, de 2002, regulamenta a destinação, a ocupação
e a utilização dos espaços físicos no Complexo Arquitetônico do Senado. No documento,
os imóveis residenciais localizados na quadra 309, blocos C,
D e G da Asa Sul, em Brasília,
são classificados como de uso
"privativo" dos senadores.
Não há previsão de punições
para quem estiver ocupando os
imóveis irregularmente.
O documento também especifica que esses apartamentos,
que funcionam como uma extensão do Senado, serão disponibilizados com mobiliário e
eletrodomésticos "básicos". O
Judiciário também possui
apartamentos funcionais.
Em 2004, reportagem da Folha revelou que 19 ex-deputados continuavam usufruindo
dos apartamentos funcionais
da Câmara mesmo um ano e
quatro meses depois de terem
encerrado o mandato.
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