São Paulo, sexta-feira, 02 de março de 2007

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Ação opõe ministros do STF e promotores

Para Gilmar Mendes e Cezar Peluso, há "uso político" nos processos de improbidade contra autoridades

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Dois ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) -o vice-presidente, Gilmar Mendes, e Cezar Peluso- acusaram ontem procuradores da República de fazerem "uso político" da ação de improbidade administrativa contra autoridades.
As afirmações foram feitas no plenário do STF, após o ministro Eros Grau pedir vista de um recurso que tenta extinguir processo no qual o ex-ministro da Ciência e Tecnologia Ronaldo Sardenberg (hoje presidente da Anatel) foi condenado na primeira instância por viajar a passeio em avião oficial.
Mendes e Peluso já votaram, no caso de Sardenberg, para anular o processo e declarar os agentes políticos (autoridades) imunes às ações de improbidade. Os procuradores da República e promotores de Justiça dizem que, se o voto prevalecer no STF, haverá impunidade.
Os presidentes da ANPR (Associação Nacional dos Procuradores da República), Nicolao Dino, e da Conamp (Associação Nacional dos Membros do Ministério Público), José Carlos Cosenzo, comentaram as declarações. "As afirmações dele [ Mendes] estão fora de contexto. Não dizem respeito à causa em julgamento. Apenas expressam sentimento pessoal", disse Dino. "Ele exorbitou, foi um abuso", afirmou Cosenzo.
O julgamento do recurso de Sardenberg era aguardado com expectativa. Seria a primeira vez em que o STF se manifestaria sobre a Lei de Improbidade Administrativa (nš 8.429, de 1992) aos agentes políticos.
Mendes foi mais duro no ataque. Citou a recente ação de improbidade contra Raul Jungmann (PPS-PE), deputado e ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, como exemplo de perseguição. Deu nome de três procuradores da República que, na sua opinião, atuariam de forma exorbitante: Guilherme Schelb, Luiz Francisco de Souza e Valquíria Quixadá.
O ministro disse que Jungmann foi "acusado escandalosamente" em ação de improbidade por desvio de função no Incra. "Se de fato ele foi responsável por isso, por que o procurador-geral não abriu inquérito criminal? Foi uso político notório num momento delicado da disputa eleitoral na Câmara."
Peluso reforçou as críticas.
A ação contra Jungmann foi proposta pelos procuradores da República em Brasília Raquel Branquinho e José Alfredo de Paula Silva. Somente o procurador-geral pode pedir ao STF a abertura de inquérito criminal contra presidente da República, ministros de Estado, deputados e senadores, por causa do foro privilegiado.
Entretanto a ação de improbidade contra eles pode ser proposta por qualquer procurador da República. O mesmo ocorre com promotores de Justiça em relação a prefeitos. Elas são baseadas em acusações de enriquecimento ilícito e desvio de recursos públicos. As punições podem ser a perda do cargo público, a suspensão temporária dos direitos políticos e a devolução do dinheiro desviado. (SILVANA DE FREITAS)


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