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PAC de Lula beneficia "Jaderlândias" do Pará
Governo federal destina quase 10% das verbas do PAC no Estado para desfavelizar comunidades que levam o nome de seu aliado
Prefeito de Castanhal nega que Jaderlândia tenha sido favorecida devido ao nome, mas reconhece que havia bairros em situação pior
Alan Marques/Folha Imagem
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Palafitas no bairro Jaderlândia, em Ananindeua (PA), que vão receber recursos do PAC |
HUDSON CORRÊA
ALAN MARQUES
ENVIADOS A ANANINDEUA
E CASTANHAL (PA)
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do governo Lula tem no Pará projetos -no valor de R$ 123,3 milhões- para "sanear" duas Jaderlândias e um Jardim Jader
Barbalho, comunidades que levam o nome do deputado peemedebista do Pará. O valor representa quase 10% do total de
R$ 1,3 bilhão do PAC no Pará.
Os recursos serão aplicados
na desfavelização de três comunidades, que surgiram de invasões realizadas 23 anos atrás
com o aval de Jader, então governador do Pará (1983-1987).
Jaderlândia e a comunidade
Jardim Jader Barbalho ficam
em Ananindeua (vizinha a Belém). A cidade tem como prefeito Helder Barbalho (PMDB),
filho de Jader. Há ainda uma
outra Jaderlândia na cidade de
Castanhal (70 km de Belém).
Investigado por suspeita de
fraudes no Banpará e de irregularidades na emissão de Títulos
da Dívida Agrária, Jader renunciou ao mandato em 2001. Chegou a ser preso em 2002, mas
foi eleito deputado federal.
Nas comunidades Jaderlândia e Jardim Jader Barbalho, o
esgoto corre a céu aberto nas
ruas de terra. Quando chove, as
casas alagam. Nessas comunidades existem também palafitas sob as quais corre esgoto a
céu aberto e água de igarapés. O
mato cresce nas outras ruas.
Os açougues exibem carne
pendurada em ganchos fora do
freezer: "Tem freezer, mas o
pessoal diz que não gosta de
carne fria", diz a dona da Casa
de Carne Jaderlândia, de Castanhal, Maria de Fátima Oliveira, 51. Ela mora há 18 anos no
bairro, que surgiu de uma invasão. "Na época, o Jader era bem
poderoso. Todos os anos tinha
festa e ele vinha aqui [até] há
quatro anos. [No ano seguinte]
eu perguntei se o Jader veio para festa. Disseram não. Então
não participo mais", diz Maria.
"Infelizmente, este bairro
chama-se Jaderlândia", diz Alírio José Duarte, 44, presidente
da associação de moradores: "O
Jader distribuiu lotes na Jaderlândia. Dizia: vote em mim que
você vai ter um lote". Segundo
ele, até 2004 o deputado bancava a festa de aniversário do
bairro: "Agora cortamos ele".
Ele admite que, apesar de nunca tê-lo apoiado, recebeu lote
em seu governo: "Não tinha alternativa, o que ia fazer?"
Em Jaderlândia de Castanhal falta água por até três dias,
diz Duarte, mas a maior parte
do bairro tem asfalto e casas de
alvenaria. Nele existe uma escola estadual chamada "Elcione T. Zahluth Barbalho" -nome da deputada federal pelo
PMDB e ex-mulher de Jader.
Já no Jardim Jader Barbalho, em Ananindeua, a deputada é lembrada por outra razão.
"Na época, a dona Elcione teve
aqui. Disse que, se nós apoiássemos ele [Jader], não viria polícia. Aí tivemos o apoio dele e
por isso colocamos Jardim Jader Barbalho como nome", diz
a cobradora de ônibus Ana Lúcia Soares Pinheiro, 40.
"Nosso bairro está abandonado", diz Ana Lúcia, que lamenta que o local destinado a
uma escola tenha virado campo
de futebol. Os jogos são organizados por Jesus Costa, 55, o Biro-Biro, que trabalha na prefeitura e elogia o prefeito. Seu
amigo Oswaldo Meireles, 33,
metalúrgico, critica Helder,
mas os dois concordam que o
prefeito vai tirar o PAC do papel devido ao nome do bairro:
"É o nome e a honra do pai dele
que estão em jogo", diz Jesus. O
carpinteiro Vicente Rayol, 48,
de Jaderlândia, não crê nisso:
"Vou morrer nesta lama".
As obras de saneamento,
construção de casas e urbanização serão executadas também
com recursos da Prefeitura de
Ananindeua e do governo do
Pará. Com isso o investimento
alcança R$ 160,5 milhões.
Dados da prefeitura e do Estado dizem que 31,7 mil famílias vão ser beneficiadas em Jaderlândia e 1.700 no Jardim Jader Barbalho. Na Jaderlândia
de Castanhal serão 3.200.
Jader é aliado da governadora Ana Júlia Carepa (PT), que,
na semana passada, lançou
obras do PAC ao lado de Helder. Os dois negam que os projetos tenham sido direcionados
às comunidades para promover
Jader. Helder, porém, deu entrevista à Folha no canteiro de
uma avenida que faz parte do
PAC. Seus assessores cuidaram
para que a placa da obra ficasse
atrás dele para sair nas fotos.
Entre os seis projetos do
PAC em Ananindeua, apenas o
Jaderlândia e o Jardim Jader
Barbalho vão receber verbas
diretas da União, a fundo perdido. Os demais projetos serão
financiados com dinheiro do
FGTS e pagos pela prefeitura.
Embora também negue que
a Jaderlândia de Castanhal tenha sido beneficiada pelo PAC
devido ao nome, o prefeito, Hélio Leite (PR), reconhece que
há bairros em condições piores, mas "foi critério justo porque é área carente. [Os outros]
ficaram para segunda etapa".
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