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Associar ciência e ateísmo só traz prejuízos
EDUARDO CRUZ
ESPECIAL PARA A FOLHA
Estatísticos e cientistas concordam que dados obtidos por
levantamentos como este podem trazer muitas mensagens
diferentes. Veja-se o curioso
dado de que a proporção de respostas entre as três opções é
mais ou menos a mesma, independente do grupo religioso.
Pode parecer muito estranho, pois a maioria dos líderes
católicos escolheria a alternativa A, enquanto a maioria dos
evangélicos defenderia a B
("criacionista"). Acontece que
há muitos estudos de ciência da
religião que procuram explicar
a "incorreção teológica" dos
fieis, apesar de muitas vezes a
doutrinação ser maciça.
No caso brasileiro também
temos grande facilidade para a
mobilidade religiosa e a dupla
pertença. O que pode se supor é
que o grosso da população brasileira forme suas opiniões não
nos jornais, nos cultos ou na escola, mas a partir de uma vaga
consciência cristã-católica tradicional que ainda pervade
nossas mentes. Valeria o mesmo para os ateus? É claro! Se
fosse pelos líderes, tipo Richard
Dawkins, poderia se esperar
que 100% das respostas seriam
C. Só 56% o indicaram. "Incorreção ateia"? Bem provável.
Talvez o aspecto mais importante seja uma tentação que assola críticos do criacionismo:
partindo dos dados, que indicam que pessoas de maior escolaridade tendem a escolher menos a alternativa criacionista,
assume-se que esta esteja ligada à ignorância e à superstição,
enquanto a teoria da evolução
"ateia" estaria ligada à racionalidade científica. Mesmo depois de bater nesta tecla durante décadas, a comunidade acadêmica americana viu crescer o
número de adeptos de uma
criação recente. A história de
tal paradoxo é muito grande
para ser contada aqui, portanto, oferecemos três rápidas
considerações:
1º) os líderes
criacionistas são em geral pessoas com alta escolaridade;
2º)
Muito do ensino de ciências no
ensino médio é ainda algo doutrinário;
3º) Temos o testemunho de Marcelo Gleiser, que sugere que a associação da cultura
científica com o ateísmo só traz
prejuízo à ciência e aliena pessoas religiosas que poderiam
ser aliadas numa defesa sustentada da evolução darwiniana.
EDUARDO R. CRUZ é professor titular do Departamento de Ciências da Religião da PUC-SP
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