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JANIO DE FREITAS
O aniversário
O êxito sobre a inflação pode
e deve ser comemorado pelo
governo (e por Itamar Franco
também), mas apresentá-lo
como sucesso além disso é falsidade histórica. Aquele êxito
é uma espécie de ilha cercada
de erros, impasses, pretensiosidades obtusas, empobrecimento do país, dramas pessoais e desgraças sociais.
O quinto aniversário do Plano Real é até um desmentido
acusatório aos seus principais
celebrantes. Fernando Henrique Cardoso e seus principais
colaboradores e apoiadores
proclamavam que em um ano,
dois para os mais cautelosos, a
inflação estaria vencida, e o
Brasil, entrando no crescimento intenso de que precisa para
tentar salvar-se. A exceção foi
Pedro Malan, com as previsões
de dois a três anos.
O quinto ano do real, porém,
é comemorado, por essas mesmas pessoas, no ano em que é
esperado, pelos próprios comemorantes, o decréscimo e nem
sequer um arremedo de crescimento econômico. Depois de
quatro anos sucessivos de resultados degradantes.
Quem celebra o êxito sobre a
inflação o faz em um palanque
montado sobre os 10 milhões
de desempregados. E cada um
deles é a figuração individual
de um drama que, de fato, humilha e arruina mais três,
quatro, cinco familiares. O
conjunto é um custo social altíssimo, próprio de tempos de
guerra.
Celebrar o êxito sobre a inflação não obscurece o aumento da dívida pública ao nível
do impagável, levada pelos
cinco anos de juros boçais, necessários ao real para não ser
devorado pela inflação. Não
obscurece, também, a transferência gratuita de uma riqueza imensa do Brasil para especuladores de fora, por intermédio da ciranda financeira
embalada pelos juros. Jamais
tantos ganharam tanto tão facilmente em tão pouco tempo.
Celebrar algo mais do que o
êxito sobre a inflação inclui
apontar as crises da Rússia e
de países asiáticos como causa
dos danos, ditos "ataques", sofridos pelo real, segundo o oficialismo, na verdade sofridos
pelo Brasil. O governo, os
apoiadores incondicionais de
Fernando Henrique e do Plano Real e o FMI precisaram, e
precisam ainda, do álibi falso.
Mas as crises alheias não tinham como consequência lógica e inevitável os tais "ataques".
A responsabilidade por sua
ocorrência e pelos agravamentos que trouxeram é, no Brasil,
absolutamente interna. Não
há especulador, nem russo,
nem asiático envolvido nessa
culpa grave, para não dizer
crime contra o país e sua gente. Os "ataques" e suas consequências foram produzidos,
estritamente, pela cega e obtusa deposição do destino da
moeda nacional nas mãos dos
especuladores internacionais.
Tanto o desastre era previsível, que não faltaram advertências. O truque para conter a
inflação trazia, no entanto, dividendos reeleitorais. Não são
as crises externas que os celebradores do aniversário deveriam acusar. Apesar disso, é
compreensível que o façam. A
única verdade dos cinco anos
celebrados é mesmo o êxito sobre a inflação. O resto se divide
entre grandes mentiras e brutais malefícios.
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