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MÃOS SUJAS
Movimentação em contas do empresário alagoano, morto em 96, revelará depósito feito pela máfia italiana
Suíça quebra sigilo bancário de PC Farias
LUCAS FIGUEIREDO
da Sucursal de Brasília
A Suíça quebrou o sigilo
bancário das
contas do empresário Paulo
César Farias naquele país, atendendo a pedido
da Justiça Federal brasileira. A informação é do procurador suíço
Jacques Ducry, do Ministério Público do Cantão de Lugano, responsável pela decisão.
Os dados sobre essas contas revelarão novos detalhes da ligação
entre o ex-tesoureiro da campanha eleitoral do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990-92) e
a máfia italiana.
As informações vão mostrar a
movimentação de pelo menos seis
contas abertas em bancos suíços a
mando de PC, morto em 96 em
condições ainda não esclarecidas.
Os documentos também irão revelar depósitos feitos por mafiosos, a partir da Suíça, em contas de
PC espalhadas pelo mundo.
Segundo a Folha apurou, entre
os dados que serão liberados devem estar:
1 - Depósito de US$ 2 milhões,
feito pela máfia, em uma conta de
PC no ABN AMRO Bank na Holanda. O dinheiro foi mandado de
uma agência do Suisse Bank Corporation pelo mafioso Angelo Zanetti, tesoureiro da maior rede de
narcotráfico descoberta até hoje
na Europa;
2 - Remessa de US$ 7,8 milhões
do SCS Bank Alliance de Genebra
para contas de PC no Uruguai, entre elas uma no ABN AMRO Bank
de Montevidéu -dinheiro também mandado por Zanetti.
Das seis contas de PC na Suíça,
pelos menos quatro estavam em
nome de terceiros. Uma delas tinha como titular Elma Farias, mulher de PC, morta em 94.
Outras três contas -duas no
SCS Bank Alliance de Genebra e
uma no Suisse Bank Corporation
de Zurique- tinham uma movimentação mais complexa.
PC buscou dois "testas-de-ferro" para abrir essas contas -os
argentinos Luis Felipe Ricca e Jorge La Salvia. O titular da conta, no
entanto, era uma pessoa jurídica
(o banco Trade Link Bank, das
Ilhas Cayman, paraíso fiscal do
Caribe), que operava com procuração dos argentinos.
A conta em que PC Farias figurava como titular tem cópia do passaporte do empresário alagoano.
Quebra-cabeça
O caso PC/máfia está sendo investigado pelo Brasil e pela Itália
desde 94. O trabalho consiste em
montar um "quebra-cabeça",
cujas peças são centenas de comprovantes de depósitos, retiradas e
transferências bancárias feitas em
bancos espalhados pelo mundo. O
objetivo é esclarecer como PC movimentava seu dinheiro e quem
eram seus beneficiários finais.
Investigadores brasileiros e italianos ainda não sabem por que
PC recebia dinheiro de mafiosos e
fazia depósitos para eles. A hipótese mais provável é que o empresário usava a máfia para "lavar" dinheiro do Esquema PC -rede de
tráfico de influência comandada
por ele no governo Collor.
As primeiras peças do "quebra-cabeça" já estão no Brasil.
São cerca de 580 páginas de documentos -enviados, sem alarde,
pela Justiça italiana, no início do
ano- que trazem dados sobre
movimentações de contas de PC
na Europa e na América Latina.
Agora, com os dados da Suíça, o
"quebra-cabeça" ficará mais
completo. No Brasil, o objetivo da
operação (a cargo da Polícia Federal e do Ministério Público) é tentar repatriar o dinheiro que o empresário alagoano tirou ilegalmente do país, além de indiciar
possíveis cúmplices.
Depois de adiar o anúncio de sua
decisão por sete vezes, o procurador suíço chegou a um veredicto
na semana passada. Ducry disse à
Folha, por telefone, que a demora
deveu-se ao excesso de trabalho.
A decisão do Ministério Público
suíço pode ser considerada histórica. Há cinco anos o Brasil tenta
quebrar o sigilo das contas de PC
naquele país. Em julho de 93 foi
feita a primeira solicitação, de
acordo com registros do Bundesamt für Polizeiwesen (agência do
governo da Suíça responsável por
assuntos policiais).
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