São Paulo, quinta-feira, 02 de setembro de 2004

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CONGRESSO

Presidente avalia que para ter maioria no Senado precisa aprovar emenda

Lula busca acordo com Renan para reeleger direção de Casas

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

RAYMUNDO COSTA
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ao líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), que deseja ter maioria na Casa e que avalia que isso passa pela aprovação da emenda constitucional que permitiria a reeleição dos atuais presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP).
Lula disse que quer se aproximar cada vez mais do PMDB, numa sinalização de aliança formal em torno de sua reeleição em 2006. Nessa articulação, deixou claro que Renan teria destaque. O presidente propôs um novo encontro, com mais gente da cúpula do PMDB, depois que conversar hoje com Sarney.
Lula deu o recado de que, se o PMDB entrar em guerra por conta da emenda da reeleição, vai procurar até a oposição para as- segurar maioria. Semana passada, ele se encontrou com senador pefelista Antonio Carlos Magalhães (BA). Hoje, Lula tem encontro marcado com Sarney, em mais um lance de sua interferência direta pró-reeleição.
O governo trabalha para levar dez senadores da oposição -entre eles, ACM e mais oito pefelistas- para a base aliada após as eleições municipais de outubro. A articulação é feita pelo ministro José Dirceu (Casa Civil).

Entendimento
Até ontem afirmando de público que não faria acordo ou aceitaria compensações, Renan deixou o Palácio do Planalto sem fazer declarações públicas. A dirigentes do PMDB afirmou que não fez acordo, mas a Folha apurou que ele já aceita um entendimento desde que não pareça derrotado.
Em 2003, então pré-candidato a presidente do Senado, Renan esticou a corda até quase o final. Recuou por uma questão de "sobrevivência política", segundo ele próprio declarou à época. Agora, já percebeu que poderá ficar em minoria novamente no PMDB se insistir no confronto.
Lula e seus principais ministros avaliam que pagarão um preço político menor se trabalharem para reeleger Sarney e João Paulo. Em maio, por exemplo, quando precisou de maioria no Senado na votação do salário mínimo de R$ 260, o governo perdeu.
Sarney trabalhou contra, chateado com a derrota semanas antes na Câmara da emenda da reeleição. Naquela votação, a cúpula do governo se dividiu porque Lula lavou as mãos.
Dirceu trabalhou pela reeleição. O colega Aldo Rebelo (Coordenação Política) jogou contra. Hoje, Lula, Dirceu e Aldo estão abertamente trabalhando pela reeleição, o que eleva a chance de a emenda ser aprovada.
O governo avalia que, sem a reeleição de Sarney, não tem alternativa factível que lhe garanta maioria no Senado. Nesse contexto, Lula deu o recado a Renan.
Dos 81 senadores, o governo conta hoje com 39 votos certos, nas contas dos aliados.

Maioria frágil
Está em curso a costura de um ritual para tentar laçar Renan de vez. Não é sólida a alegada maioria que Renan diz ter na bancada de senadores. Muitos dos aliados do líder do PMDB aceitam cargos e favores do governo para mudar de posição. Em termos eufemísticos, Renan já foi informado de que, se for para a guerra, poderá ter menos apoio do que imagina.
Com 23 senadores, o PMDB tem a maior bancada no Senado, o que lhe dá o direito de indicar o presidente da Casa, apesar de o nome ter de enfrentar votação no plenário. Renan diz contar com 16 senadores, o que daria condições de fazer maioria, mas alguns de seus apoiadores cederiam em negociações com o governo.
O encontro de ontem durou mais de uma hora no Palácio Planalto, foi presenciado parcialmente por Aldo e transcorreu em clima cordial, segundo relatos ouvidos pela Folha.


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