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Por Furnas, PMDB muda o projeto da CPMF
Luiz Paulo Conde recebe convite oficial de Lula para assumir estatal; bancadas de PMDB e PSC pressionaram por nomeação
Governo quer evitar partilha do imposto com Estados e municípios; Eduardo Cunha (PMDB), relator do projeto, agora deve mudar o texto
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
LORENNA RODRIGUES
DA FOLHA ONLINE
A nomeação do ex-prefeito
do Rio Luiz Paulo Conde para a
presidência de Furnas Centrais
Elétricas, confirmada ontem
pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi uma barganha
política das bancadas na Câmara dos deputados do PMDB e do
PSC do Rio, em troca da aprovação da prorrogação da
CPMF. Conde deve assumir
dentro de dez dias.
Nem o governador do Rio,
Sérgio Cabral, nem o presidente regional do PMDB, Anthony
Garotinho, tiveram envolvimento direto na indicação. A
articulação foi feita pelo deputado federal Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), relator da emenda
da CPMF. A proposta relatada
por ele prevê que a arrecadação
de cerca de R$ 40 bilhões com o
imposto seja dividida pela
União com Estados e municípios -o que geraria enorme
perda ao governo federal.
Em troca do abandono do
projeto, a bancada do Rio ganhou a presidência de Furnas,
segundo apurou a Folha. Cunha ainda ocupa outro cargo
considerado estratégico pelo
governo na Câmara: é presidente da CPI do Apagão Aéreo.
Procurado, o deputado não
ligou de volta. A assessoria de
Conde disse que ele não comentaria o assunto.
O pacto se deu por intermédio do ministro das Relações
Institucionais, Walfrido dos
Mares Guia. Além de dirigir a
estatal, a expectativa do comando do PMDB é controlar o
fundo de pensão Real Grandeza, que conta com investimentos superiores a R$ 3 bilhões.
Antes muito próximo a Anthony Garotinho e Rosinha
Matheus, Cunha perdeu poder
com a saída do casal do governo
estadual, onde controlava a Cedae (Companhia Estadual de
Águas e Esgotos) e o Prece, seu
fundo de pensão. Conseguiu
novo foco de domínio -Furnas
e Real Grandeza. Como vice-governador, Conde ajudou Cunha na campanha de 2006 e recebeu agora a retribuição.
A indicação de Conde passou
ainda pelo PSC, partido ligado
a Garotinho. Com três deputados, o PSC vai emplacar uma
diretoria na empresa.
No Planalto ontem, Conde
disse que Lula procurava um
"gestor" e confirmou ter aceitado o convite. "Ele queria um
gestor para acelerar as obras do
PAC [Programa de Aceleração
do Crescimento]", afirmou.
A Folha apurou que Lula
pretendia resolver a situação
do ministro Nelson Hubner
(Minas e Energia) -que assumiu interinamente com o pedido de demissão de Silas Rondeau- antes de nomear o presidente de Furnas. Mas o Planalto considerou que era preciso dar um sinal à base aliada logo na retomada do recesso.
Mensalão
Na crise do mensalão em
2005, o ex-deputado Roberto
Jefferson afirmou que havia
um caixa dois em Furnas, que
mensalmente enviava R$ 3 milhões para o PT e parlamentares da base. Uma auditoria interna de Furnas investigou a
acusação, que não foi comprovada, segundo o resultado tornado público pela empresa.
O Real Grandeza foi alvo de
apurações da CPI dos Correios.
A comissão identificou o que
chamou de "investimentos de
risco" do fundo: aplicações de
R$ 181 milhões, entre 2003 e
2004, nos bancos BMG e Rural,
envolvidos no "valerioduto".
A entrada de Conde muda o
eixo de poder em Furnas, que
teve vinculações estreitas com
políticos mineiros.
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