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Antropóloga foi discriminada na década de 70
DA SUCURSAL DO RIO
O ano é 1974. Duas mulheres, brancas e de classe média, sentam-se no antigo bar
Jangadeiro, em Ipanema, reduto da esquerda e da elite
da zona sul carioca. Apesar
de estarem num ambiente,
em tese, menos conservador, o garçom se recusa a
servi-las. O motivo: elas estavam desacompanhadas.
Passamos para 2004. Trinta anos depois, em horário
nobre da TV brasileira, a novela "Senhora do Destino"
tem duas personagens que
não apenas podem ir ao bar
desacompanhadas como
têm um relacionamento afetivo que deixa claro suas opções sexuais. Elas aparecem
em um capítulo seminuas na
cama, numa insinuação de
que tiveram a primeira relação sexual.
Os dois episódios não deixam dúvidas de que, apesar
de a desigualdade de gênero
persistir em vários aspectos,
muito se avançou.
Uma das personagens da
história do bar Jangadeiro é
a antropóloga Maria Luiza
Heilborn, do Instituto de
Medicina Social da UERJ.
No ano seguinte àquele
episódio, em 1975, ela participou, em abril, da semana
de debates na Associação
Brasileira de Imprensa sobre
o papel da mulher e seu
comportamento na realidade brasileira, encontro que
ficou marcado como o início
da segunda fase do feminismo brasileiro.
Heilborn contou a história
que viveu em 1974 no mês
passado, no seminário "30
Anos de Feminismo no Brasil". "Numa sociedade com
muito pouca memória, é importante lembrar o quanto
avançamos. Isso não significa dizer que chegamos ao estágio da perfeição. Mesmo
hoje, ainda há estigmas de
que o movimento feminista
é coisa de mulheres mal-amadas ou de sapatão", disse a antropóloga.
Em 30 anos, de fato, muita
coisa mudou na sociedade e
no próprio movimento feminista brasileiro.
O ano de 1975 foi um marco para a segunda fase do feminismo também por ter sido escolhido pela ONU como ano internacional da
mulher. Essa segunda fase
teve inspiração no movimento feminista iniciado em
outros países.
Segundo o "Dicionário de
Mulheres do Brasil", a primeira fase do feminismo em
todo o mundo foi marcado
pela luta pelo direito ao voto
das mulheres.
A segunda fase, inspirada
inicialmente pelas idéias da
escritora francesa Simone de
Beauvoir, teve início na década de 50.
Nessa segunda fase, houve
uma contestação ao modelo
único da mulher sedutora e
submissa.
No Brasil, o feminismo foi
marcado pela luta pela igualdade de direitos também na
esfera privada e contra a violência sexual e doméstica
mas se aliou também aos
movimentos que exigiram a
redemocratização do país.
O movimento se ampliou
nas décadas de 80 e 90 abrigando novos grupos, como
o de mulheres negras, lésbicas, prostitutas, trabalhadoras urbanas e rurais, entre
outros.
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