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ELIO GASPARI
Boas-vindas ao embaixador Sobel
Se o doutor entrar na fila dos brasileiros, só verá Lula em setembro. Pagará R$ 260 e esperará em pé, na rua
CHEGOU A Pindorama o novo
embaixador americano, Clifford Sobel. Empresário bem-sucedido, vem na cota de escolhas
pessoais do presidente George
Bush. O embaixador, o Itamaraty e
os consulados americanos poderiam organizar um espetáculo para
o cerimonial de entrega das suas
credenciais ao "nosso guia". Num
gesto de amizade, ele se submeteria
ao ritual que seus serviços impõem
aos brasileiros que desejam visitar
os Estados Unidos.
Sobel triunfou na vida criando
empresas e sabe a importância que o
atendimento aos clientes tem para
uma quitanda, uma embaixada ou
uma fábrica de metralhadoras.
Sua última façanha foi dirigir uma
empresa pioneira na telefonia pela
internet, a Net2Phone. Meteu-se
em política, concorreu a uma cadeira de senador em Nova Jersey, perdeu e levou a embaixada em Brasília
como consolo.
O embaixador poderá avaliar o
tratamento que seu serviço consular
dá ao povo brasileiro, adaptando-se
ao cerimonial servido à escumalha.
Para apresentar-se ao "nosso guia",
passaria pelo seguinte:
1) Sua embaixada terá que telefonar ao cerimonial do Itamaraty, pedindo que se marque um dia para a
entrega de suas credenciais a Lula.
Para dar esse telefonema, deverá
pagar R$ 38. Será atendido por um
funcionário que escolherá o dia da
sua ida ao Planalto.
2) O tempo de espera a que são
submetidos os brasileiros que solicitam um visto americano em Brasília
é de 32 dias. Sorte de Sobel, porque
em São Paulo são 73 dias e, no Rio,
49. Em março, a espera em São Paulo era de 45 dias e no Rio, de 140.
Quando alguém reclama desses
prazos, a burocracia consular americana informa que o atendimento é
lento porque a demanda aumentou.
Como empresário, Sobel sabe
avaliar gerentes que justificam a
má qualidade do atendimento reclamando da freguesia.
Em Damasco, a demora é de um
dia. Em Assunção, dois.
3) Para a entrevista com Lula,
o embaixador deverá levar a carta
que o presidente George Bush lhe
deu, mais um boleto do Citibank,
comprovando que pagou o equivalente a US$ 100. O banco não pode
aceitar cheques.
4) Tudo resolvido. No início de setembro, Sobel será recebido pelo
presidente. Engano. Irá para a fila do
Planalto. No Rio e em São Paulo, terá direito a uma espera no meio da
rua. Coisa de até uma hora. Nos últimos meses, houve uma melhora: a
patuléia ganhou proteção de toldos.
Esse atendimento é produto do
massacre a que foram submetidos
em Washington os serviços diplomáticos americanos.
Mesmo assim, resulta de uma administração consular inepta e arrogante, que não faria a mesma coisa
numa empresa privada ou com cidadãos americanos.
Para dar nomes aos bois, o recorde
paulista é do doutor Christopher
McMullen, o serviço de Brasília está
sob a direção de Simon Henshaw, e o
refresco ocorrido no Rio tem o patrocínio de Edmund Atkins.
A diplomacia americana no Brasil
sempre teve altos e baixos. Em 1944,
quando o presidente Franklin Roosevelt resolveu mandar um amigo
para o Rio, nomeou Adolf Berle, um
profeta do capitalismo moderno. Há
uma lenda segundo a qual o embaixador Edwin Morgan, que ficou no
cargo de 1912 a 1933, inventou a caipirinha. Em 1930, ele achava que
Getúlio Vargas não tinha futuro.
Morgan vivia em Petrópolis, onde
foi sepultado.
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