São Paulo, quinta-feira, 02 de abril de 2009

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Investigação da PF liga Camargo Corrêa a fraude em nota fiscal

Diálogos interceptados pela polícia mostram discussão sobre planilha de computador que seria entregue à empreiteira

Grampos sequenciais em um mesmo dia, incluindo doleiro e uma funcionária da construtora, falam em "montagem" de documento


FERNANDO BARROS DE MELLO
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante a Operação Castelo de Areia, a Polícia Federal relacionou a Construtora Camargo Corrêa a uma suposta tentativa de fraudar notas fiscais. A empresa é investigada por eventuais crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e doações ilegais a partidos políticos.
O principal indício apresentado pela Polícia Federal é um conjunto de diálogos sequenciais interceptados no dia 31 de outubro do ano passado. Nas gravações, fala-se em "montagem" de notas fiscais, que deveriam ser entregues na sede da Camargo Corrêa, em São Paulo.
O advogado da empresa, Antônio Claudio Mariz de Oliveira, afirmou ser "risível" a possibilidade de a Camargo Corrêa, uma das maiores construtoras do país, se valer de notas fiscais frias.
Os interlocutores dos diálogos gravados pela polícia e que estão transcritos nos relatórios são: 1) Marisa Iaquino, secretária de Fernando Dias Gomes, executivo da Camargo Corrêa, 2) José Diney Matos, tido como doleiro pela polícia; 3) e homem identificado apenas como "Santoro".
A primeira conversa que chamou a atenção da polícia foi registrada no dia 31 de outubro, às 8h28 da manhã.
Santoro, que ainda não havia surgido nas escutas telefônicas, telefonou para o doleiro relatando a dificuldade que tivera na noite anterior para preparar o documento.
Disse que, após tentar numa máquina de escrever, recorreu ao computador. "Numa forma de planilha excel, criei uma matriz com letra menorzinha, e fiquei trabalhando nessa matriz, trabalhando, trabalhando, trabalhando, eu e o David, coitado, ele me ajudou aqui até as dez horas da noite. A gente montou a matriz bonitinha. Aí imprimimos as quatro vias no computador, entendeu?".
Sobre o resultado, "ficou bonitinha", "um negócio profissional mesmo", afirmou Santoro, que completou: "Então, eu tô aqui com o envelope".
Em seguida, o doleiro passou as instruções para que ele entregasse o envelope à secretária da Camargo Corrêa, Marisa, na portaria da empreiteira. Ele indicou o número do ramal utilizado por ela.
Menos de uma hora depois, a Polícia Federal capturou uma segunda ligação telefônica, desta vez entre a secretária e o doleiro. A primeira confirmou que Santoro havia passado pela empresa e deixado o envelope.
No período da tarde, Marisa voltou a telefonar para o doleiro, agora com dúvidas sobre a nota. "Seguinte, ah..., nessa nota que vocês enviaram, mais recibo e tudo mais, não tem uma indicação pra depósito. Que banco, você tem os dados bancários?". O doleiro responde: "Não, é o mesmo, é o mesmo da outra vez, igualzinho, não muda nada".
Em seguida, ainda diante da dúvida da secretária, o doleiro passa o número do celular de Santoro para que Marisa tire as dúvidas diretamente com ele.
Os diálogos e a acusação de uso de notas "frias" fazem parte de relatórios que a PF enviou para o juiz Fausto Martin De Sanctis, um dos responsáveis pelo caso. Porém, eles não integram o pedido de prisão dos acusados feito pelo magistrado e que deflagrou a operação.

Operação
A Operação Castelo de Areia foi deflagrada na semana passada. No dia da operação, entre outros, foram presos os diretores da construtora Pietro Francesco Giavina Bianchi, Fernando Dias Gomes, Dárcio Brunato e Raggi Badra Neto, além das secretárias Darcy Flores Alvarenga e Marisa Berti Iaquino.
No sábado passado, a Justiça Federal concedeu habeas corpus beneficiando todos os presos, entre eles, os funcionários da empreiteira.
Em uma de suas decisões, a desembargadora Cecília Mello, do TRF (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, afirmou que as palavras e expressões utilizadas pelo juiz Fausto De Sanctis para justificar a "custódia cautelar" revelavam "meras conjecturas":


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