São Paulo, sábado, 02 de maio de 2009

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Lula diz que há "hipocrisia" em crítica a congressistas

Presidente afirma que repassou suas passagens para sindicalistas quando esteve na Casa

Segundo ele, imprensa dá dimensão desproporcional ao episódio e trata como novidade assunto tão velho quanto a descoberta do país


Rafael Andrade/Folha Imagem
Lula durante inauguração de centro de neurorreabilitação e neurociência em hospital do Rio

JANAINA LAGE
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu ontem em defesa do Congresso no episódio sobre a farra de passagens aéreas. Em discurso durante evento no Rio de Janeiro, Lula disse ser "hipocrisia" a discussão sobre o salário na Câmara.
"Estou vendo agora a hipocrisia do salário na Câmara. Parece um escândalo: faça um levantamento da história da Câmara e veja se algum dia foi diferente? Sempre foi assim, não sei por que as pessoas não têm coragem de assumir as coisas como elas são", disse ele.
Após a solenidade, o presidente reiterou a defesa do Congresso ao afirmar que a imprensa dá um tratamento desproporcional ao caso. Na avaliação do petista, a imprensa trata como novidade um assunto que é mais velho do que "a descoberta do Brasil".
Lula admitiu até que, quando foi deputado, usou a cota de seu gabinete para levar sindicalistas de diversas centrais para Brasília. Ele foi eleito deputado federal por São Paulo em 1986.
"Não acho correto, mas não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília. Eu, quando era deputado, muitas vezes convoquei dirigentes da CUT, dirigentes de outras centrais para se reunirem com passagem do meu gabinete. Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para viajar para a Europa com passagem."
Durante o discurso, Lula fez elogios ao Congresso e disse que ele tem ajudado muito o governo. "Sou capaz de deixar o governo sem mágoa", disse.
Nos últimos meses, o Congresso tem sido alvo de uma série de denúncias relacionadas não só ao uso indevido de passagens por familiares como também ao uso de verbas públicas para pagar empregadas domésticas e fretar jatinhos.
Após os escândalos, a Câmara resolveu adotar medidas de restrição ao uso de passagens aéreas, mas anistiou irregularidades passadas. Elas agora só poderão ser emitidas em nome do deputado ou de assessor credenciado, mediante autorização da Mesa Diretora.
Foram extintas as cotas suplementares de passagens a que tinham direito membros da Mesa e líderes partidários. Não há mais acúmulo de créditos, o que não for usado em um ano retorna para a Câmara.

"Cretinice" do Senado
Apesar dos comentários favoráveis, diante de uma plateia de médicos, funcionários e pacientes da rede Sarah de hospitais, Lula voltou a criticar a decisão do Senado de derrubar, em 2007, a CPMF (imposto do cheque). Para Lula, a posição foi uma "cretinice ideológica e política", que prejudicou o país e o projeto do PAC da Saúde.
"Todo mundo sabe que nós ainda temos no Brasil 17 Estados que não investem os 12% previstos na Constituição na saúde. Alguns investem 6%, e todo mundo sabe que tratamento de qualidade custa caro", afirmou.
O presidente ressaltou que o episódio sobre o uso de passagens está sendo noticiado há semanas e que o país deveria priorizar discussões apontadas por ele como mais relevantes, como a reforma política e a reforma tributária. "Sabe o que me deixa angustiado? Nós temos que discutir temas importantes para este país", afirmou.


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