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STF libera CPIs contra governo Alckmin
Por 10 votos a 1, tribunal derruba norma da Assembléia de SP que exigia aprovação no plenário de requerimento para criar comissão
Ação foi movida pelo PT, que questionou fato de 69 CPIs, sendo pelo menos 37 delas contra a gestão do tucano, terem sido barradas na Casa
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
DA REPORTAGEM LOCAL
O STF (Supremo Tribunal
Federal) eliminou ontem o
obstáculo regimental para a
instalação, na Assembléia Legislativa de São Paulo, de CPIs
que investiguem a gestão do
presidenciável tucano Geraldo
Alckmin no governo do Estado,
entre 2001 e março passado.
Por 10 votos contra 1, o tribunal derrubou a norma do regimento interno da Assembléia
que exigia a aprovação no plenário de requerimentos para
instalação de CPIs. Foi julgada
uma ação direta de inconstitucionalidade movida pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Na atual legislatura, iniciada
em 15 de março de 2003, nenhuma CPI foi instalada. Ao todo, são 69 pedidos de investigação protocolados na Casa -pelo menos 37 deles contra o governo do tucano, como os que
propõem investigar a Febem
(Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor) e o uso de verbas publicitárias da Nossa Caixa para favorecer aliados de
Alckmin no Legislativo.
O presidente da Assembléia,
Rodrigo Garcia (PFL), afirmou
que irá cumprir a decisão, mas
aguardará a publicação da mesma para estabelecer quais serão as CPIs instaladas, já que
apenas cinco podem funcionar.
"Precisamos ver se o próprio
Supremo não indica um caminho de transição para a mudança do regimento", disse ele, ligado ao atual governador do
Estado, Cláudio Lembo (PFL).
Com ampla maioria na Casa,
os governistas se utilizavam do
requerimento para barrar as
CPIs (leia texto nesta página).
Precedente
Os ministros do STF aplicaram à decisão de ontem o mesmo princípio que norteou uma
derrota semelhante do governo
de Luiz Inácio Lula da Silva, no
ano passado. Eles disseram que
a Constituição assegura o direito das minorias políticas à criação de CPIs. Basta que um terço dos parlamentares assine requerimento nesse sentido.
"Se a regra vale para o PSDB e
para o PFL, tem que valer para
nós também", disse o líder do
PT na Assembléia, Ênio Tatto.
Em junho de 2005, o STF determinou ao presidente do Senado, Renan Calheiros
(PMDB-AL), que nomeasse os
integrantes da CPI dos Bingos,
tornando inócua uma manobra
governista para barrá-la.
Os líderes da base governista
tinham se recusado a indicar
representantes da nova CPI
contra o governo Lula, e o ex-presidente do Senado José Sarney (PMDB-AP) também se
negara a designá-los, levando
senadores da oposição a entrar
com mandados de segurança.
Como em 2005, os ministros
disseram ontem que a maioria
parlamentar não pode desrespeitar o direito das minorias à
abertura de CPIs, assegurado
pelo artigo 58 da Constituição.
Com exceção de Marco Aurélio de Mello, os ministros do
STF disseram que a necessidade de aprovação de requerimentos de instalação de CPIs
no plenário da assembléia vinculava a abertura de novas investigações parlamentares ao
crivo da maioria.
"Não há dúvida de que a norma cria obstáculos indevidos ao
exercício da minoria parlamentar ao condicionar a abertura
de CPIs à vontade da maioria",
afirmou Joaquim Barbosa.
"O que sempre enfatizamos é
que a investigação parlamentar
não interessa ao bloco majoritário, ela é instrumento das minorias", disse Celso de Mello.
Já Marco Aurélio reconheceu que a investigação parlamentar é um direito da minoria
política assegurado pela Constituição, mas afirmou que a
norma do regimento da Assembléia paulista que exigia de
aprovação em plenário não
comprometia esse direito.
Disputa eleitoral
Assim que foram informados
da decisão do STF, Tatto e a
bancada do PT definiram cinco
alvos prioritários para a sigla:
Febem, Nossa Caixa, CDHU
(Companha de Desenvolvimento Habitacional e Urbano),
e contratos do Estado com empreiteiras para a realização das
obras do Rodoanel Mário Covas e da Calha do Tietê.
Há indícios de irregularidades nos quatro últimos casos.
Já a Febem, abalada por uma
série de fugas e rebeliões nos
últimos anos, é considerada um
dos pontos mais vulneráveis da
administração tucana.
O líder do governo na Assembléia, Edson Aparecido
(PSDB), diz que seu partido não
teme a investigação, mas defende a adoção da ordem cronológica dos requerimentos
para definir os alvos. "Não vamos aceitar que o PT crie palanques eleitorais para encobrir os escândalos do governo
federal em Brasília", disse ele.
Nesse caso, nenhuma das
CPIs listadas pelo PT como
prioritárias seria instalada.
Os petistas defendem um
projeto de resolução para zerar
a contagem das CPIs.
Garcia, que ontem mesmo se
reuniu com líderes, diz que trabalhará por um acordo. "Caso
ele não ocorra, vou definir o
que será feito", disse o presidente da Assembléia.
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