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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO SANTO ANDRÉ
Na CPI dos Bingos, João Francisco Daniel relata que Gilberto Carvalho, assessor de Lula, levava dinheiro de empresas para Dirceu
Irmão de Daniel reitera acusação de propina
LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O oftalmologista João Francisco
Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel (PT), disse ontem em depoimento à CPI dos Bingos que Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva, afirmou a ele, por três vezes, que recebia propina de empresas e repassava o dinheiro ao
deputado José Dirceu (PT-SP).
A afirmação já havia sido feita
por ele em depoimento ao Ministério Público, mas, ao ser repetida
durante a sessão, causou desentendimentos entre os senadores.
José Jorge (PFL-PE) cobrou a demissão imediata de Carvalho. O
presidente da CPI, Efraim Morais
(PFL-PB), disse que é uma das
"denúncias mais consistentes recebidas pela comissão" e que, devido à acusação, "não tardará" o
depoimento de Dirceu, cuja convocação já foi aprovada.
Os governistas Tião Viana (PT-AC), Flávio Arns (PT-PR), Aloizio
Mercadante (PT-SP) e Eduardo
Suplicy (PT-SP) saíram em defesa
do chefe-de-gabinete.
Daniel foi morto em 20 de janeiro de 2002. Dois dias antes havia
sido seqüestrado. Para a Promotoria, o crime tem ligação com o
suposto esquema de propina que
havia na prefeitura da cidade.
Marta
No depoimento, João Francisco
afirmou que o dinheiro da propina da Prefeitura de Santo André
abasteceu a campanha de Marta
Suplicy, que disputava o governo
de São Paulo pelo PT, e a do presidente Lula. Mercadante reagiu:
"Se Celso Daniel estivesse vivo, ele
estaria aqui defendendo o Gilberto, que era o maior amigo dele",
afirmou. O senador disse que foi à
comissão apenas para defender a
honra de Daniel, seu amigo desde
a faculdade, e de Carvalho.
"Também achei estranho Carvalho me contar isso, mas ele me
contou. Contou três vezes. Falou
que, com muito medo, pegava seu
Corsa preto e entregava o dinheiro para o então deputado José
Dirceu", disse João Francisco.
Segundo ele, Daniel sabia do esquema de propina e permitia que
o dinheiro fosse para o PT, mas
revolveu rompê-lo após descobrir
que parte das quantias ficava com
o empresário Sérgio Gomes da
Silva (denunciado como o mandante do assassinato), com o ex-vereador do PT Klinger Luiz de
Oliveira e com o empresário do
setor de transporte e coleta de lixo
Ronan Maria Pinto.
Todos negam a existência do
suposto esquema. "Quando ele
[Daniel] ficou sabendo que esse
grupo estava enriquecendo de
maneira estratosférica, ele realmente tentou brecar aquele tipo
de coisa", afirmou João Francisco.
Carvalho, em depoimento ao
Ministério Público, confirmou
que ele enviou a Daniel documentos sobre as empresas dos três homens citados por João Francisco.
Ele acredita que o grupo teria
descoberto a intenção do prefeito
de romper o acordo e, por isso,
encomendou a morte, na versão
do irmão apresentada ontem à
CPI. João Francisco criticou a atitude adotada à época do crime pelo deputado federal Luiz Eduardo
Greenhalgh (PT-SP), que acompanhou a investigação da polícia.
O deputado sempre defendeu a
tese de crime comum e disse que
Daniel não havia sido torturado.
O perito Carlos Delmonte Printes, no entanto, primeiro a analisar Daniel, disse que o prefeito foi
torturado. Disse ter sido "censurado" durante três anos.
Roseana Garcia, viúva do prefeito de Campinas Antônio Costa
dos Santos, o Toninho do PT, assassinado em setembro de 2001,
assistiu ao depoimento. Segundo
ela, seu marido também foi vítima
de um "crime político".
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