São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2005

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Antropóloga foi discriminada na década de 70

DA SUCURSAL DO RIO

O ano é 1974. Duas mulheres, brancas e de classe média, sentam-se no antigo bar Jangadeiro, em Ipanema, reduto da esquerda e da elite da zona sul carioca. Apesar de estarem num ambiente, em tese, menos conservador, o garçom se recusa a servi-las. O motivo: elas estavam desacompanhadas.
Passamos para 2004. Trinta anos depois, em horário nobre da TV brasileira, a novela "Senhora do Destino" tem duas personagens que não apenas podem ir ao bar desacompanhadas como têm um relacionamento afetivo que deixa claro suas opções sexuais. Elas aparecem em um capítulo seminuas na cama, numa insinuação de que tiveram a primeira relação sexual.
Os dois episódios não deixam dúvidas de que, apesar de a desigualdade de gênero persistir em vários aspectos, muito se avançou.
Uma das personagens da história do bar Jangadeiro é a antropóloga Maria Luiza Heilborn, do Instituto de Medicina Social da UERJ.
No ano seguinte àquele episódio, em 1975, ela participou, em abril, da semana de debates na Associação Brasileira de Imprensa sobre o papel da mulher e seu comportamento na realidade brasileira, encontro que ficou marcado como o início da segunda fase do feminismo brasileiro.
Heilborn contou a história que viveu em 1974 no mês passado, no seminário "30 Anos de Feminismo no Brasil". "Numa sociedade com muito pouca memória, é importante lembrar o quanto avançamos. Isso não significa dizer que chegamos ao estágio da perfeição. Mesmo hoje, ainda há estigmas de que o movimento feminista é coisa de mulheres mal-amadas ou de sapatão", disse a antropóloga.
Em 30 anos, de fato, muita coisa mudou na sociedade e no próprio movimento feminista brasileiro.
O ano de 1975 foi um marco para a segunda fase do feminismo também por ter sido escolhido pela ONU como ano internacional da mulher. Essa segunda fase teve inspiração no movimento feminista iniciado em outros países.
Segundo o "Dicionário de Mulheres do Brasil", a primeira fase do feminismo em todo o mundo foi marcado pela luta pelo direito ao voto das mulheres.
A segunda fase, inspirada inicialmente pelas idéias da escritora francesa Simone de Beauvoir, teve início na década de 50.
Nessa segunda fase, houve uma contestação ao modelo único da mulher sedutora e submissa.
No Brasil, o feminismo foi marcado pela luta pela igualdade de direitos também na esfera privada e contra a violência sexual e doméstica mas se aliou também aos movimentos que exigiram a redemocratização do país.
O movimento se ampliou nas décadas de 80 e 90 abrigando novos grupos, como o de mulheres negras, lésbicas, prostitutas, trabalhadoras urbanas e rurais, entre outros.


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