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CELSO PINTO
As perdas de reservas
O Brasil perdeu de US$ 1 bilhão
a US$ 1,5 bilhão de reservas cambiais em maio, segundo cálculos
do mercado endossados pelo
Banco Central. A perspectiva para junho é de nova perda. Só deve
haver recuperação em julho, se as
privatizações programadas forem
bem-sucedidas.
No mercado de câmbio "comercial" (operações de comércio exterior e boa parte das operações
financeiras) houve uma entrada
líquida de US$ 1,7 bilhão. No entanto, houve uma saída líquida
estimada em US$ 3 bilhões pelo
"flutuante" (principalmente operações financeiras mais especulativas e turismo).
Isso daria uma perda de US$
1,3 bilhão. Do lado positivo, contudo, estão os juros originados
pela aplicação das reservas cambiais, que têm oscilado entre US$
350 milhões e US$ 400 milhões.
Para fechar a conta, falta um
dado mais difícil de calcular. Na
semana passada, o Banco do Brasil entrou vendendo dólares no
mercado à vista, certamente em
nome do Banco Central, para
acalmar os ânimos e as cotações.
Alguns calculam que as vendas
tenham somado até US$ 1 bilhão,
número que o BC diz ser exagerado.
São dólares vendidos aos bancos privados. Uma parte já deve
ter sido revendida ao BC, outra
continua com os bancos. A parte
que está nos bancos não deixou o
país, portanto não afetou os números do câmbio, mas não pertence mais ao BC, logo tem que
ser deduzida das reservas. O que
poderia elevar a perda de reservas para algo mais próximo a
US$ 1,5 bilhão.
Para junho, existe uma pressão
adicional: vencem US$ 780 milhões em juros e amortização de
títulos da dívida externa (IDUs).
A data do vencimento é primeiro
de julho, mas, nos três semestres
anteriores, ele foi contabilizado
no mês anterior. Se o BC mantiver a prática, o mês começa com
uma pressão negativa, que não
será contrabalançada por nenhum ingresso importante previsto de privatizações.
Os dólares especulativos
As pressões de saídas de dólares
têm vindo de várias direções, nas
últimas duas semanas, e não
apenas das Bolsas. A saída pelo
flutuante foi expressiva. Parte,
mas não tudo, é explicável por
um ajuste contábil.
É a migração de aplicações externas em renda fixa no Brasil.
Muitas dessas aplicações eram
feitas por meio de contas de
não-residentes (CC-5) e liquidadas via câmbio flutuante. Outras
vinham dos fundos oficiais de
renda fixa (Anexo 6), pelo câmbio comercial.
Com a mudança de taxação financeira, os fundos em CC-5 passaram a pagar 20% de imposto,
enquanto os via Anexo 6 apenas
15%. Em março, o BC permitiu
que, até o final de maio, quem
quisesse poderia transferir, sem
ônus, seu dinheiro da CC-5 para
o Anexo 6.
Alguns calculavam que o estoque de aplicações em renda fixa
em CC-5 superava US$ 10 bilhões. No Anexo 6, o estoque estava em torno de US$ 3 bilhões
no ano passado. No fim de março, o estoque do Anexo 6 era de
US$ 5,2 bilhões. Em abril o estoque pulou para US$ 6,5 bilhões e
até o dia 25 de maio para US$
7,8 bilhões.
Um banco estima que maio fechou em US$ 8,1 bilhões no Anexo 6, o que daria um ganho de
quase US$ 3 bilhões durante o
período de transferência das
CC-5 para o Anexo 6. É menos do
que o mercado e o próprio BC
supunham.
A transferência exigia uma documentação que nem todos os investidores via CC-5 estão dispostos a apresentar ao BC. Podem,
portanto, ter sobrado algumas
aplicações ainda na CC-5. De todo modo, fica mais claro, agora,
que o estoque do capital que vem
ao país ganhar com a diferença
entre taxas externas e internas,
tipicamente de mais curto prazo
e mais volátil, é algo em torno de
US$ 8 bilhões.
As saídas pelo câmbio flutuante, contudo, não se explicam apenas pela migração dessas aplicações de renda fixa. No cálculo de
um banco, nas duas últimas semanas a média semanal de saídas pelo flutuante, já descontada
a parcela gerada pela migração,
superou US$ 100 milhões. No início do ano a média estava em
torno de US$ 60 milhões a US$
70 milhões e, antes da crise de
outubro, em US$ 50 milhões.
Parte dessa saída mais forte é
atribuída ao vencimento de
emissões de curto prazo (6 a 9
meses), de bancos e empresas,
que não têm sido renovadas, por
dificuldades de acesso ao mercado, ou por custo muito elevado.
Esse tipo de pressão, portanto,
tenderia a continuar neste mês e
nos próximos, a menos que o
mercado internacional se recupere sensivelmente.
Em agosto e setembro, a essa
pressão se somarão os vencimentos de US$ 5,5 bilhões em "63
caipira" contratadas no início do
ano para ganhar com os juros
altos internos. Conclusão: é crucial não haver reveses nas privatizações à frente.
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