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Tutor de cabo Anselmo é acusado de tortura
Associação de perseguidos políticos afirma que há depoimentos de pessoas torturadas no Dops por delegado, que nega acusações
Carlos Alberto Augusto diz que atuou somente como informante na perseguição a militantes e que se sente preparado para novo golpe
LUCAS FERRAZ
EM SÃO PAULO
O delegado Carlos Alberto
Augusto, do 12º distrito de São
Paulo, é suspeito de comandar
sessões de tortura no Dops (Departamento de Ordem Política
e Social) da capital na ditadura
militar (1964-85). Amigo e tutor do cabo Anselmo, ambos
participaram como informantes de um dos mais violentos
episódios do regime.
Carlos Alberto trabalhou de
janeiro de 1970 a 1977 no Dops,
onde respondia diretamente ao
chefe do órgão, Sérgio Paranhos Fleury. De acordo com
Ivan Seixas, diretor do Fórum
dos Ex-Presos e Perseguidos
Políticos de São Paulo, há vários testemunhos de pessoas
torturadas por ele nas dependências do Dops. "Ele era conhecido lá como Carlinhos Metralha. Eu mesmo o via andando sempre com uma metralhadora pendurada no ombro."
Ivan apontou Carlos Alberto
como torturador em audiência
recente no Ministério Público
Federal de SP. O delegado nega.
"Isso é mentira. Eu era agente
de informação, não trabalhava
em ações", afirma. "Apenas
cumpri meu dever de defender
o país do comunismo. Não me
arrependo de nada."
Aos 66 anos, Carlos Alberto
ainda parece viver nos anos de
chumbo. Diz estar pronto para
servir as Forças Armadas caso
seja necessário um novo golpe.
"O país que eu desejo não é este
que está aí. Esses caras do governo [Lula] são todos sanguinários. Tudo comunista bandido e covarde. Estou à disposição dos militares na hora em
que eles precisarem de novo."
O delegado considera Anselmo, tido como um dos maiores
delatores da ditadura, um injustiçado. Em sua conta, só no
Dops paulista havia mais de 50
informantes da repressão que
eram de organizações de esquerda. "Havia de tudo. De padres a médico. No trabalho que
fazia, tinha acesso a alguns."
José Anselmo dos Santos, o
líder dos marinheiros que detonou a queda do governo João
Goulart, em 64, e que depois virou informante da repressão,
tenta 45 anos depois reaver
seus documentos originais. Na
última quinta, ele fez perícia na
Justiça Federal de SP para obter de novo carteira de identidade, CPF e título eleitoral.
Massacre
A última ação de Anselmo
ocorreu junto com Carlos Alberto. No episódio, conhecido
como massacre de São Bento,
foram assassinados seis militantes da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária).
No livro "A Ditadura Escancarada", o jornalista Elio Gaspari descreveu a ação como
uma "das maiores e mais cruéis
chacinas da ditadura".
O ex-marujo tinha vida dupla: fingia militar na organização, mas entregava companheiros. Carlos Alberto também se
infiltrou na VPR por três anos.
Na época, a versão oficial era
de que houve tiroteio quando
os oficiais cercaram o local.
Mas os seis da VPR foram capturados em pelo menos quatro
lugares diferentes. Os corpos,
encontrados na chácara. "Os
mortos da VPR teriam disparado dezoito tiros, sem acertar
um só. Receberam 26, catorze
na cabeça", escreveu Gaspari.
Colaborou ANDRÉ CAMARANTE ,
da Reportagem Local
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