São Paulo, sexta-feira, 02 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ XADREZ PARTIDÁRIO

Aliados de Marta, que detêm cerca de 20% dos votos na capital, podem apoiar Valter Pomar, temendo que ex-ministro favoreça Mercadante

Disputa pelo governo de SP ameaça Berzoini

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A disputa entre a ex-prefeita Marta Suplicy e o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, está debilitando a candidatura do secretário-geral do PT, Ricardo Berzoini, à presidência do partido. Com aproximadamente 20% dos votos em São Paulo, a corrente PTLM (PT de Luta e de Massas) -base de Marta na cidade- decide, na segunda-feira, se apóia Valter Pomar, da Articulação de Esquerda, no confronto nacional.
A resistência a Berzoini não está restrita ao PTLM, mas invade o próprio Campo Majoritário. Hoje, quatro vereadores paulistanos do Campo apresentam à corrente uma proposta de reabertura da discussão do nome de seu candidato. Ontem, numa reunião 8 dos 12 vereadores do PT de São Paulo iniciaram a rebelião, quatro do PTLM e quatro do Campo.
Candidato do PTLM em São Paulo e secretário do governo Marta, Jilmar Tatto admite que a tendência é de voto em Pomar, embora ainda não esteja oficializado: "esse é o caminho". Além de críticas aos métodos na escolha de Berzoini, ele reconhece que a afinidade de Pomar com Marta será ingrediente na decisão.
Pomar -que chegou a criticar Mercadante depois de o líder ameaçar deixar o partido em meio ao escândalo do "mensalão"- é franco. "Ainda não deliberamos sobre a questão. Mas é verdade que existe simpatia de muitos militantes da Articulação de Esquerda à candidatura de Marta", disse.
Na noite de quarta-feira, Pomar se reuniu com integrantes do PTLM para costurar uma aliança no plano nacional. Hoje, membros da tendência se encontrarão com Berzoini, que também conversou ontem com representantes de Marta dentro do Campo Majoritário.
O problema está no próprio Campo, onde há quem até defenda o voto em branco. "Pomar tem defendido melhor o governo Lula do que muitos integrantes do Campo Majoritário", queixa-se o líder do PT na Câmara Municipal, João Antônio, numa menção às críticas de Berzoini à política econômica do governo.
"Queremos uma direção mais sintonizada com a base do partido, sem bonapartismo", reivindica o vereador Zé Américo.
Ontem, 8 dos 12 vereadores do PT em São Paulo se rebelaram, chegando a elaborar uma nota em que pregavam a troca do candidato do Campo à presidência do PT.
Sob o argumento de que não foram ouvidos e que o presidente do partido não deve criticar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, eles chegaram a apresentar dois outros nomes -do presidente estadual do PT, Paulo Frateschi, e do ex-secretário de Direitos Humanos Nilmário Miranda- para a disputa. Mas, segundo o vereador Paulo Fiorilo, no fim da noite, desistiram de divulgar a nota.
As restrições aos critérios e o medo de que beneficie Mercadante não são as únicas críticas a Berzoini. Há a preocupação de que conquiste a base eleitoral de outros deputados, ampliando seu poder, às custas da presidência.
Outro ponto de discórdia é a defesa de Berzoini pelo afastamento dos acusados de envolvimento no "mensalão" da chapa do Campo.
Juntos, os grupos amotinados representam cerca de 10% do número estimado de votantes em todo o país (cerca de 120 mil) e podem levar a disputa para um segundo turno. A ex-prefeita Marta Suplicy não vem participando diretamente das articulações, pois está em viagem a Europa.


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