São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ CASO SANTO ANDRÉ

Na CPI dos Bingos, João Francisco Daniel relata que Gilberto Carvalho, assessor de Lula, levava dinheiro de empresas para Dirceu

Irmão de Daniel reitera acusação de propina

LILIAN CHRISTOFOLETTI
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

O oftalmologista João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel (PT), disse ontem em depoimento à CPI dos Bingos que Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou a ele, por três vezes, que recebia propina de empresas e repassava o dinheiro ao deputado José Dirceu (PT-SP).
A afirmação já havia sido feita por ele em depoimento ao Ministério Público, mas, ao ser repetida durante a sessão, causou desentendimentos entre os senadores. José Jorge (PFL-PE) cobrou a demissão imediata de Carvalho. O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), disse que é uma das "denúncias mais consistentes recebidas pela comissão" e que, devido à acusação, "não tardará" o depoimento de Dirceu, cuja convocação já foi aprovada.
Os governistas Tião Viana (PT-AC), Flávio Arns (PT-PR), Aloizio Mercadante (PT-SP) e Eduardo Suplicy (PT-SP) saíram em defesa do chefe-de-gabinete.
Daniel foi morto em 20 de janeiro de 2002. Dois dias antes havia sido seqüestrado. Para a Promotoria, o crime tem ligação com o suposto esquema de propina que havia na prefeitura da cidade.

Marta
No depoimento, João Francisco afirmou que o dinheiro da propina da Prefeitura de Santo André abasteceu a campanha de Marta Suplicy, que disputava o governo de São Paulo pelo PT, e a do presidente Lula. Mercadante reagiu: "Se Celso Daniel estivesse vivo, ele estaria aqui defendendo o Gilberto, que era o maior amigo dele", afirmou. O senador disse que foi à comissão apenas para defender a honra de Daniel, seu amigo desde a faculdade, e de Carvalho.
"Também achei estranho Carvalho me contar isso, mas ele me contou. Contou três vezes. Falou que, com muito medo, pegava seu Corsa preto e entregava o dinheiro para o então deputado José Dirceu", disse João Francisco.
Segundo ele, Daniel sabia do esquema de propina e permitia que o dinheiro fosse para o PT, mas revolveu rompê-lo após descobrir que parte das quantias ficava com o empresário Sérgio Gomes da Silva (denunciado como o mandante do assassinato), com o ex-vereador do PT Klinger Luiz de Oliveira e com o empresário do setor de transporte e coleta de lixo Ronan Maria Pinto.
Todos negam a existência do suposto esquema. "Quando ele [Daniel] ficou sabendo que esse grupo estava enriquecendo de maneira estratosférica, ele realmente tentou brecar aquele tipo de coisa", afirmou João Francisco.
Carvalho, em depoimento ao Ministério Público, confirmou que ele enviou a Daniel documentos sobre as empresas dos três homens citados por João Francisco.
Ele acredita que o grupo teria descoberto a intenção do prefeito de romper o acordo e, por isso, encomendou a morte, na versão do irmão apresentada ontem à CPI. João Francisco criticou a atitude adotada à época do crime pelo deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), que acompanhou a investigação da polícia. O deputado sempre defendeu a tese de crime comum e disse que Daniel não havia sido torturado.
O perito Carlos Delmonte Printes, no entanto, primeiro a analisar Daniel, disse que o prefeito foi torturado. Disse ter sido "censurado" durante três anos.
Roseana Garcia, viúva do prefeito de Campinas Antônio Costa dos Santos, o Toninho do PT, assassinado em setembro de 2001, assistiu ao depoimento. Segundo ela, seu marido também foi vítima de um "crime político".


Texto Anterior: Geap contesta relatório sobre movimentações
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.