São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2010

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Associar ciência e ateísmo só traz prejuízos

EDUARDO CRUZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Estatísticos e cientistas concordam que dados obtidos por levantamentos como este podem trazer muitas mensagens diferentes. Veja-se o curioso dado de que a proporção de respostas entre as três opções é mais ou menos a mesma, independente do grupo religioso.
Pode parecer muito estranho, pois a maioria dos líderes católicos escolheria a alternativa A, enquanto a maioria dos evangélicos defenderia a B ("criacionista"). Acontece que há muitos estudos de ciência da religião que procuram explicar a "incorreção teológica" dos fieis, apesar de muitas vezes a doutrinação ser maciça.
No caso brasileiro também temos grande facilidade para a mobilidade religiosa e a dupla pertença. O que pode se supor é que o grosso da população brasileira forme suas opiniões não nos jornais, nos cultos ou na escola, mas a partir de uma vaga consciência cristã-católica tradicional que ainda pervade nossas mentes. Valeria o mesmo para os ateus? É claro! Se fosse pelos líderes, tipo Richard Dawkins, poderia se esperar que 100% das respostas seriam C. Só 56% o indicaram. "Incorreção ateia"? Bem provável.
Talvez o aspecto mais importante seja uma tentação que assola críticos do criacionismo: partindo dos dados, que indicam que pessoas de maior escolaridade tendem a escolher menos a alternativa criacionista, assume-se que esta esteja ligada à ignorância e à superstição, enquanto a teoria da evolução "ateia" estaria ligada à racionalidade científica. Mesmo depois de bater nesta tecla durante décadas, a comunidade acadêmica americana viu crescer o número de adeptos de uma criação recente. A história de tal paradoxo é muito grande para ser contada aqui, portanto, oferecemos três rápidas considerações:
1º) os líderes criacionistas são em geral pessoas com alta escolaridade;
2º) Muito do ensino de ciências no ensino médio é ainda algo doutrinário;
3º) Temos o testemunho de Marcelo Gleiser, que sugere que a associação da cultura científica com o ateísmo só traz prejuízo à ciência e aliena pessoas religiosas que poderiam ser aliadas numa defesa sustentada da evolução darwiniana.

EDUARDO R. CRUZ é professor titular do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP



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