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CASO BANESTADO
João Arcanjo afirma que foi procurado por Antero Paes de Barros
Condenado a 37 anos diz que
PSDB pediu dinheiro em 2002
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ (MT)
O ex-policial civil João Arcanjo
Ribeiro, 55, condenado a 37 anos
de prisão por comandar o crime
organizado em Mato Grosso, afirmou ontem à Folha que o senador Antero Paes de Barros
(PSDB-MT) foi à sua fazenda em
Cuiabá, em 2002, pedir dinheiro
para a campanha eleitoral.
Conhecido como "comendador", Arcanjo disse que não tratou de valores: encaminhou o senador ao seu ex-gerente de factoring Nilson Roberto Teixeira. O
ex-policial não soube dizer se foi
repassado dinheiro ao tucano.
Em depoimento à Justiça em
2002, Luiz Alberto Dondo Gonçalves, ex-contador de Arcanjo,
disse que a empresa Confiança
Factoring liberou R$ 5,7 milhões
para bancar a campanha de Antero por meio do Grupo Gazeta. A
operação teria sido um caixa dois.
O senador tucano, que presidiu a
CPI do Banestado, nega a acusação.
A PF (Polícia Federal) abriu inquérito para apurar o suposto caixa do PSDB em Mato Grosso nas
eleições de 1998 e 2002. Nesse último ano, Antero disputou e perdeu o governo do Estado: "Ele me
cumprimentou. E falou: "Olha, a
minha visita aqui é oficial. Eu vou
enfrentar uma campanha e vou
precisar de recurso". De antemão
disse: Antes até do que você vai falar, procure o Nilson. Empréstimos nós fazemos", disse Arcanjo.
"Ele falou inclusive: "Empréstimo não pode". [Eu disse] Isso a
gente dá um jeito. Teriam que ser
operações [comerciais de fomento]. Nós tínhamos feito muitos
empréstimos na Confiança. Queríamos parar", disse. As factorings só podem comprar cheques
de empresas. Não têm permissão
para fazer empréstimos.
Preso em Cuiabá desde março,
após ser extraditado do Uruguai,
Arcanjo falou com a Folha sob escolta de cinco policiais militares
armados com fuzis na sala da administração do presídio Pascoal
Ramos. Ele foi condenado em 17
de dezembro de 2003 pelo juiz Julier Sebastião da Silva, da 1ª Vara
Federal de Cuiabá, a 37 anos de
prisão por comandar organização
criminosa, lavar dinheiro e praticar crime contra o sistema financeiro. Ele recorreu da sentença.
Acareação
Arcanjo afirmou ainda que está
disposto a fazer uma acareação
com o senador, caso o tucano negue o encontro, porque houve testemunhas do encontro: "Tinha
pessoas que estavam lá comigo e
viram. Ele estava acompanhado
de uma pessoa. Estou tentando
lembrar quem era", disse.
Sem uniforme de presidiário, na
entrevista Arcanjo deu mais detalhe. "Ele [Antero] me procurou
na fazenda. Era antes da campanha. Queria tomar dinheiro [emprestado]. Eu falei que tomar empréstimo tinha que ser com o Nilson. Agora supostamente ele deve
ter procurado o Nilson. Ele não
falou em valores", relatou o Arcanjo. "Ele estava de chapéu, que
deixou no carro", acrescentou.
Segundo Nilson Teixeira, a
Confiança Factoring emprestou
dinheiro para a campanha eleitoral de outro tucano, o ex-governador de Mato Grosso Dante de Oliveira (1995-2002). A dívida, conforme Teixeira afirmou em depoimento à PF em abril, foi paga
com cheques emitidos por antigo
órgão público de obras, chamado
Dvop. O ex-governador nega.
"A pessoa de Dante nunca esteve na factoring. E me parece que
na época de campanha Dante fez
operações. Parece. Mas o Nilson
tem maior conhecimento disso",
disse Arcanjo, que anteontem
confirmou à PF a versão de Teixeira sobre a campanha de Dante.
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