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Ministério Público denuncia diretores da Camargo Corrêa
Funcionários da empreiteira são acusados pela Polícia Federal de crimes financeiros
Investigação da Operação Castelo de Areia apontou movimentações ilegais de pelo menos US$ 16 milhões; construtora nega acusação
FLÁVIO FERREIRA
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL
O Ministério Público Federal
denunciou à Justiça quatro
executivos e duas secretárias
da construtora Camargo Corrêa, quatro doleiros e um empresário pela suposta prática de
crimes financeiros investigados durante a Operação Castelo de Areia da Polícia Federal.
A estimativa da Procuradoria
da República é de que os acusados tenham movimentado ilegalmente pelo menos US$ 16
milhões nos últimos anos.
A construtora nega a "responsabilidade penal" dos funcionários denunciados.
A Procuradoria também pediu à Justiça a continuidade do
inquérito da Castelo de Areia,
para investigar crimes de superfaturamento de obras públicas e doações ilegais a partidos
políticos e candidatos eventualmente praticados pela Camargo Corrêa, além da apuração de supostas ligações entre
os denunciados e membros da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A avaliação do Ministério Público é a de que os documentos
apreendidos durante a busca e
apreensão realizada nos escritórios da Camargo Corrêa já
comprova a ocorrência dos crimes financeiros, mas ainda é
possível aprofundar as apurações quanto aos outros delitos,
que podem ter repercussão até
na Justiça Eleitoral.
A denúncia (acusação formal) foi protocolada na sexta-feira na 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, que tem como
titular o juiz Fausto De Sanctis.
A acusação elaborada pela
procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn indica que os acusados montaram
um esquema de importação simulada de software (sistemas
para computadores).
A simulação serviu para justificar formalmente transferências de valores entre a Camargo Corrêa e mais quatro
empresas -duas brasileiras e
duas estrangeiras. Os destinos
finais do dinheiro foram vários
países de Europa, África e Ásia.
Para a Procuradoria, os valores envolvidos no esquema podem ter origem em superfaturamentos de obras públicas nas
quais a Camargo Corrêa atuou.
Apesar de ainda não possuir
provas conclusivas sobre esse
fato, a Procuradoria menciona
que há várias suspeitas de superfaturamento contra a construtora apontadas pelo Tribunal de Contas da União, que
originaram ações de improbidade em vários Estados.
No texto da denúncia, a procuradora cita seis obras sob
suspeita: a Refinaria Abreu e
Lima, em Recife, o Metrô de
Salvador, a ampliação do aeroporto de Vitória, a implantação
de trens urbanos em Fortaleza,
a implantação do terminal de
passageiros-Timbi e a modernização do trecho Rodoviária-Recife-Cabo, ambos no sistema
de trens urbanos de Recife.
Segundo a procuradora Karen, "tais registros se mostram
como graves precedentes de
conduta da Camargo Corrêa,
diante da indicação de sua reiterada prática financeira irregular. Referidos fatos, porém,
podendo envolver possíveis
práticas de crimes correlatos,
são, ainda, passíveis de investigação, razão pela qual o Ministério Público Federal se limita,
por ora, apenas a consigná-los".
Acusados
Entre os funcionários da Camargo, as principais acusações
recaem sobre os executivos
Pietro Francesco Giavina Bianchi, Dárcio Brunato e Fernando
Dias Gomes, denunciados por
fraude contra o sistema financeiro, evasão de divisas, lavagem de dinheiro e quadrilha.
O Ministério Público atribuiu aos executivos Raggi Badra Neto e às secretárias Marisa Berti Iaquinto e Darcy Flores Alvarenga participação menor no suposto esquema e denunciou-os só por evasão de divisas e formação de quadrilha.
Segundo a acusação, o suíço
Kurt Paul Pickel era o doleiro
que coordenava o esquema, a
mando de Bianchi, Brunato e
Gomes, e tinha como braços
operacionais José Diney Matos
e Jadair Fernandes de Almeida,
também indicados como doleiros pela Procuradoria. Eles foram denunciados por câmbio
ilegal, fraude financeira, evasão
de divisas, lavagem de dinheiro
e formação de quadrilha.
Maristela Sum Doherty foi
acusada pelos crimes de câmbio ilegal, evasão, lavagem e
formação de quadrilha. O empresário Girolano Santoro, dono da empresa Soft Consultoria
Ltda., supostamente usada para simular importações, por
fraude financeira, evasão e formação de quadrilha.
Se a denúncia for aceita pelo
juiz De Sanctis, terá início a
ação penal contra os acusados.
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