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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ RUMO À CASSAÇÃO
Parecer que sugere cassação recebeu 14 votos favoráveis e nenhum contrário; plenário dará palavra final sobre perda de mandato
Conselho aprova relatório que pune Jefferson
FÁBIO ZANINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O Conselho de Ética da Câmara
aprovou ontem, por unanimidade, o relatório do deputado Jairo
Carneiro (PFL-BA) que pede a
cassação de Roberto Jefferson
(PTB-RJ), envolvido no escândalo do "mensalão". A decisão ainda
precisa ser ratificada pelo plenário da Câmara.
O parecer do relator foi acolhido por 14 deputados, de sete partidos (PT, PMDB, PFL, PSDB, PP,
PL e PSB). O único a defender Jefferson foi Nelson Marquezelli
(PTB-SP), que é suplente e não teve direito a voto.
"Foi uma surpresa a unanimidade. Isso terá importância no
plenário, mas lá o voto é secreto e
o universo é mais amplo", disse o
presidente do conselho, Ricardo
Izar (PTB-SP).
Havia a expectativa de que ao
menos um oposicionista votasse
favoravelmente a Jefferson ou se
abstivesse. Alguns chegaram perto, como Carlos Sampaio (PSDB-SP), que criticou duramente o relatório, mas acabou se somando
aos demais deputados.
O pedido de cassação agora segue para a Mesa Diretora da Câmara. O presidente da Casa, Severino Cavalcanti (PP-PE), tem
duas sessões para colocar o relatório em pauta, o que deve acontecer na próxima terça-feira.
Como a semana que vem é considerada "morta" em razão do feriado, o pedido deve ser votado na
semana seguinte, mas só se houver quórum alto. Para que a cassação seja consumada, é necessário
o apoio de pelo menos 257 deputados, em votação secreta.
A tese que prevaleceu ontem
acabou tendo pouca relação com
o "mensalão" em si. Jefferson foi
considerado réu confesso por ter
admitido tráfico de influência em
estatais e recebimento de dinheiro (R$ 4 milhões) de caixa dois do
PT. Todos os deputados concordaram com esses argumentos e os
utilizaram para apoiar o parecer.
"Ele [Jefferson] declarou que
atuava nas diretorias de estatais
para arrecadar dinheiro oriundo
de caixa um e caixa dois", disse
Orlando Fantazzini (PT-SP).
"Ele não é um paladino da ética,
mas um sócio dissidente de um
esquema", afirmou seu colega
Chico Alencar (PT-RJ).
Josias Quintal (PMDB-RJ) afirmou que a cassação é merecida
porque Jefferson "até agora não
trouxe justificativa convincente
para os atos que admitiu".
Mas o ponto relativo ao "mensalão" foi bem mais polêmico.
Carneiro reafirmou que não encontrou provas do fato específico
denunciado por Jefferson, o pagamento mensal de R$ 30 mil para
deputados do PP e do PL.
Isso pode abrir caminho para
ajudar outros citados no esquema, principalmente o deputado
José Dirceu (PT-SP), apontado
como mentor do "mensalão".
"[O parecer] não considerou as
provas suficientes para um convencimento seguro da existência
do esquema de "mensalão" nos
termos denunciados pelo representado [Jefferson]. O que hoje é
público e notório é que houve um
esquema de pagamento ilícito a
parlamentares de diversos partidos, mas do qual o próprio representado foi beneficiário e é réu
confesso", afirmou o relator.
Mesada
O argumento de Carneiro de
que Jefferson merece cassação
por denunciar o "mensalão" sem
provas dividiu o conselho.
"O deputado [Jefferson] disse
que em qualquer banheiro da Câmara todo mundo sabia. Eu nunca soube do "mensalão'", afirmou
Angela Guadagnin (PT-SP).
Outros disseram acreditar que
Jefferson tem o direito de dizer o
que quiser, por ter imunidade
parlamentar. "A inviolabilidade
do mandato quanto a opiniões é
total. Roberto Jefferson falou
exercendo seu direito", disse o suplente Cézar Schirmer (PMDB-RS), que, pelos outros motivos,
apoiou a cassação.
Já o tucano Carlos Sampaio protestou contra o fato de as evidências de caixa dois e tráfico de influência não constarem da acusação inicial contra Jefferson, movida pelo PL em 7 de junho. "Jefferson confessou atos ilícitos, mas
nem mesmo a confissão elimina a
necessidade de um aditamento ao
processo", afirmou.
A aprovação do parecer foi considerada importante para os próximos processos. "Esse julgamento vai ser um divisor de águas.
Quando chegar ao plenário, será
um sinalizador se iremos ou não
julgar as coisas com coerência",
disse Gustavo Fruet (PSDB-PR).
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