São Paulo, sábado, 02 de julho de 2005

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MEMÓRIA

Tesoureiro retoma com atraso tese de golpe

DA REDAÇÃO

O discurso de Delúbio Soares, anteontem, reviveu uma tese estimulada por aliados, mas que já parecia abandonada: a do golpismo das "elites" e da imprensa contra o governo.
Enquanto ainda ocupava o cargo de ministro da Casa Civil, mas já sob suspeição, José Dirceu conclamou a militância petista para um movimento nacional de apoio à gestão de Lula e atribuiu as acusações de corrupção a "forças políticas, sociais e conservadoras da direita".
Sua fala foi uma chave para que o tema fosse reverberado por outros parlamentares e por movimentos sociais. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), por exemplo, disse que o seu partido daria uma resposta ao "jogo rasteiro da oposição golpista". O ministro Waldir Pires (Controladoria Geral da União) também insinuou que a CPI dos Correios poderia servir a intuitos golpistas e eleitoreiros por parte da oposição.
Mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resvalou no assunto, em discurso de improviso proferido em Goiás, mês passado. Ao minimizar as denúncias de corrupção, Lula disse: "Os que torciam para que o governo fosse um desastre já estão com medo hoje é da reeleição".
Mais de 40 entidades, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e a UNE (União Nacional dos Estudantes), assinaram um documento colocando-se contra qualquer tentativa de desestabilização do governo e a prática do "denuncismo". Alguns intelectuais, como o cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, referendaram a idéia de um "golpe em branco" em curso.
Só que a tentativa de ligar o escândalo do "mensalão" a um ambiente de golpe patinou. Mesmo políticos do PT e supostamente o próprio Planalto esvaziaram o discurso, entendendo que: a) a tese do "golpismo" carecia de dados concretos; b) as denúncias precisavam ser apuradas e esclarecidas à sociedade; c) não houve apoio popular à idéia e d) falar em golpe poderia constituir um "tiro no pé".
Integrante da Comissão de Ética da Presidência da República e uma das fundadoras do PT, a cientista política e socióloga Maria Victoria Benevides, enxergou um erro tático na estratégia governista. "Há um exagero. Este governo não está tão ameaçada assim, nem pela esquerda, nem pela direita", afirmou à Folha. Ela sintetizou o pensamento de outros analistas e de membros da oposição, que responderam às acusações de suposto clima de golpismo.


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