São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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MÃOS SUJAS
Movimentação em contas do empresário alagoano, morto em 96, revelará depósito feito pela máfia italiana
Suíça quebra sigilo bancário de PC Farias

LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília

A Suíça quebrou o sigilo bancário das contas do empresário Paulo César Farias naquele país, atendendo a pedido da Justiça Federal brasileira. A informação é do procurador suíço Jacques Ducry, do Ministério Público do Cantão de Lugano, responsável pela decisão.
Os dados sobre essas contas revelarão novos detalhes da ligação entre o ex-tesoureiro da campanha eleitoral do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-92) e a máfia italiana.
As informações vão mostrar a movimentação de pelo menos seis contas abertas em bancos suíços a mando de PC, morto em 96 em condições ainda não esclarecidas.
Os documentos também irão revelar depósitos feitos por mafiosos, a partir da Suíça, em contas de PC espalhadas pelo mundo.
Segundo a Folha apurou, entre os dados que serão liberados devem estar:
1 - Depósito de US$ 2 milhões, feito pela máfia, em uma conta de PC no ABN AMRO Bank na Holanda. O dinheiro foi mandado de uma agência do Suisse Bank Corporation pelo mafioso Angelo Zanetti, tesoureiro da maior rede de narcotráfico descoberta até hoje na Europa;
2 - Remessa de US$ 7,8 milhões do SCS Bank Alliance de Genebra para contas de PC no Uruguai, entre elas uma no ABN AMRO Bank de Montevidéu -dinheiro também mandado por Zanetti.
Das seis contas de PC na Suíça, pelos menos quatro estavam em nome de terceiros. Uma delas tinha como titular Elma Farias, mulher de PC, morta em 94.
Outras três contas -duas no SCS Bank Alliance de Genebra e uma no Suisse Bank Corporation de Zurique- tinham uma movimentação mais complexa.
PC buscou dois "testas-de-ferro" para abrir essas contas -os argentinos Luis Felipe Ricca e Jorge La Salvia. O titular da conta, no entanto, era uma pessoa jurídica (o banco Trade Link Bank, das Ilhas Cayman, paraíso fiscal do Caribe), que operava com procuração dos argentinos.
A conta em que PC Farias figurava como titular tem cópia do passaporte do empresário alagoano.

Quebra-cabeça
O caso PC/máfia está sendo investigado pelo Brasil e pela Itália desde 94. O trabalho consiste em montar um "quebra-cabeça", cujas peças são centenas de comprovantes de depósitos, retiradas e transferências bancárias feitas em bancos espalhados pelo mundo. O objetivo é esclarecer como PC movimentava seu dinheiro e quem eram seus beneficiários finais.
Investigadores brasileiros e italianos ainda não sabem por que PC recebia dinheiro de mafiosos e fazia depósitos para eles. A hipótese mais provável é que o empresário usava a máfia para "lavar" dinheiro do Esquema PC -rede de tráfico de influência comandada por ele no governo Collor.
As primeiras peças do "quebra-cabeça" já estão no Brasil. São cerca de 580 páginas de documentos -enviados, sem alarde, pela Justiça italiana, no início do ano- que trazem dados sobre movimentações de contas de PC na Europa e na América Latina.
Agora, com os dados da Suíça, o "quebra-cabeça" ficará mais completo. No Brasil, o objetivo da operação (a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público) é tentar repatriar o dinheiro que o empresário alagoano tirou ilegalmente do país, além de indiciar possíveis cúmplices.
Depois de adiar o anúncio de sua decisão por sete vezes, o procurador suíço chegou a um veredicto na semana passada. Ducry disse à Folha, por telefone, que a demora deveu-se ao excesso de trabalho.
A decisão do Ministério Público suíço pode ser considerada histórica. Há cinco anos o Brasil tenta quebrar o sigilo das contas de PC naquele país. Em julho de 93 foi feita a primeira solicitação, de acordo com registros do Bundesamt für Polizeiwesen (agência do governo da Suíça responsável por assuntos policiais).



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