São Paulo, domingo, 02 de março de 2008

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PAC de Lula beneficia "Jaderlândias" do Pará

Governo federal destina quase 10% das verbas do PAC no Estado para desfavelizar comunidades que levam o nome de seu aliado

Prefeito de Castanhal nega que Jaderlândia tenha sido favorecida devido ao nome, mas reconhece que havia bairros em situação pior

Alan Marques/Folha Imagem
Palafitas no bairro Jaderlândia, em Ananindeua (PA), que vão receber recursos do PAC


HUDSON CORRÊA
ALAN MARQUES
ENVIADOS A ANANINDEUA E CASTANHAL (PA)

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo Lula tem no Pará projetos -no valor de R$ 123,3 milhões- para "sanear" duas Jaderlândias e um Jardim Jader Barbalho, comunidades que levam o nome do deputado peemedebista do Pará. O valor representa quase 10% do total de R$ 1,3 bilhão do PAC no Pará.
Os recursos serão aplicados na desfavelização de três comunidades, que surgiram de invasões realizadas 23 anos atrás com o aval de Jader, então governador do Pará (1983-1987).
Jaderlândia e a comunidade Jardim Jader Barbalho ficam em Ananindeua (vizinha a Belém). A cidade tem como prefeito Helder Barbalho (PMDB), filho de Jader. Há ainda uma outra Jaderlândia na cidade de Castanhal (70 km de Belém).
Investigado por suspeita de fraudes no Banpará e de irregularidades na emissão de Títulos da Dívida Agrária, Jader renunciou ao mandato em 2001. Chegou a ser preso em 2002, mas foi eleito deputado federal.
Nas comunidades Jaderlândia e Jardim Jader Barbalho, o esgoto corre a céu aberto nas ruas de terra. Quando chove, as casas alagam. Nessas comunidades existem também palafitas sob as quais corre esgoto a céu aberto e água de igarapés. O mato cresce nas outras ruas.
Os açougues exibem carne pendurada em ganchos fora do freezer: "Tem freezer, mas o pessoal diz que não gosta de carne fria", diz a dona da Casa de Carne Jaderlândia, de Castanhal, Maria de Fátima Oliveira, 51. Ela mora há 18 anos no bairro, que surgiu de uma invasão. "Na época, o Jader era bem poderoso. Todos os anos tinha festa e ele vinha aqui [até] há quatro anos. [No ano seguinte] eu perguntei se o Jader veio para festa. Disseram não. Então não participo mais", diz Maria.
"Infelizmente, este bairro chama-se Jaderlândia", diz Alírio José Duarte, 44, presidente da associação de moradores: "O Jader distribuiu lotes na Jaderlândia. Dizia: vote em mim que você vai ter um lote". Segundo ele, até 2004 o deputado bancava a festa de aniversário do bairro: "Agora cortamos ele". Ele admite que, apesar de nunca tê-lo apoiado, recebeu lote em seu governo: "Não tinha alternativa, o que ia fazer?"
Em Jaderlândia de Castanhal falta água por até três dias, diz Duarte, mas a maior parte do bairro tem asfalto e casas de alvenaria. Nele existe uma escola estadual chamada "Elcione T. Zahluth Barbalho" -nome da deputada federal pelo PMDB e ex-mulher de Jader.
Já no Jardim Jader Barbalho, em Ananindeua, a deputada é lembrada por outra razão. "Na época, a dona Elcione teve aqui. Disse que, se nós apoiássemos ele [Jader], não viria polícia. Aí tivemos o apoio dele e por isso colocamos Jardim Jader Barbalho como nome", diz a cobradora de ônibus Ana Lúcia Soares Pinheiro, 40.
"Nosso bairro está abandonado", diz Ana Lúcia, que lamenta que o local destinado a uma escola tenha virado campo de futebol. Os jogos são organizados por Jesus Costa, 55, o Biro-Biro, que trabalha na prefeitura e elogia o prefeito. Seu amigo Oswaldo Meireles, 33, metalúrgico, critica Helder, mas os dois concordam que o prefeito vai tirar o PAC do papel devido ao nome do bairro: "É o nome e a honra do pai dele que estão em jogo", diz Jesus. O carpinteiro Vicente Rayol, 48, de Jaderlândia, não crê nisso: "Vou morrer nesta lama".
As obras de saneamento, construção de casas e urbanização serão executadas também com recursos da Prefeitura de Ananindeua e do governo do Pará. Com isso o investimento alcança R$ 160,5 milhões.
Dados da prefeitura e do Estado dizem que 31,7 mil famílias vão ser beneficiadas em Jaderlândia e 1.700 no Jardim Jader Barbalho. Na Jaderlândia de Castanhal serão 3.200.
Jader é aliado da governadora Ana Júlia Carepa (PT), que, na semana passada, lançou obras do PAC ao lado de Helder. Os dois negam que os projetos tenham sido direcionados às comunidades para promover Jader. Helder, porém, deu entrevista à Folha no canteiro de uma avenida que faz parte do PAC. Seus assessores cuidaram para que a placa da obra ficasse atrás dele para sair nas fotos.
Entre os seis projetos do PAC em Ananindeua, apenas o Jaderlândia e o Jardim Jader Barbalho vão receber verbas diretas da União, a fundo perdido. Os demais projetos serão financiados com dinheiro do FGTS e pagos pela prefeitura.
Embora também negue que a Jaderlândia de Castanhal tenha sido beneficiada pelo PAC devido ao nome, o prefeito, Hélio Leite (PR), reconhece que há bairros em condições piores, mas "foi critério justo porque é área carente. [Os outros] ficaram para segunda etapa".


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