São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2006

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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA

Empresários cobram ética do PT e dizem votar em Alckmin

Keiny Andrade/Folha Imagem
Ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) discursa em almoço com empresários, em SP


Em encontro com Tarso Genro, Grupo de Líderes Empresariais interpela ministro sobre mensalão, economia e elo com Chávez

De 240 representantes de grandes empresas que estiveram em debate, 93% afirmam que votariam em tucano para presidente


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em um ambiente visivelmente hostil ao governo Lula, representantes de 240 grandes empresas declararam ontem preferência maciça pela candidatura do tucano Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência e colocaram o ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) numa espécie de "paredão" com perguntas sobre ética político-partidária, mensalão, crescimento "pífio", alinhamento do PT ao governo de Hugo Chávez, reação "passiva" do Brasil ao "golpe" da Bolívia na Petrobras e omissão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva diante de denúncias de corrupção.
O ministro participou do almoço-debate promovido pela Lide (Grupo de Líderes Empresariais), num hotel de São Paulo. A Lide reúne representantes de 39% do PIB brasileiro. Ao final do evento, disse que a discussão com o empresariado é fundamental para "reconhecer diferenças e buscar afinidades", e que não os achou hostis.
Em um dos momentos mais constrangedores, o empresário Marcos Arbaitman, da Maringá Turismo, perguntou se Tarso, "no fundo da alma", acredita que Lula não tenha conhecimento dos atos de ex-dirigentes petistas, como Sílvio Pereira e Delúbio Soares. "Sim, acredito. Assim como acredito também que o presidente Fernando Henrique Cardoso não sabia que foram comprados votos para sua reeleição", respondeu.

Maioria pró-Alckmin
Enquete feita pela Lide em parceria com a FGV (Fundação Getúlio Vargas) durante o almoço revelou que 93% dos presentes votariam em Alckmin, apenas 5% em Lula e 1% em Cristovam Buarque. No entanto, 51% do empresários apostam numa vitória de Lula, e 47%, na de Alckmin.
Os empresários criticaram a política externa de Lula. Tarso afirmou que o governo agiu "com prudência e responsabilidade" após a decisão de Evo Morales de nacionalizar o gás boliviano. Ele disse que o Brasil não pode agir com a Bolívia da mesma forma que os Estados Unidos agem com o Iraque.
Questionado sobre as relações do PT com Chávez, disse que "não existe alinhamento ideológico nem programático do governo Lula com o governo Chávez" e destacou as diferenças de tratamento dado pelos dois governos aos EUA.
Antes do encontro com empresários, o ministro gravou uma entrevista para o programa "Showbusiness", de João Dória Júnior, que vai ao ar no domingo. Disse ter a convicção de que, se houver segundo turno, Lula terá o apoio de boa parte do PDT e do PMDB, o que caracterizaria a disputa de uma ampla força de centro-esquerda com outra de centro-direita.
"O eixo da coligação PSDB-PFL é de centro-direita", afirmou. O PMDB, segundo ele, é de centro e vai compor com o governo. Tarso admitiu que o sistema de alianças do governo "foi totalmente insuficiente e apresentou debilidades".

Pacto
Na palestra, o ministro voltou a pregar a necessidade de um pacto suprapartidário para viabilizar a governabilidade do próximo governo.
Afirmou que seria possível um acordo "para decréscimo da carga tributária, que está à beira da insuportabilidade". No pacto, defendeu, seria possível definir taxas máxima de inflação e mínima do PIB e fixar um patamar mínimo de investimento do Estado em infra-estrutura nos próximos anos de R$ 30 bilhões a R$ 40 bilhões.
Tarso reagiu à declaração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que ontem defendeu um "choque de ética". "Essa visão de choque de ética não tem nenhuma fundamentação. Se tem alguém que se corrompe dentro do Estado, essa corrupção é induzida por um corruptor que vem de fora. Não é uma questão somente do Estado brasileiro."
O ex-presidente da Fiesp e representante da Klabin, Horário Lafer Piva, disse ontem que o cenário atual é distinto de 2002 e que "a economia vai passar relativamente incólume por essas eleições, com inquietações sazonais". No entanto, ele acha que a campanha será tensa e agressiva.
À Folha Lafer Piva disse que o empresariado "têm necessidade de ouvir os dois lados" [PT e PSDB], apesar de as pesquisas indicarem amplo favoritismo de Lula.


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