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Investigação da PF liga Camargo Corrêa a fraude em nota fiscal
Diálogos interceptados pela polícia mostram discussão sobre planilha de computador que seria entregue à empreiteira
Grampos sequenciais em um mesmo dia, incluindo doleiro e uma funcionária da construtora, falam em "montagem" de documento
FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Durante a Operação Castelo
de Areia, a Polícia Federal relacionou a Construtora Camargo
Corrêa a uma suposta tentativa
de fraudar notas fiscais. A empresa é investigada por eventuais crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e doações ilegais a partidos políticos.
O principal indício apresentado pela Polícia Federal é um
conjunto de diálogos sequenciais interceptados no dia 31 de
outubro do ano passado. Nas
gravações, fala-se em "montagem" de notas fiscais, que deveriam ser entregues na sede da
Camargo Corrêa, em São Paulo.
O advogado da empresa, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, afirmou ser "risível" a possibilidade de a Camargo Corrêa,
uma das maiores construtoras
do país, se valer de notas fiscais
frias.
Os interlocutores dos diálogos gravados pela polícia e que
estão transcritos nos relatórios
são: 1) Marisa Iaquino, secretária de Fernando Dias Gomes,
executivo da Camargo Corrêa,
2) José Diney Matos, tido como
doleiro pela polícia; 3) e homem identificado apenas como
"Santoro".
A primeira conversa que chamou a atenção da polícia foi registrada no dia 31 de outubro,
às 8h28 da manhã.
Santoro, que ainda não havia
surgido nas escutas telefônicas,
telefonou para o doleiro relatando a dificuldade que tivera
na noite anterior para preparar
o documento.
Disse que, após tentar numa
máquina de escrever, recorreu
ao computador. "Numa forma
de planilha excel, criei uma matriz com letra menorzinha, e fiquei trabalhando nessa matriz,
trabalhando, trabalhando, trabalhando, eu e o David, coitado,
ele me ajudou aqui até as dez
horas da noite. A gente montou
a matriz bonitinha. Aí imprimimos as quatro vias no computador, entendeu?".
Sobre o resultado, "ficou bonitinha", "um negócio profissional mesmo", afirmou Santoro, que completou: "Então, eu
tô aqui com o envelope".
Em seguida, o doleiro passou
as instruções para que ele entregasse o envelope à secretária
da Camargo Corrêa, Marisa, na
portaria da empreiteira. Ele indicou o número do ramal utilizado por ela.
Menos de uma hora depois, a
Polícia Federal capturou uma
segunda ligação telefônica, desta vez entre a secretária e o doleiro. A primeira confirmou
que Santoro havia passado pela
empresa e deixado o envelope.
No período da tarde, Marisa
voltou a telefonar para o doleiro, agora com dúvidas sobre a
nota. "Seguinte, ah..., nessa nota que vocês enviaram, mais recibo e tudo mais, não tem uma
indicação pra depósito. Que
banco, você tem os dados bancários?". O doleiro responde:
"Não, é o mesmo, é o mesmo da
outra vez, igualzinho, não muda nada".
Em seguida, ainda diante da
dúvida da secretária, o doleiro
passa o número do celular de
Santoro para que Marisa tire as
dúvidas diretamente com ele.
Os diálogos e a acusação de
uso de notas "frias" fazem parte
de relatórios que a PF enviou
para o juiz Fausto Martin De
Sanctis, um dos responsáveis
pelo caso. Porém, eles não integram o pedido de prisão dos
acusados feito pelo magistrado
e que deflagrou a operação.
Operação
A Operação Castelo de Areia
foi deflagrada na semana passada. No dia da operação, entre
outros, foram presos os diretores da construtora Pietro Francesco Giavina Bianchi, Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato
e Raggi Badra Neto, além das
secretárias Darcy Flores Alvarenga e Marisa Berti Iaquino.
No sábado passado, a Justiça
Federal concedeu habeas corpus beneficiando todos os presos, entre eles, os funcionários
da empreiteira.
Em uma de suas decisões, a
desembargadora Cecília Mello,
do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, afirmou
que as palavras e expressões
utilizadas pelo juiz Fausto De
Sanctis para justificar a "custódia cautelar" revelavam "meras
conjecturas":
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