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MEMÓRIA
Tesoureiro retoma com atraso tese de golpe
DA REDAÇÃO
O discurso de Delúbio Soares,
anteontem, reviveu uma tese estimulada por aliados, mas que já
parecia abandonada: a do golpismo das "elites" e da imprensa contra o governo.
Enquanto ainda ocupava o
cargo de ministro da Casa Civil,
mas já sob suspeição, José Dirceu conclamou a militância petista para um movimento nacional de apoio à gestão de Lula e
atribuiu as acusações de corrupção a "forças políticas, sociais e
conservadoras da direita".
Sua fala foi uma chave para
que o tema fosse reverberado
por outros parlamentares e por
movimentos sociais. A deputada federal Maria do Rosário
(PT-RS), por exemplo, disse que
o seu partido daria uma resposta ao "jogo rasteiro da oposição
golpista". O ministro Waldir Pires (Controladoria Geral da
União) também insinuou que a
CPI dos Correios poderia servir
a intuitos golpistas e eleitoreiros
por parte da oposição.
Mesmo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resvalou no assunto, em discurso de improviso proferido em Goiás, mês passado. Ao minimizar as denúncias de corrupção, Lula disse:
"Os que torciam para que o governo fosse um desastre já estão
com medo hoje é da reeleição".
Mais de 40 entidades, como o
MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) e a
UNE (União Nacional dos Estudantes), assinaram um documento colocando-se contra
qualquer tentativa de desestabilização do governo e a prática do
"denuncismo". Alguns intelectuais, como o cientista político
Wanderley Guilherme dos Santos, referendaram a idéia de um
"golpe em branco" em curso.
Só que a tentativa de ligar o escândalo do "mensalão" a um
ambiente de golpe patinou.
Mesmo políticos do PT e supostamente o próprio Planalto esvaziaram o discurso, entendendo que: a) a tese do "golpismo"
carecia de dados concretos; b) as
denúncias precisavam ser apuradas e esclarecidas à sociedade;
c) não houve apoio popular à
idéia e d) falar em golpe poderia
constituir um "tiro no pé".
Integrante da Comissão de
Ética da Presidência da República e uma das fundadoras do PT,
a cientista política e socióloga
Maria Victoria Benevides, enxergou um erro tático na estratégia governista. "Há um exagero. Este governo não está tão
ameaçada assim, nem pela esquerda, nem pela direita", afirmou à Folha. Ela sintetizou o
pensamento de outros analistas
e de membros da oposição, que
responderam às acusações de
suposto clima de golpismo.
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