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CONTAS DO PLANALTO
Casa Civil admite notas frias em compras com cartões
EDUARDO SCOLESE
ANA FLOR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma sindicância interna aberta
pela Casa Civil constatou que a
empresa FR Comércio Serviço e
Representação Ltda. emitiu pelo
menos 24 notas frias, no valor de
R$ 11 mil, em compras do Palácio
do Planalto realizadas por meio
de cartões corporativos da Presidência da República, que são objetos de uma auditoria no Tribunal de Contas da União.
As notas foram emitidas entre
junho de 2002 e outubro de 2004
para a compra de materiais de escritório, como cartuchos de impressora, para a Secretaria de Comunicação de Governo. De acordo com a Casa Civil, existem comprovantes do recebimento dos
materiais na Secom.
Nos arquivos do Planalto, há 42
notas fiscais referentes à empresa,
sendo 24 delas consideradas falsas. Ontem, por meio de nota, a
Casa Civil informou que o resultado da sindicância será encaminhado à Secretaria da Receita Federal e ao Ministério Público Federal para eventuais crimes de sonegação fiscal.
Segundo a Casa Civil, a sindicância interna que foi aberta para
apurar a existência de notas frias
na prestação de contas de saques
em dinheiro dos cartões corporativos constatou que a FR Comércio Serviço e Representação forneceu materiais a Secom entre
2000 e 2004 e que existem registros de funcionários da Secom, do
então ministro Luiz Gushiken,
"atestando o recebimento dos
materiais referentes à FR Comércio Serviço e Representação".
A partir de agora, a sindicância
vai apurar, por exemplo, a eventual conivência do funcionário
responsável pelas compras desse
porte na Secom e se realmente tais
produtos foram entregues.
A sindicância da Casa Civil teve
o apoio do governo do Distrito
Federal, por meio da Secretaria de
Fazenda. "Em resposta à solicitação da Casa Civil da Presidência
da República, a Secretaria da Fazenda do Distrito Federal informou que a empresa emitiu notas
fiscais inidôneas desde junho de
2002", diz a nota. Ontem, a Casa
Civil não soube informar os motivos que levaram a empresa a ter
suas notas sob o rótulo de "inidôneas". É possível que estivesse,
por exemplo, com sua situação irregular na Receita local.
De acordo com as notas fiscais,
o Planalto recorreu a uma pequena empresa instalada a cerca de 45
quilômetros da Esplanada dos
Ministérios para suprir a falta de
cartuchos para impressoras e outros materiais de escritório do
Planalto, o que chamou a atenção
de técnicos do gabinete do senador Álvaro Dias (PSDB-PR), que
denunciou o fato na CPI dos Correios.
Na semana passada, em entrevista à Folha, o dono da FR, Francisco Pereira Ramalho, disse que
vende de tudo: "roupa, móveis
para escritório, material de limpeza, material de informática", além
de alimentos. O registro da empresa na Receita Federal informa
que ela comercializa alimentos.
Em contato com funcionários do
gabinete de Álvaro Dias, Ramalho
teria dito que não vendeu os cartuchos, mas apenas forneceu a
nota fiscal a uma pessoa chamada
Edilson.
As notas fiscais aparecem entre
as comprovações de gastos de
uma das portadoras de cartão
corporativo do Presidência, como
o nome Maria da Penha Pires. Em
dinheiro vivo, ela sacou, em 2004,
R$ 74 mil. Os cartões são responsáveis por mais de R$ 20 milhões
em gastos desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
em janeiro de 2003.
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